CARATINGA – Inclusão escolar, um termo bastante difundido no contexto educacional nos dias de hoje, que significa acolher todas as pessoas, sem exceção, no sistema de ensino, independentemente de cor, classe social e condições físicas e psicológicas. O termo é associado, de forma mais comum, à inclusão educacional de pessoas com deficiência física e mental. Mas não é só isso, não! Quem vive na prática, o pai ou a mãe que tem um filho que não rende na escola, sabe que essa é uma situação que nem sempre está ligada a este tipo de deficiência.
Essas dificuldades observadas no ensino e a necessidade de encontrar soluções, tanto em termos estruturais, quanto da prática do dia a dia da escola, alcançam instituições de ensino que se preocupam com a luta pelas melhorias e pela inclusão de fato. O Centro Universitário de Caratinga (UNEC) passa a oferecer Serviços de Apoio Educacional Especializado (AEE) aos filhos de seus funcionários matriculados nas escolas públicas e privadas que apresentem dificuldades para aprender os conteúdos escolares ensinados nas escolas de educação básica, especialmente os que cursam a educação infantil ou o ensino fundamental.
O serviço será realizado pelos alunos do curso de Pedagogia no Laboratório de Ensino do UNEC e acontecerá em etapas. Na primeira etapa será feito um diagnóstico psicopedagógico inicial e um relatório com indicações de ações educativas que a família e a escola em que o filho estuda podem realizar. As etapas seguintes terão a participação de estagiários do curso de Pedagogia, sob a supervisão e orientação de professores do curso, que irão aplicar as intervenções psicopedagógicas nas áreas de desenvolvimento da linguagem oral, desenvolvimento psicomotor, alfabetização e letramento e desenvolvimento cognitivo, desde as deficiências detectadas na primeira etapa do trabalho, que é multidisciplinar, até os resultados finais.
A reportagem ouviu algumas especialistas no assunto. A psicopedagoga e psicóloga, Lucimar Stocker, por exemplo, que atende em consultórios e presta serviço especializado em escolas, defende o seguinte posicionamento acerca do assunto: “Muitos fatores estão envolvidos nessa nova realidade da inclusão e eu destacaria uma característica muito importante: a potencialidade, ou seja, a capacidade que cada sujeito possui. Deve-se dar ênfase à valorização do potencial e não às dificuldades que enfrentam. É preciso, em relação à inclusão, a predominância das qualidades, sejam elas quais forem. E, consequentemente o processo educativo se torna significativo e prazeroso”.
Outra questão que ela destaca é a humanização, independentemente dos aspectos legais. “O sujeito com necessidades especiais não vem “só”, tem todo um contexto que o envolve. Por trás disso, há uma família que sofre porque não sabe lidar e/ou como cuidar, afinal, nenhum pai ou mãe está preparado para ter uma criança com necessidades especiais, e os mesmos não vieram com manual. É preciso, de fato, abraçar a causa e acolher essa família e suas perspectivas, sejam elas negativas ou positivas”.
Stocker ressalta que é necessário compartilhar uma visão positiva do ser humano e de suas habilidades. “Na sociedade atual em que predomina a competição, o egoísmo, o individualismo, valores se tornam mais difíceis, a aceitação de quem tem dificuldades e o lidar com o diferente. Precisamos pensar em uma educação que vise muito além da formação do fazer, mas uma educação do ser”, ela compara.
DIRETORA DO ISE/UNEC DETALHA O ASSUNTO
O AEE está diretamente ligado às atividades coordenadas pelo Instituto Superior de Educação do UNEC, sob a responsabilidade da professora Celeste Aparecida Dias de Souza. Entrevistamos a diretora do ISE, que detalha o assunto. Acompanhe o pingue-pongue:
A senhora consegue mensurar as deficiências ou características de problemas peculiares entre os estudantes de ensino básico na atualidade?
