Mão de obra continua sendo principal dificuldade na colheita

José Corrêa, o Juquita, traça panorama sincero da cafeicultura na região

Produtor José Corrêa, o “Juquita” destaca dificuldades enfrentadas na produção

CARATINGA- José Corrêa Lopes, 80 anos, o “Juquita”, iniciou na cafeicultura nos anos 80, produzindo ainda numa propriedade pequena que adquiriu. “Colhia um pouquinho de café e fui plantando aos pouquinhos. Três anos à frente, resolvi e plantei um pouco mais”.
Hoje, o produtor tem 600 mil pés de café em duas propriedades e destaca uma média muito produtiva. “Crescemos, sempre crescendo a produção e chegando nesse ponto de produzir uma média anual pra nós que satisfaz. Era bem fácil a mão de obra.”
Ele destaca que com o passar dos anos, a área plantada cresceu consideravelmente na região, no entanto, as dificuldades foram surgindo para o produtor. “Na nossa região eram bem menos cafezais. Hoje, foi crescendo, quase todo produtor tem um pouco de café, aumentou demais a média. Mas, só vai dar para sobreviver o produtor de médio para baixo. Até médio já está com dificuldade, porque já precisa de certa quantidade de mão de obra. A dificuldade, primeiro o Ministério do Trabalho que exige demais. Você tem que adequar sua propriedade com 100% das obrigações que eles exigem. E a mão de obra vem de ano a ano piorando, principalmente, nos últimos quatro a cinco anos”.
Conforme Juquita, a questão da mão de obra vem se agravando nos últimos anos e preocupado os produtores rurais. “Nos últimos dois anos praticamente acabou a mão de obra 100% para quem é produtor de café de montanhas. Acho que, ano passado pelo menos, se não tivéssemos preparado e trazido uma turma de mão de obra do Norte de Minas, a gente não tinha conseguido panhar os cafés nossos, que ano passado foi uma boa produção. Esse ano, a produção fraca, já trouxe essa equipe pra cá outra vez, mas, não consegui trazer os mesmos. Apesar de ser menos produção, estamos com dificuldade até para começar e terminar a colheita, do jeito que está o preço. A expectativa é muito baixa de café esse ano”.
A respeito do mercado, ele acrescenta que também não está atrativo. “A qualidade de café está muito baixa, também isso preocupa, porque, a cada ano o tempo está modificando, prejudicando o trato da lavoura, a falta da mão de obra também atrapalha. E os insumos que subiram de mais da conta. Hoje, até que está atrativo alguma coisa, o adubo pelo menos caiu bastante o preço. Mas, os insumos baixaram quase nada, que é muito caro”.
Alguns aspectos que foram relatados pelos produtores foram a pandemia e a guerra na Ucrânia, que afetaram diversos setores, impactando no fornecimento de insumos para os produtores. Juquita falou a respeito desses aspectos. “A guerra da Ucrânia prejudicou demais, mais que a pandemia. Deu aquele baque de adubo que fazia parte da importação de lá, mas, hoje, depois que normalizou tudo, parece que adubo até está tendo sobra, a curto prazo, não sei se vai continuar. Mas, a pandemia não foi boa, mas, não prejudicou também os cafezais. Os insumos que subiram muito”.
Há quem diga que o produtor rural está acostumado às incertezas. Juquita acredita que o cenário necessita de mudanças para incentivar a cafeicultura. “O produtor pequeno está sobrevivendo bem. O de médio pra cima, se não for muito capitalizado não aguenta. Se for preciso atrair banco no negócio dele, não consegue sobreviver bem nas atividades dele. Acho que não tem muito a fazer. Café de montanha, falta de mão de obra, que precisa, não fica sem ela. Não tem jeito de mecanização. Tudo muito caro. Não dá para sobreviver nem financeiramente bem”.

 

DO NORTE DE MINAS PARA CARATINGA
Odair Rodrigues Paulino percorreu 615 km, de José Gonçalves, no norte de Minas. A cidade fica a 100 km de Araçuaí e uma turma de 31 trabalhadores chegou essa semana na região para atuar na colheita.
“Viemos para cá na safra passada, e agora tem uns quatro dias que chegamos aqui. A gente fazia mais Sul de Minas, pelo que vejo falar está ficando difícil contratar pessoas da região”, disse.
Conforme Odair, a panha de café exige bastante, mas, a rotina é prazerosa, pois, são famílias e amizades são construídas no local. Ele destaca que o clima está favorável para o trabalho e está satisfeito com o serviço. “Geralmente a gente começa às 7h e termina às 16h, a gente panha em torno de 20 latas, depende do panhador. É um trabalho pesado, minha esposa também veio. Dá pra tirar um bom dinheiro, não dá pra reclamar. Trabalho como motorista e nesse período venho para colheita”, finaliza.