Nosso querido Padre Boreli acaba de nos deixar. Caratinga e toda nossa diocese lamentam e todos falam da falta que ele vai fazer.
Ele nasceu em Manhuaçu, MG, no dia 21 de março de 1936. Numa família de 10 filhos, viveu num lar simples, mas religioso que pregava o bom comportamento, a oração e as devoções católicas.
Foi batizado na igreja matriz de Manhuaçu. Na hora da Consagração, o padre chamou a madrinha. Como não tinham convidado ninguém, a mãe sugeriu que fosse Nossa Senhora da Conceição. Uma boa madrinha acompanhando sempre seus passos, pois ele foi pároco de Conceição de Ipanema, vigário da Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Dom Lara e pároco da Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Caratinga.
A vocação de Padre Boreli não surgiu de súbito. Desde criança desejava ser padre, nunca havia pensado em outro caminho.
Quando Dom Cavati, então bispo da diocese de Caratinga, permaneceu na cidade em visita pastoral, realizou muitos batizados e o Betinho, como Boreli era chamado por todos, estava batizando uma criança. Terminada a cerimônia, ele chegou perto de Dom Cavati e lhe disse que desejaria ser padre. Na mesma hora, o bispo falou: então venha comigo para Caratinga amanhã. A mãe arranjou sua mala e juntou tudo o que ele tinha, inclusive as primeiras cuecas, peças que ele nunca havia usado antes.
Estudou no seminário de Mariana MG, e cursou Filosofia e Teologia.
Foi ordenado pelo bispo Dom José Eugênio Correa. Nesse momento há a Imposição das mãos feita pelo bispo e outros sacerdotes. Impuseram-lhe as mãos Dom José Eugênio Correa, Monsenhor Raul Mott de Oliveira, então reitor e professor no Seminário, Padre Inácio Tito de Azevedo, Padre Afonso Hans e Padre Joaquim Meireles Maia, seu diretor espiritual no seminário.
Trabalhou em Caratinga, em Simonésia, Conceição de Ipanema, em Santana de Manhuaçu. Voltando para Caratinga, ficou até o final de seus dias.
Sua copiosa vida sacerdotal foi um seguimento nas trilhas de Jesus Cristo sem desviar em momento algum dos objetivos divinos.
Um caminho notório na vida missionária de Padre Boreli foi a criação de Movimentos de Espiritualidade, cujo ápice resplandeciam as Comunidades de Base. Implantou a CEBs – Comunidades Eclesiais de Base, incentivou vivamente os Cursilhos de Cristandade para casais e jovens.
Além de celebrar missas diariamente, rezar novenas aos santos e promover encontros de espiritualidade, ele comemorava o mês de Maria com ternura, coroações e festa. O Apostolado da Oração era seu encanto. Dava assistência e, sendo diretor espiritual dessa associação, estava sempre presente nas primeiras sextas-feiras do mês com sua presença e sua palavra de formação.
Nas cidades em que esteve, muitas vezes celebrava casamentos e batizados debaixo de árvores, por falta de um local certo. Foi quando construiu 50 igrejas. Atitude significativa porque ajudou a reunir o povo e dignificou os sacramentos.
Gostava tanto de ver as pessoas felizes que ministrava uma bênção aos casais em segundo casamento. Não era matrimônio, era apenas uma bênção para que Deus fortalecesse a união. Era seu jeito de inventar a paz.
No atendimento ao povo, foi sempre delicado, carinhoso, sorridente. Nunca negava ajuda, conselho, confissões. Sempre disposto a amar e compartilhar sempre.
Suas homilias eram claras e de fácil entendimento. Repetia sobre a bondade de Deus em perdoar fazendo com que todos se voltassem para a igreja como sendo a casa do Pai. Desejava que os pecadores sentissem que Deus perdoa.
Por muitos anos e também ultimamente, teve a Lourdinha a seu lado. Uma verdadeira mãe cuidando e o acompanhando com fervor de oração.
Agora, após quase 60 anos de sacerdócio, Padre Boreli parte para o céu. É lá que suas virtudes, seu trabalho de um outro Cristo e seu amor por todos, devem ter recompensa. Imagino sua entrada na Casa do Pai. Os anjos fazendo fila para abraçá-lo, Nossa Senhora envolvendo-o com carinho de mãe, debaixo de seu manto de luz. O céu em festa!
Por muito tempo vamos chorar sua ausência, vamos sentir saudades de seu riso, de seu jeito de amigo.
Nunca o esquecerei, pois nossa amizade durou uma vida. Quando escrevi sua biografia, conversamos muito, viajamos juntos por muitos lugares. Tudo estreitando nosso afeto. Em uma dessas viagens, comemos em um lugar em que a comida era ruim. Ele reclamou e eu lhe prometi fazer um almoço bem gostoso em minha casa. Ele disse que bastava eu fazer uma macarronada que tudo estaria bem. De fato, fiz o almoço com macarronada e o convidei. Ele e Lourdinha vieram e gostaram da comida, inclusive do pudim de leite condensado que ele repetiu.
Por muito tempo vamos nos recordar desse homem de Deus que enriqueceu nossa igreja e a cada um de nós. Haverá sempre um momento em que nosso pensamento voltará e abraçaremos as lembranças.
Que ele, lá do alto, lembre-se de nós, de nossa Caratinga e de todos os amigos. Adeus, querido Padre Boreli.
Marilene Godinho