A partir da década de 2000, com a obrigatoriedade da inclusão de crianças com todos os tipos de síndromes e deficiências nas escolas regulares, é possível encontrar dentro das escolas públicas e privadas, todas as síndromes e deficiências próprias dos seres humanos, já que cerca de 97% das crianças com idade entre 7 e 11 anos estão matriculadas nas escolas brasileiras. De acordo com a localização e o contexto cultural das escolas, esse número de crianças pode variar entre 10% e 30%. Esses percentuais são estimativas feitas a partir de minhas experiências de mais de 20 anos de acompanhamento desse público nas escolas. Mas, atualmente, os maiores desafios vividos pelos professores para conseguirem o sucesso da aprendizagem dos alunos não são essas crianças com diagnóstico de síndromes ou outros tipos de deficiências. Seus desafios estão com as crianças e adolescentes que não têm diagnóstico clínico, mas que não conseguem aprender os conteúdos escolares ensinados e, geralmente, apresentam também comportamentos que não facilitam essa aprendizagem.
E os professores, como se sentem diante dessa situação?
Os professores sentem-se, geralmente, muito solitários no exercício de sua profissão, sem uma parceria profissional que lhes ajude a compreender e fazer intervenções adequadas na promoção da aprendizagem e do desenvolvimento desses alunos. O pedagogo é esse profissional parceiro dos professores para fazer a avaliação psicopedagógica e traçar os planos de intervenção didáticas e pedagógicas que a escola e as famílias podem realizar para apoiar a aprendizagem e o desenvolvimento desses alunos. Além disso, é ele também o responsável por fazer os encaminhamentos desses alunos para o diagnóstico multiprofissional, em parceria com a área de saúde e, se necessário, com a área do serviço social.
Como se dará, na prática, esse apoio do AEE aos filhos de funcionários do UNEC? Eles trarão as dúvidas apontadas e elas serão solucionadas como um reforço escolar, digamos assim?
Este serviço vai ser realizado no Laboratório de Ensino do Curso de Pedagogia, que funciona no Campus I, sala 215, por alunos deste curso sob a supervisão de seus professores, e acontece em três etapas: 1ª – quando é feito o diagnóstico psicopedagógico inicial e a família recebe o relatório circunstanciado com indicações de intervenções educativas que a família e a escola onde o filho estuda podem realizar. Além disso, nessa primeira etapa, poderá haver indicações de investigações complementares, a serem realizadas por profissionais da área de saúde; 2ª – realizada pelos estagiários do curso de Pedagogia sob a supervisão e orientação de professores, e o plano de intervenções psicopedagógicas nas áreas de desenvolvimento da linguagem oral, desenvolvimento psicomotor, desenvolvimento cognitivo e alfabetização e letramento é definido de acordo com o diagnóstico elaborado na primeira etapa. Dependendo da urgência de cada caso, nós marcaremos duas ou três seções semanais de atendimento, com duração de quarenta minutos a uma hora. Enfatizamos que não é reforço escolar e, sim, intervenções psicopedagógicas.
Qual a diferença entre essas duas atividades profissionais do pedagogo?
O reforço escolar é atribuição do professor que, no caso da Educação Infantil e dos anos iniciais, é um profissional formado dentro do curso de Pedagogia. E as ações didáticas têm a finalidade de promover a aprendizagem dos alunos. Tanto que as atividades de aprendizagem realizadas no reforço escolar têm muita semelhança com as atividades de aprendizagem de sala de aula regular. Já as atividades dos profissionais que farão as intervenções psicopedagógicas têm a finalidade de promover o desenvolvimento dos alunos naquelas áreas em que o diagnóstico psicopedagógico indica algum tipo de atraso, como por exemplo, na área da linguagem oral, na área psicomotora ou na área cognitiva, por exemplo. Quem faz intervenções psicopedagógicas realiza atividades de monitoramento tanto do desenvolvimento quanto da aprendizagem dos alunos e quem faz reforço escolar, trabalha somente com a aprendizagem.
E a terceira etapa?
Na terceira etapa é feita a reavaliação periódica com a finalidade de verificar o desenvolvimento do aluno após as intervenções psicopedagógicas realizadas. As três etapas evidenciam que é um trabalho contínuo que é reavaliado a cada salto no desenvolvimento do aluno para replanejar as intervenções da nova fase de seu desenvolvimento.
Como os interessados podem ter acesso ao serviço?
Os interessados podem entrar em contato pelos telefones 3322-7900 (ramais 7980 e 7923) e agendar a primeira avaliação no Laboratório de Ensino do curso de Pedagogia para os seguintes horários de 8h às 12h ou das 14h às 17h30.