Reportagem obtém com exclusividade trechos relatados pelo condenado em exame criminológico
CARATINGA- A reportagem teve acesso aos relatos de Homem Aranha durante entrevista técnica para elaboração de exame criminológica e traça o perfil do condenado. A avaliação do Serviço Social foi assinada em dezembro de 2020.
Geraldo Marcelino informou ser natural de Caratinga, divorciado e que possui seis filhos. Disse que foi criado pelos pais junto a quatro irmãos até os sete anos de idade e cita a situação socioeconômica daquela época como “péssima”. Disse ainda que o pai, além de ter sido ausente com relação aos cuidados básicos da família, como educação e alimentação dos filhos, era “dependente e usuário de psicoativos”, fato que influenciava diretamente na convivência familiar. Também se disse vítima de violência como agressões físicas, psicológicas, negligência, abandono e abuso sexual, principalmente, por parte do pai. Classificou sua infância como “dramática” e sugere que sua inserção no mundo da criminalidade deve-se também a este histórico.
Geraldo Marcelino relatou também que começou a trabalhar ainda criança, lavando e vigiando carros nos estacionamentos da cidade, engraxando sapatos e “catando lixo” para sobreviver. Estudou até o terceiro ano do ensino fundamental, quando, obrigado pelo pai, conforme relatou, teria evadido da escola para trabalhar cortando cana. Disse também que não possui vínculos previdenciários, pois, além do trabalho que exercera àquela época ter sido de caráter informal não possuía acesso a políticas de atendimento e cidadania que pudessem oferecer emissão de documentos pessoais e/ou outros tipos de acompanhamentos necessários ao indivíduo e à família.
A todo o momento, Aranha manteve o discurso de autodefesa em excesso, dizendo que seu contexto de criminalidade tem total relação com seu histórico de vida. Relatou que faz uso de alguns medicamentos controlados para dormir e para ansiedade. E que nunca passou por tratamento/internação para cuidados psiquiátricos e dependência química. Ainda disse que começou a consumir álcool e outras drogas (cola de sapateiro e tinner) na infância, aproximadamente aos oitos anos, idade que já se encontrava em situação de rua. Encorajou-se à criminalidade por “necessidade de sustento pessoal e da família”.
Ainda sobre a criminalidade, disse que foi preso apenas na maioridade. A justificativa para uso de álcool e drogas foram problemas com crise econômica, frustrações na vida afetiva, desemprego e problemas pessoais.
Geraldo compreende que está com vínculos familiares fragilizados, citando que não recebe visitas, auxílio material e/ou correspondências familiares. Sobre os crimes pelos quais foi condenado, Aranha negou a maioria deles. Se considera “injustiçado”, sofrendo as consequências da condenação, como distanciamento dos filhos e “perda de muito tempo de sua vida”.
Com relação aos planos após cumprir sua pena, disse que pretende trabalhar com refrigeração e ar-condicionado, acrescentando que mudou de vida, estudou e amadureceu.
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
Já a avaliação psicológica consiste em apresentar uma análise das condições psíquicas e dos aspectos de personalidade. O documento foi assinado pelo profissional responsável no dia 1° de dezembro de 2020.
Na avaliação do Estado Mental Geral, conforme o documento, apresentou “boa aparência e conduta, com vestimenta e higiene preservadas”. Apresentava hérnia de disco e atrofia na perna direita.
Repetiu o relato de sua infância, acrescentando que fugiu de casa aos sete anos de idade e obteve moradia de uma família, na qual também sofreu exploração de trabalho, fugindo e vivendo em situação de rua. Obteve formação em ensino médio completo e superior em curso na unidade prisional.
Em relação aos crimes, apresentou uma versão diferente a do exame anterior de 2019, dizendo que assumiu o homicídio para proteger uma pessoa a quem tinha grande estima na época e que, mantinha quatro cães de grande porte no quintal e que estes foram responsáveis por matar as crianças que haviam invadido sua casa para furtar mangas.
Na avaliação clínica e comportamental, por vezes chorou. Não foram observadas alterações em seu estado mental (julgamento, alucinações, ilusões e delírios). Contudo, apresentou “tentativa de manipulação, contradições no discurso referente aos crimes e transferência de responsabilidade”. Observou-se que seu estado emotivo (choro e súplica) era direcionado à sua condição de privação de liberdade (26 anos e 10 meses) e não à gravidade e consequências dos crimes cometidos.
O laudo acrescenta que não foi possível realizar uma análise mais apurada dos aspectos da personalidade de Homem Aranha.
A avaliação e exame psiquiátrico apresenta: consciência clara, orientado no tempo e espaço, normotenaz (Que ou quem tem capacidade considerada normal de se concentrar num estímulo ou num tema e de fazer um esforço de produção intelectual) e normovigil (a atenção está preservada e a consciência é lúcida), memórias de fixação e evocação preservadas, pensamento de curso normal, discurso lógico/coerente, sem distúrbios de sensopercepção evidentes ao exame, eutímico (estado de equilíbrio no humor) e juízo crítico preservado.