Saiba quais crimes o pai responderá. PC já finalizou o inquérito
CARATINGA/SANTA BÁRBARA DO LESTE – A Polícia Civil concluiu nesta sexta-feira (2), o inquérito sobre o caso do garoto Elias Emanuel Martins de Leite, de seis anos, que foi torturado pelo pai Werlei Francisco de Oliveira, no último dia 27, e que depois acabou falecendo. A investigação foi presidida pelo delegado Victor Gonçalves Castor.
Durante entrevista coletiva, o delegado regional Ivan Sales explicou que ficou concluída que a primeira linha investigativa da Polícia Civil no sentido de que a criança foi torturada. “Ao longo da investigação conseguimos juntar documentos, ouvir testemunhas, que nos fez confirmar que a vítima havia sendo torturada há um bom tempo. O laudo necroscópico apontou que a causa da morte foi traumatismo crânio encefálico contuso, e que no corpo da vítima havia diversas lesões, o que demonstra que a vítima estava passando por intenso sofrimento físico. como castigo, há muito tempo. O pai torturava a criança como forma de castigo, e infelizmente nesse episódio, no dia 27, acabou ocasionando a morte da vítima”, explicou o delegado.
Ainda segundo o delegado Ivan Sales, ao longo da investigação, a Polícia Civil conseguiu apurar que o suspeito mantinha relacionamento sexual com a atual companheira desde que ela tinha 12 anos. “Em razão da comprovação nos autos de que essa vítima, companheira dele, tinha apenas 12 anos quando eles passaram a se relacionar, a Polícia Civil também indiciou o suspeito pelo crime de estupro de vulnerável, pois há uma súmula do Superior Tribunal de Justiça, no sentido que havendo conjunção carnal ou outro ato libidinoso, com menor de 14 anos, ainda que a vítima consinta na relação, ainda que a vítima tenha experiência sexual, ou que ela tenha relacionamento com o agente, não desconfigura o crime de estupro de vulnerável. Entende-se que uma pessoa menor que 14 anos, não tem capacidade para aquiescer na relação sexual. E nesse caso restou comprovado que a vítima tinha apenas 12 anos, e já mantinha relação, tendo o suspeito conhecendo essa circunstância, ou seja, o suspeito sabia que tratava-se de uma criança com 12 anos. Então a polícia civil conclui as investigações indiciando o suspeito pelo crime de tortura qualificada, pelo resultado morte, e pelo crime de estupro de vulnerável com majorado, em razão da vítima ser companheira dele”, disse o regional.
PAI CONFESSA AGRESSÕES
O delegado Ivan Sales disse que o pai do menino confessou as agressões, mas não confessa da forma como efetivamente ocorreu. “Ele alega que ingeriu cachaça e foi ensinar a tarefa para o filho. E quando a criança não compreendeu a tarefa que era para ser realizada, ele alega que deu um tapa no filho, e que o filho começou a lacrimejar. A partir daí ele alega que deu uma rasteira, que a criança desequilibrou e bateu com a cabeça na quina de um rack, vindo a ficar inconsciente. Essa é alegação dele, só que a investigação demonstrou que na verdade a criança sofreu não só agressão esporádica, o que já estaria errado, mas que ela vinha a um bom tempo recebendo intensa violência pelo genitor, como forma de aplicar castigo. Então o pai, como forma de mostrar autoridade para criança, vinha a agredindo há um bom tempo”, ressaltou Ivan Sales.
Ivan disse ainda que foi possível comprovar nos autos, um prontuário médico de fevereiro de 2020, onde a vítima deu entrada para atendimento médico com várias lesões. “É um crime que nos chocou, uma criança que sofreu com a perda precoce da mãe, que deveria receber mais carinho, mas pelo contrário, passou o resto dos anos sendo torturada”.
Durante oitiva, outro fato que segundo o delegado, o deixou chocado, foi que a única preocupação que o suspeito tinha era de não ser preso, não queria saber o estado de saúde da vítima, e não demonstrava arrependimento.
ALERTA
Diante desse grave caso, o delegado Ivan Sales disse que é muito importante que a sociedade como um todo passe a verificar em volta se uma criança mudou o comportamento e procurar os órgãos do estado. “Nesse caso, a criança era agredida pela própria família, e não tinha a quem procurar. Tenho convicção que se a vítima não tivesse ficado naquele estado grave, a sociedade nem saberia que ela tinha sido agredida, só veio a público por conta desse acontecimento gravíssimo. É preciso que a sociedade nos procure, porque a polícia vai apurar todo fato que chegar”.
VELÓRIO E SEPULTAMENTO
E a triste trajetória de Elias teve fim na tarde desta sexta-feira (2), quando ele foi velado e sepultado em Santa Bárbara do Leste. O menino teve morte cerebral na última segunda-feira (28), e os aparelhos se mantiveram ligados até a doação de seus órgãos. Alguns parentes, amigos e professoras de Elias foram se despedir do pequeno.
Kênia Soares de Oliveira, professora de Elias no primeiro período, afirmou que ele nunca teve comportamento diferente, que gostava de brincar, e ficava feliz quando conseguia escrever o nome dele. “Apesar dos problemas era um menino alegre, contava que a mãe tinha morrido, mas era um menino maravilhoso. Foi muito difícil receber uma notícia, assim (lágrimas), a gente pensa nos filhos e sobrinhos. Não existe espancar uma criança por não saber a tarefa, tenho filho que depende de mim para explicar”, contou Kênia.
