João Paulo Paiva Ramos é presidente da Rede Leste de Bancos de Alimentos, que se tornou referência para outros países
DA REDAÇÃO- João Paulo de Paiva Ramos, presidente da Rede Leste de Bancos de Alimentos (RELBA) representou a região, Minas Gerais e o Brasil no Seminário Internacional de Bancos de Alimentos e Segurança Alimentar, que aconteceu no mês de setembro, em Santiago, no Chile.
A RELBA faz parte da Rede Brasileira dos Bancos de Alimentos que, por sua vez, se insere dentro das políticas públicas de segurança alimentar e nutricional do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). Trata-se de uma estratégia que visa reduzir perdas e desperdício de alimentos e promover o direito humano à alimentação adequada, mediante a integração entre os bancos. Confira a entrevista com João Paulo:
Como surgiu o convite para participação deste Seminário Internacional e qual foi a participação da RELBA?
A construção desse diálogo começou com um evento que a gente participou no ano passado em Bogotá, na Colômbia, organizado pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), que é a agência da ONU (Organização das Nações Unidas) que cuida agricultura e alimentação no mundo todo. E o Chile sediou esse primeiro seminário latino-americano. Esse evento para nós foi muito importante a nível de Brasil, principalmente para Minas Gerais e para a nossa região porque não só discutiu o Banco de Alimentos, mas também discutiu outras questões relacionadas a mudanças climáticas, aberturas comerciais. Foi um evento que tratou o Banco de Alimentos como foco, porém, teve assuntos correlatos. Essa questão mesmo das mudanças climáticas, é uma realidade. A gente está vendo isso mesmo. Essa irregularidade já nas chuvas, esse medo. Um exemplo que, alguns anos, o pessoal pode lembrar bem. Nessa época, o milho já estava bem crescido. Esse ano, agora, o pessoal está pensando em plantar, mas está com muito medo do índice pluviométrico. E a RELBA participou porque nós criamos nesse evento a rede latino-americana, porque vai ter banco de alimentos no Canadá, Estados Unidos, México, de todas as Américas. E o foco é reunir todos os dirigentes de banco das Américas para discutir ações conjuntas, facilidade de dialogar com os governos locais, seja nacionais ou municipais, e abrir realmente portas para os municípios onde têm banco de alimentos.
E a RELBA acaba sendo um modelo para esses países…
Sim, hoje nós somos a terceira maior rede do mundo. A gente só perde para a rede europeia, que tem mais de 400 bancos de alimentos, porque pega a internacionalização de Portugal, Espanha, então, são tratados como uma única rede, não redes locais. E, depois da rede europeia, vem a rede mexicana. A rede mexicana hoje tem 58 bancos, nós temos 54. A gente tem até brincado dentro da RELBA que está uma disputa Brasil-México. Se a gente conseguir mais cinco, a gente vira e nos tornamos a segunda maior. Nós passamos a Colômbia, que hoje é a terceira maior rede do mundo, mas a Colômbia tem 36 bancos de alimentos.
Segurança alimentar e combate à fome têm sido assuntos bastante em evidência nos países.
Sim, essa questão da segurança alimentar mesmo está sendo, inclusive, discutida na reunião dos BRICS, porque é uma questão não só social e ambiental, mas também estratégica de segurança pública e nacional. Revoltas sociais, revoluções, tudo tem como base a questão da fome. E quando você começa a discutir segurança alimentar, você não discute apenas da comida, mas, você discute também a produção de água, de alimentos, as estradas para escoamento dessa produção. Você discute também a questão sanitária dos alimentos, tanto sanidade em relação a bactérias, quanto a questão sanitária em relação a agrotóxicos. Então, existe toda uma cadeia que hoje tem sido discutida de maneira geral.
Qual a estrutura hoje da RELBA?
Somos 54 bancos em 54 municípios. Estamos trabalhando muito com esses bancos a questão das organizações das marcas legais municipais, com relação ao SIM, que é o Serviço de Inspeção Municipal. Nós temos trabalhado muito com os bancos de alimentos, no sentido de incentivar realmente a captação junto a produtores rurais, junto ao comércio local. Por que? Vou dar um exemplo aqui. Se um supermercado descarta um alimento que está apto a consumo humano, aquele alimento vai gerar gás carbônico, aumentar a poluição. Mas se aquele supermercado doa para um banco de alimentos e o banco de alimentos dá um tratamento mínimo naquele alimento, e doa ele para uma pessoa, para a instituição, que trata de pessoas carentes, a gente vai estar resolvendo dois problemas aqui. Primeiro que aquele alimento apto a consumo humano, ele vai chegar para quem precisa e segundo que a gente vai estar de certa maneira contribuindo para a minimização da emissão de gás que causa um efeito estufa, que tem causado tanto problema como a gente tem percebido aí.
Você acabou de voltar de um evento internacional. Quais são as expectativas para 2025?
O Brasil vai sediar a segunda fase desse evento, vai ser em Minas Gerais. No dia 11 agora tem até uma reunião com a secretária de Estado e Desenvolvimento Social, Alê Portela, que a gente está discutindo como que Minas Gerais vai sediar isso. No final de novembro, a gente está indo para Brasília discutir com o governo federal, porque é um evento não só do leste de Minas Gerais, mas, do Brasil. Vai ser a primeira vez em nível de Brasil que a gente vai receber prefeita de Los Angeles, representantes de Nova Iorque, prefeitura de Chicago, de Seattle, Guadalajara, Buenos Aires, enfim, de todas as Américas para estar discutindo combate à fome, banco de alimentos e também a questão comercial, oportunidades para novos negócios e abertura para a agricultura na nossa região.
Quais são suas considerações finais?
O Brasil é referência em termos de segurança alimentar lá fora. E para nós, principalmente para mim, que sou caratinguense é um orgulho a gente poder chegar lá fora, levar a bandeira da RELBA, poder falar realmente que somos brasileiros, de Minas Gerais, da região de Caratinga e estamos aqui para poder realmente abrir a nossa região leste para o mundo. Uma coisa que a gente tem que pensar é que ninguém vive sozinho, não somos ilhas. Quanto mais integrados a gente tiver, maior a nossa possibilidade de crescimento e maior a nossa possibilidade de sucesso.