*Brunela Demoner Rossoni Laignier
A alimentação da criança desde o nascimento e nos primeiros anos de vida tem repercussões ao longo de toda a vida do indivíduo. Sabe-se que o aleitamento materno é um importante componente da alimentação infantil ótima. O leite materno, isoladamente, é capaz de nutrir adequadamente as crianças nos primeiros 6 meses de vida. A recomendação de aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida, bem como a introdução de alimentos complementares nutricionalmente adequados a partir daí, com a manutenção do aleitamento materno até os dois anos de vida, é uma conduta recomendada pela Organização Mundial da Saúde e também pelo Ministério da Saúde do Brasil.
No final do primeiro semestre de vida, as funções de digestão, absorção, metabolização e excreção da maior parte dos nutrientes estão bem próximas das do adulto. O reflexo no qual a criança “empurra para fora qualquer objeto/ alimento que toque a linha média da língua terá desaparecido entre 4º e 6º mês de vida. É também por volta do 6º mês de vida que a produção do leite pela mãe passa a não preencher de forma adequada as necessidades dos nutrientes pelo lactente em especial as de ferro bem como os lactentes em aleitamento misto (natural e artificial concomitantemente) e aleitamento artificial (não natural). Assim, entre 4º e o 6 mês de vida, torna-se necessária e possível a introdução de novos alimentos na dieta da criança. O início da dieta deve ser gradativo, evitando-se introduzir mais que uma refeição por vez, a fim de se observarem possíveis reações e permitir a adaptação da criança. Uma nova refeição pode ser introduzida 4 a 7 dias após uma outra ter sido implementada. O leite-materno ou fórmula-deve continuar a ser oferecido após todas as refeições. Aos 6 meses, tanto em aleitamento materno como em aleitamento não natural, o número de refeições deve estar em torno de 5 (excluindo-se o suco de frutas). Inicialmente, as papas devem ser oferecidas após os alimentos terem sido amassados com um garfo e, finalmente, após o 12º mês de vida, em pequenos pedaços e bem cozidos.
Em aleitamento materno exclusivo, tentando-se seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde para que se consiga mantê-lo de forma exclusiva durante o primeiro mês de vida, faz-se a introdução do suco de frutas cítricas, ricas em vitamina C, tais como laranja serra d’água, acerola, tangerina e caju etc., quando a criança completar 6 meses. O suco deve ser oferecido entre a primeira e a segunda refeição (mamada) o volume não deve ultrapassar os 100 ml para que não interfira com a refeição seguinte. Em aleitamento artificial usando fórmulas deve ser introduzido aos 4 meses.
A papa de fruta podemos introduzir estas deve ser oferecidas amassadas ou raspadas por volta das 9horas ou 15horas como lanche intermediário ou lanche da tarde utilizando as seguintes frutas, banana, maça, pera, mamão e ameixa. Inicia-se com 2 a 3 colheres de chá, aumentando-se até chegar a uma fruta de tamanho médio (100 g).
Em seguida, se houver boa por parte da criança, inicia-se a papa de cereais sendo, o cereal mais usado fubá de milho. Além dele arroz, aveia, podem ser usados após os 6 meses de idade. Os cereais são fontes de hidratos de carbono (70-75%), ácidos graxos essenciais, proteínas de baixo valor biológico(8-10%),sais de ferro e vitaminas do completo B.A papa cereais deve ser oferecida no horário do jantar (18-19h).Inicia-se com 2 colheres rasas de chá, aumentando-se o volume oferecido até atingir mais ou menos 100g.
A papa de vegetais (hortaliças) é iniciada em seguida no horário que corresponderia ao almoço (10-11h).Recomenda-se associar sempre um tubérculo (mandioca, batata, batata baroa, cará e inhame) e uma hortaliça (cenoura, abobrinha, chuchu, couve flor e berinjela). A utilização de beterraba e espinafre na alimentação do lactente é discutida devido ao seu teor de nitritos. O nitrito oxida o ferro da hemoglobina na forma ferrosa para a forma férrica, resultando em um composto, que é incapaz de se ligar ao oxigênio. Os componentes da papa devem ser servidos de forma individualizada no prato (isto é, não misturados um ao outro) para que, além de tornar o “visual” do prato mais atraente e colorido para a criança, o qual faça uma associação com cor, sabor e consistência.
Após o 7º mês de vida, deve complementar na alimentação da criança o grupo das leguminosas representadas pelo feijão, lentilha, soja e vagem. A introdução após os 7 meses de idade deve soa risco potencial de sensibilização à proteína (considerada alergênica).
A carne deve ser introduzida logo ao início das refeições de “sal” (almoço e jantar),pois representa excelente fonte de ferro, em especial as carnes vermelhas, vindo preencher uma deficiência do leite materno após o 6° mês de vida, além disso, são também excelentes fontes de proteínas de alto valor biológico. A carne deve ser servida após ser amassada no garfo.
A gema do ovo cozida deve ser introduzida após aos 6 meses de idade, preferencialmente no almoço. Inicia-se com ¼ da gema ,aumentando-se até chegar a oferecer inteira. Deve ser oferecido 2 vezes na semana. Recomenda-se que a clara de ovo deve ser introduzida na dieta infantil apenas após o primeiro ano de vida pelo risco de contaminação.
Aos 8 meses de idade, a dieta da criança pode ser, gradativamente, substituída pela comida de casa, estando está transição completa até o final do primeiro ano de vida .Lembrando da consistência ideal dos alimentos para cada criança em questão, devido à presença ou não dos dentes.
Recomendações importantes durante a alimentação na primeira infância aos pais, avós e cuidadores:
*Com a introdução de alimentos sólidos, a água deve ser oferecida após e nos intervalos das refeições. A quantidade irá variar de acordo com o apetite e capacidade gástrica da criança. Os lactentes não aceitam a mesma quantidades todos os dias ou em todas as refeições. Uma vez a criança saudável e com crescimento adequado, não valorizar eventuais recusa ou baixa aceitação de uma refeição.
*Permitir que a criança segure o copo, use a colher ou as mãos para manusear o alimento, mantendo, contudo, vigilância a fim de garantir a ingestão do alimento. Este contato permite a criança treinar a coordenação motora mão-boca, treinar a preensão de alimentos de objetos e conhecer texturas.
*Variar a forma de apresentação e preparo para favorecer o aspecto psicossensorial da alimentação, prevenindo a monotonia alimentar. A criança deve receber um prato contendo os diferentes alimentos separadamente, evitando-se misturá-los.
*Se houver recusa do novo alimento introduzido, não se deve obrigar que a criança o ingira. O alimento deve ser oferecido em outras oportunidades, visto que a aceitação dos novos alimentos é uma aprendizagem relacionada com a repetição da oferta dos alimentos.
*O horário das refeições da criança deve ser um momento agradável para que a criança o associe a uma atividade prazerosa. Entretanto, não se deve permitir que a criança realize outras atividades durante a refeição, como, assistir televisão, deitar e brincar.
*Orientar quanto à preservação dos nutrientes, especialmente vitaminas e minerais, durante o cozimento e preparo dos alimentos: cozinhar alimentos em quantidades mínimas de água; iniciar o cozimento a partir da água em ebulição; cozinhar em panelas tampadas; oferecer frutas log após o descasque ou preparo.
*Brunela Demoner Rossoni Laignier é nutricionista, professora e coordenadora do Curso de Nutrição do UNEC- Centro Universitário de Caratinga.
-Mais informações sobre autor: http://lattes.cnpq.br/9130128564227510.