Maria de Fátima Carvalho, professora no segundo período, contou que Elias era um menino calmo, tranquilo, carinhoso, e tinha um bom relacionamento com todos. “É muito triste, quando ficamos sabendo na creche, foi muito revoltante”, lamentou a professora.
MADRASTA DE ELIAS ACUSA AVÓ MATERNA DE MAUS-TRATOS. ELA NEGA E AFIRMA QUE FEZ TUDO PELO NETO
Na edição de 30 de junho de 2021, o DIÁRIO publicou a matéria ‘Revolta e dor com a morte de menino espancado pelo pai’. Nessa reportagem, Nivaldo Fonseca de Souza, que foi casado com a avó materna de Elias, fez algumas ponderações sobre o pai de Elias. Diante das afirmações, a esposa de Werlei, que tem 18 anos, entrou em contato por telefone com a reportagem do DIÁRIO DE CARATINGA, para acusar a avó materna de Elias, de maus-tratos contra o garoto. A jovem pediu que seu nome não fosse publicado, para preservar a filha pequena que tem com Werlei.
A esposa do suspeito disse que o relacionamento entre pai e filho era bom, e que toda a família percebia que Werlei tratava o menino bem, com carinho e amor. “Portanto a avó que o trouxe para ficar com a gente. Meu esposo não ficava rodeando a casa da Aparecida (avó materna de Elias), ele trabalhava na concreteira, saía 5 horas e só chegava por volta das 20h. Elias estava com a gente desde abril. Sou casada com Werlei há seis anos. Nesses seis anos, Elias não frequentava muito a nossa casa, porque Werlei não sabia que o menino era seu filho, ele descobriu através de exame de DNA, em novembro de 2017. Daí pra cá ele vinha passar os finais de semana com a gente, ficava tudo bem. A avó dele que vinha atrás do meu esposo. Nunca vi Werlei sendo agressivo com Elias, ele sempre foi carinhoso com o filho dele, porque estou com ele há seis anos e conheço o coração dele”.
Questionada se Werlei teria machucado Elias há dois anos, como uma testemunha disse à justiça, a mulher disse que não aconteceu.
“Desta vez eu tinha saído, não estava na casa, mas ele tinha ingerido bebida alcoólica, ninguém entendeu, temos uma filha juntos, ele tratava os dois da mesma forma. Acho que ele se exaltou por causa da bebida, o menino estava fazendo corpo mole para fazer a tarefa, ele não fez isso porque quis, foi por causa da bebida, não tem justificativa, mas não foi porque ele quis. A avó de Elias falou que não aguentava mais o menino, que não o conseguia olhar mais, que era muito teimoso, portanto pois pimenta na boca dele para ele comer, tentou enforcar ele. Isso foi o próprio Elias que falou comigo, porque ele era muito aberto comigo, confiava muito em mim, me chamava de mãe, e disse assim: ‘minha avó pegou no meu pescoço e falou que vai me mostrar o capeta’”, disse a mulher.
A jovem disse que Werlei sempre foi carinhoso e nunca deixou faltar nada em casa e que se estivesse em sã consciência nunca teria agredido o menino, e que chegou a falar com Aparecida que não teria tempo para cuidar dele. “Ele (Werlei) teve que faltar um dia de serviço para ir ao conselho tutelar, perguntou para Aparecida se ela queria mesmo entregar o Elias, disse que cuidaria do filho com carinho, mas que não tinha tempo. Ela não estava aguentando ele, e disse que se o pai não quisesse, entregaria para o orfanato, para o juizado de menor. Ela que quis entregar ele, admitiu que não queria cuidar dele mais, ela tinha a guarda provisória dele. Meu esposo estava bem, ela que correu atrás da gente, ficou falando para ele ligar pro conselho tutelar e ver como pegaria ele. Meu esposo não foi buscar o menino, ele foi uma vez só comprar as coisas para ele comer e deixar o dinheiro da pensão. Ele sonhava em ter a guarda do filho dele, queria ter os dois filhos juntos”.
Muito debilitada e triste pelo ocorrido, também através de contato telefônico, Maria Aparecida Martins, avó materna de Elias, disse que jamais fez algo contra o seu neto. “Era meu menino, jamais enforcaria, jamais faria essas coisas. Criei o menino desde o ventre da mãe, fiz de tudo, não tem explicação essa mulher estar falando isso. Eles iludiam o menino, inclusive ele a chamava de mãe. O pai dizia que amava o menino o tempo todo. Morei em Santa Bárbara em vários lugares, nunca ninguém me viu fazer qualquer coisa com o menino. Nunca judiei do menino, ela não tem prova, ele nunca foi pra lá roxo ou com alguma marca, ela é louca, cúmplice dele, porque via e não falava nada, tinha meu número e não entrava em contato comigo. Nesse momento tão difícil ela quer acoitar o marido dela, aquele monstro, não estou nem conseguindo falar sobre isso. O menino corria no terreiro brincava, ele só queria o pai, dizia que amava o pai. Ela não pode falar o que não tem prova. Nunca fiz nada contra meu neto, fazia tudo que podia dentro das minhas condições (lágrimas). Procurei fazer pra ele mais que pra minhas filhas, queria dar a ele uma vida melhor, só isso, uma família, um pai, porque ele via os coleguinhas dele e como eu não podia ficar saindo com ele para brincar, eu me sentia impotente, nunca deixei de amar uma criança que criei, eu só queria dar a ele um pai”, conclui Aparecida.
- Delegados Victor Gonçalves, que conduziu a investigação, e o regional Ivan Sales
- Professora Maria de Fátima
- Professora Kênia