No último dia 25 de janeiro, o mundo assistiu à reedição de uma tragédia, em Minas Gerais: o rompimento de uma barragem da Mineradora Vale do Rio Doce, uma transnacional brasileira, considerada a maior empresa de extrativismo mineral do mundo. Centenas de mortes e milhares de vidas destruídas.
Uma tragédia anunciada. Há três anos, o rompimento da Barragem de Fundão, também pertencente à Vale, deixou 19 mortos, centenas de desabrigados e espalhou lama no Rio Doce e no Oceano Atlântico, sendo considerado, na época, o maior desastre ambiental do país.
Depois da ocorrência de Mariana, o mínimo que se esperava da empresa e das autoridades responsáveis, seria um pouco mais de cuidado com esse arcaico sistema de retenção de resíduos da atividade de mineração. No entanto, o que se viu, foi um aglomerado de ações irresponsáveis, advindas de todos os lados.
O Governo do Estado de Minas Gerais, através de sua Secretaria de Meio Ambiente, em dezembro de 2017, alterou as regras que definiam riscos ambientais para algumas barragens, entre elas, a barragem da Vale que provocou esta tragédia. Especialistas e ambientalistas alegam que não foram ouvidos, devidamente, na época e que o risco potencial de rompimento daquela estrutura foi informado às autoridades competentes.
A Vale do Rio Doce não deve ter feito qualquer mapeamento de risco potencial de rompimento, pois, se o tivesse feito, jamais poderia construir sua estrutura administrativa justamente na linha de passagem do resíduo, como aconteceu.
Empresa e governo acumularam irresponsabilidades, enquanto os trabalhadores e a população da região de Brumadinho colheram sofrimentos. Difícil sentir toda a dor que os familiares e amigos, de centenas de mortos, estão sentindo. Alguns corpos jamais serão encontrados… Mas, dá para imaginar… Basta colocar, no lugar das vítimas, um filho, uma mãe, um irmão, enfim, um parente ou um amigo.
As pessoas estavam trabalhando, algumas almoçando e, outras, descansando. De repente um mundo de lama caiu sobre eles, levando sonhos, soterrando planos e deixando um rastro de destruição e dor. Não, não estamos falando de uma fatalidade. Estamos falando de um crime, do assassinato de centenas de pessoas e de incontáveis malefícios, à natureza.
Quanto vale uma vida? Para a Vale, certamente vale pouco. Ainda mais, agora, que a indenização trabalhista foi reduzida, drasticamente, na última reforma… Quantos aos sonhos que se foram, e a dor dos que ficaram, o valor é inimaginável.
E assim vamos adiante com esse triste estado de coisas. De tragédia em tragédia, de desastre em desastre, continuamos a colher os frutos malditos de um sistema econômico onde imperam a ganância e o lucro exacerbado, a cupidez e a usura, em detrimento da vida, da dignidade e da sustentabilidade ambiental.
Não se trata de irresponsável exercício de fatalismo, ou de pessimismo exagerado diante do futuro, mas podemos nos preparar, porque outras tragédias ocorrerão. Outros Marianas, outros Brumadinhos … Infelizmente.
Até que um dia, quem sabe, nosso país saia das trevas do capitalismo predatório e destruidor, e a vida recupere, no seio dos valores fundamentais de nossa sociedade, o lugar de centralidade que merece.
“A poluição, a ganância e a estupidez são as maiores ameaças ao planeta.” Stephen Hawking.
* Eugênio Maria Gomes é professor e escritor. Pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão do Unec, membro do Lions Itaúna, da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga e do MAC – Movimento Amigos de Caratinga. Membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni e presidente da AMLM – Academia Maçônica do Leste de Minas. Grande Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG.