“Assim que minha mãe morreu, vitima de obesidade mórbida, senti uma necessidade profunda de mudar minha atitude em relação à vida. Naquele dia, eu estava sem condições físicas para acompanhar o cortejo fúnebre e o sepultamento. Além de ter perdido a pessoa mais importante do mundo, o fato de eu não conseguir andar, por causa do meu peso, deixou-me mais triste ainda. Então passei a pensar muito no risco que eu corria. Eu sabia que, se não emagrecesse, iria morrer também”.
Lucas Tristão, que já pesou 320 quilos e hoje pesa menos de 100, fala sobre seu processo de emagrecimento e sobre projetos de vida, incluindo cirurgia para retirada de excesso de pele
Por Goretti Nunes
BOM JESUS DO GALHO – Um dia após sua mãe ser sepultada, em 1º de dezembro de 2013, Lucas recebeu a visita de um amigo que lhe propôs ajudá-lo na decisão que tomou de emagrecer. Na semana seguinte, seu amigo voltou à sua casa já acompanhado da nutricionista, Emanuelle Butinholi, que conversou com Lucas por duas horas. “Ela me falou sobre a importância de eu investir na dieta com disciplina pra que eu pudesse chegar ao meu peso ideal, 90 quilos. A Emanuelle foi fundamental nesse processo. Ela me incentivou, com muita paciência e profissionalismo”, recorda Lucas, que chegava a comer dez hambúrgueres e tomar um litro de refrigerante de uma só vez.
Segundo ele, o primeiro mês de dieta foi desafiador. O segundo, mais difícil ainda e, o terceiro, o pior de todos, pois a dieta passou a ser mais rigorosa. Ao mesmo tempo, Lucas se sentia feliz por estar conseguindo perder peso, que era conferido em uma balança de açougue, com capacidade acima das balanças disponíveis nas farmácias locais. E as unidades de saúde da cidade não possuem balança antropométrica para pesar obesos acima de 150 kg.
Até o terceiro mês de dieta, todas as consultas eram feitas em domicílio, pois Lucas tinha dificuldade em se deslocar. Após esse período, ele passou a ir à unidade de saúde onde até hoje conta com o acompanhamento de Emanuelle.
“Passei também a fazer caminhadas, aumentando o percurso gradativamente. Hoje e a cada dia mais sinto o quanto a atividade física é importante”, recorda Lucas. Inicialmente ele percorria um quilômetro; hoje caminha sete.
Diferentemente de muitas pessoas que recorrem a psicólogo para serem ajudadas a controlar a compulsão pela comida, Lucas contou apenas com o apoio da nutricionista. “A Emanuelle cumpriu também esse papel de psicóloga. Ela sempre teve e tem uma palavra animadora e muita paciência. Boa parte da minha motivação veio da Emanuelle, abaixo de Deus. Sem Ele, eu nada seria nesta vida”, diz.
O PESO DO PRECONCEITO
Lucas era um bebê saudável até que, aos dois anos, começou a ganhar mais peso que devia. “Seu apetite aumentou muito. A mãe dele, que apreciava todas as guloseimas, comia e também dava de tudo aos Lucas, que passou a ganhar peso na velocidade da luz”, recorda seu pai, Luciano Tristão, 59.
Mas Lucas só tomou consciência do problema quando precisou conviver com o preconceito. Na escola, ele foi vitima de bullying. “Eu fui motivo de zoação no colégio, apesar de que ninguém chegava a me ver chateado. Por dentro, eu estava destruído, mas nunca deixava transparecer esse sentimento de inferioridade, de mágoa. Eu queria apenas ser uma pessoa boa e suportar tudo pacientemente. Nunca tive atrito com ninguém por causa dessas constantes brincadeiras de mau gosto, provocações mesmo”, relata Lucas, que abandonou os estudos quando cursava o 9º ano do Ensino Fundamental. Nessa época, as os móveis da escola se tornaram desconfortáveis para ele, que já não cabia mais nas carteiras, mais um motivo de chacotas e, consequentemente, de ele abandonar o colégio.
Deixar a escola favoreceu ainda mais o seu sedentarismo. “Não havia mais nenhum motivo para eu sair de casa. Fiquei um ano e dois meses sem colocar os pés na rua. As poucas vezes que eu sentia vontade de ver do outro lado da janela, eu ia até às grades da varanda. Minha situação era tão crítica que tinha receio de as pessoas me verem e rirem de mim. Se apontava alguém na rua, eu corria e me escondia”, lembra.
FAST FOODS
Outro problema enfrentado pelo Lucas era com o vestuário. “Meu manequim era 60, numeração indisponível no mercado. Então era preciso mandar confeccionar as roupas. Meus pés não entravam nos calçados. Não faltavam motivos para eu ser triste, além do desânimo que eu sentia para reagir à minha condição de obeso. Eu não gostava nem de ouvir a palavra dieta”, destaca.
Para Lucas, seu único prazer era se entregar à gula. Ele passava o dia todo comendo, juntamente com a sua mãe, Rose, que faleceu vítima de obesidade. Ela, que chegou a pesar 140 quilos, tinha sempre taxas elevadíssimas de colesterol, glicose e triglicerídeos. “Passávamos o dia todo na sala de TV só comendo. Pela manhã e à tarde também, ligávamos para a padaria e encomendávamos pão com salame, pé-de-moleque, palha italiana, pães recheados, sonhos. Às vezes, esperávamos meu pai dormir pra encher a cara no doce, a fim de evitarmos retaliações”, brinca.
No almoço, Lucas devorava cerca de dois quilos de alimentos, entre arroz, feijão e carnes, com preferência pelas mais gordas, além de verduras e legumes. Ele conta que só parava de comer quando via o fundo da vasilha, uma bacia com capacidade de dois litros. À noite, Lucas recorria ao delivery para encomendar os fast foods, quando não optava pelo café com leite. “Eu tomava meio litro de queimadinha, umas quatro roscas secas e um pacote de biscoito de água e sal”, enumera Lucas, acrescentando que sempre com pressa, sem mastigar muito bem os alimentos.
ROUPA NOVA
Durante o tempo em que Lucas estava seguindo uma dieta mais intensiva, consumindo cerca de 6000 calorias por dia, a perda de peso variava entre 12 até 20 quilos por mês. No entanto, em outubro de 2014, ele perdeu apenas dois quilos, fato que o deixou um pouco preocupado, “meio sem esperança. No mês seguinte, perdi 40 quilos, e a esperança voltou de novo”, comemora.
Para Lucas, que pesa 90 quilos atualmente, a sensação de bem-estar se assemelha ao ato de nascer. “Minha vida ganhou sentido. Para mim, o mundo começa agora, aos 30 anos”, festeja.
Além de vida nova e novas medidas, Lucas conta que pretende investir em roupas novas. “Antes eu não tinha namorada, ninguém me queria e eu não tinha autoestima. Agora minha história mudou. Namoro e quero estar sempre bonito, apresentável”, anuncia.
De acordo com Lucas, ter conquistado nova forma física facilitou também, e muito, a sua vida na realização das tarefas domésticas. Ele cuida de seu pai que sofreu um AVC no ano passado, o que comprometeu seus movimentos dos membros inferiores dificultando sua mobilidade. “Meu pai é meu melhor amigo. Desde que minha mãe foi embora da nossa vida, ficamos sós. Mas faço tudo para ele. Aqui em casa, eu lavo, passo, cozinho, limpo tudo, faço compras. Tento fazer o melhor que posso para dar um pouco de alegria ao meu pai, que não se esquece da minha mãe, com quem viveu por 40 anos, um amor para a vida toda. Para enfrentar a rotina pesada é preciso ser leve”, observa.
Quanto aos projetos de Lucas, está a realização de palestras sobre sua experiência que pode ajudar outras pessoas. Ele pretende também se casar, ter filhos, constituir uma família, viajar muito. Antes de tudo, ele pretende se submeter a cirurgias para a retirada do excesso de pele. “O problema não é só estético, de autoestima, mas o peso que conta forçando a coluna. Esse excesso dificulta também a higiene e a prática de atividades físicas. Sei que, com toda essa pele que sobra, corro o risco de desenvolver infecções, pois é difícil manter todas as áreas limpas e secas. Entendo que os procedimentos custam caro, mas creio que vou conseguir com a ajuda de Deus, em primeiro lugar, e das pessoas que têm condições para isso”, finaliza.
Para conseguir pagar a cirurgia, Lucas precisa de apoio. Doações podem ser depositadas na conta da Caixa Econômica Federal em nome de Lucas Santiago Mendes Tristão/ Agência 0106/ Conta Poupança 0166884-4/ Operação 013.
ENTREVISTA
“Então a Emanuelle me animava”. Essa foi a expressão que permeou toda a entrevista com Lucas. Por diversas vezes, ele se referiu à nutricionista como grande motivadora e amiga.
Emanuelle Cristine Butinholi Lopes, 33, é a grande responsável pelo sucesso da dieta de Lucas. Natural de Raul Soares, ela é graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Viçosa. Em seu currículo, constam atuações em clínicas de estética e academias, em Vitória (ES), onde também trabalhou no Hospital Meridional – Concessionária de Alimentação GRSA, como nutricionista clínica e terapeuta nutricional. Em Raul Soares, como nutricionista clínica e Coordenadora da Vigilância Alimentar e Nutricional, pela Prefeitura Municipal. Em Bom Jesus do Galho, ela atende na rede pública de saúde como nutricionista clínica e social. Em entrevista ao DIÁRIO DE CARATINGA, Emanuelle fala sobre o trabalho desenvolvido com Lucas e a sua satisfação com os resultados que vêm ganhando repercussão nacional.
Como você se sente com o emagrecimento do Lucas, um caso bem sucedido?
Honrada por fazer parte da grande conquista do Lucas, por seu emagrecimento e melhora da qualidade de vida.
Ele superou suas expectativas?
Muito. Ele me surpreendeu com tamanha força de vontade. Ele era um paciente em obesidade mórbida e com indicações para cirurgia bariátrica.
Como você conheceu o Lucas?
Por meio do nosso agente comunitário, Pedro Gusmão, que me relatou a necessidade urgente de uma consulta em domicílio para um adulto jovem em obesidade mórbida.
Quais os riscos o Lucas correria caso não tivesse se submetido a esse processo de emagrecimento?
O maior risco seria o de perder a sua vida tão cedo. Apesar de não apresentar graves problemas de saúde, aparentemente, o Lucas estava desenvolvendo pressão alta, edema de membros inferiores, dificuldade respiratória durante o sono que ocasiona roncos e poderia vir a desenvolver doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio. Poderia ser fulminante.
Qual foi o maior desafio enfrentado ao longo desse processo?
A reeducação alimentar de um paciente que ingeria grandes quantidades de gorduras e carboidratos simples a partir de fast foods, guloseimas, refrigerantes e sal. Converter essa forma de se alimentar em modos saudáveis, estabelecer quantidades de alimentos e horários específicos.
A primeira dieta prescrita era de quantas calorias?
Considerando que, pelo recordatório alimentar de 24 horas, o Lucas consumia cerca de 12.800 calorias provenientes de gorduras saturadas, proteínas gordas e carboidratos simples. Levando-se em conta um emagrecimento mensal de 10 kg por mês, sendo o seu gasto energético diário de 8.672 calorias, a primeira dieta proposta foi em torno de 6.000 calorias provenientes de alimentos saudáveis, distribuídos entre seis a oito refeições ao dia.
Hoje a dieta de Lucas é de quantas calorias?
Em torno de 2.200 calorias por dia. Porém o mais importante da dieta não são as calorias ingeridas, mas as fontes alimentares dessas calorias, tais como gorduras mono e poli-insaturadas, proteínas magras, carboidratos complexos, verduras, legumes, frutas e adequada ingestão de água.
Cite alguns fatores que foram decisivos para o sucesso da dieta.
A persistência, pois fazer dieta e se abdicar de alimentos ‘gostosos’ não é fácil. A compulsão alimentação é um vício que precisa ser tratado com paciência e persistência. A prática de atividades físicas, como foi o caso da caminhada, também foi fundamental. A mudança mesmo dos hábitos alimentares, como a inclusão de alimentos ricos em fibras e pobres em gorduras saturadas.
As pessoas chegaram a sugerir ao Lucas uma cirurgia bariátrica. O que pensa sobre isso?
Essa cirurgia, quando bem planejada, pode ser ótima colaboradora para o emagrecimento. Mas esse procedimento envolve, além da saúde física do paciente, sua saúde mental. Ela promove profundas mudanças no trato gastrointestinal do paciente. Caso ele não tenha um bom acompanhamento psicológico, essas mudanças poderão trazer prejuízos para a sua saúde. A cirurgia bariátrica precisa ser pensada de for a multidisciplinar e não somente como uma maneira rápida de emagrecimento.
O Lucas já alcançou o peso ideal?
Em sua última visita ao Centro de Saúde, o Lucas pesava 103,7 kg, com um emagrecimento total de 216,3 kg em 17 meses, um ano e cinco meses, apresentando um IMC de 29,09 kg/m2, o que nos indica Sobrepeso. Porém o Lucas será submetido a cirurgia para retirada do excesso de pele e, de acordo com o cirurgião plástico, serão retirados entre 10 a 15 kg de pele em excesso. Após a cirurgia e o seu devido tempo de recuperação, o Lucas deverá chegar a pesar 91 kg, apresentando um IMC de 25,47 kg/m2, o que o classifica com um pequeno excesso de peso, precisando emagrecer somente 2 kg para atingir seu peso máximo. Ainda temos um pequeno caminho a percorrer. No momento, não estamos pensando em peso ideal, estamos pensando em emagrecer para sair do quadro de excesso de peso e, conforme a evolução do tratamento, serão propostas atividades físicas para aumento de massa muscular.
Como se deu a evolução do Lucas, mês a mês? Em que período ele perdeu mais peso e em que período ele perdeu menos peso?
Inicialmente o Lucas emagrecia em média 15 kg por mês. No primeiro mês, o Lucas pesou 292,2 kg, emagrecendo cerca de 27,8 kg em 40 dias. Em dezembro de 2014 e fevereiro de 2015, foi o período recorde de emagrecimento. Ele perdeu 38 e 40 kg respectivamente, graças a um melhor cuidado com a alimentação e à prática de atividades físicas com mais disciplina. Além de uma compensação para setembro de novembro de 2014, quando ele emagreceu apenas 2kg. Nesses meses, ele passou por problemas particulares que o afetaram emocionalmente. A ansiedade e ou depressão contribuem muito para o acúmulo de gordura corporal.
Como foi o programa de atividade física do Lucas?
Inicialmente propus ao Lucas uma atividade física aeróbica leve. Caminhada pelo menos três vezes por semana durante 30 minutos. A atividade foi sendo aumentada gradativamente, à medida que ele ia perdendo peso. Hoje ele caminha em ritmo mais intenso, cinco vezes por semana, por 1 hora e 20 minutos.
Lucas contou com a ajuda de algum psicólogo?
Infelizmente não. Porém ele contou com a ajuda de seu pai, de seus familiares e amigos mais próximos e com a minha ajuda. Mas a maior ajuda veio de Deus, não só na vida dele, mas na minha que possibilitou ajudá-lo a ter uma vida melhor. Não posso me esquecer do Pedro Gusmão, que indicou o Lucas e indica outros pacientes para serem tratados.
Você vai continuar a acompanhar o Lucas, manter a dieta?
Sim, com consultas mensais, planejamento e adequação alimentar de acordo com o peso dele, atividades físicas e manutenção de exames laboratoriais em dia.
Qual o conselho você dá para os pais a fim de que seus filhos não se tornem obesos, como aconteceu com o Lucas?
Os melhores hábitos alimentares são adquiridos na primeira infância. Dar às crianças tudo o que querem comer, por exemplo, só contribui para que esses garotos se tornem adultos obesos e preguiçosos.
Como a família pode contribuir no processo de emagrecimento?
Todos precisam ser incentivadores, colaborar com o tratamento. Aos pacientes adultos, sempre sugiro que expliquem à família a importância de uma alimentação saudável dentro e fora de casa.
Conselho para quem quer perder peso.
Se você quer emagrecer de forma saudável, procure o acompanhamento de um nutricionista, pratique atividade física regularmente, beba pelo menos 2 litros de água potável por dia, consuma verduras, legumes e frutas, principalmente as de época, diariamente, evite consumir alimentos gordurosos, refrigerantes, bebidas alcóolicas e guloseimas. Enfim, procure ter hábitos de vida saudável.
2 Comentários
vanessa(Tuy)
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Marildete M V A SAYEGH
que ótimo fico muito feliz pelo Lucas conseguir emagrecer e feliz ainda mais em saber que temo profissionais da indole e conduta e experiência da NUTRICIONISTA EMANUELLE PARABÉNS à ela pela dedicação da profissão Emanuelle vc vai longe DEUS TE ABENÇOE fiquei orgulhosa de vc Emanuelle e Lucas