Autores: alunos do 6º período de Geografia do UNEC
Victor Hugo Vieira Dias; Marcos Vinicius Carvalho Silva; Samuel Pereira Basto Leal Brum
A água é um recurso natural essencial para a existência da vida. O desequilíbrio na quantidade e qualidade da água determina diferentes ações por parte de gestores e população de um local. O uso consciente desse bem natural envolve entre outras iniciativas, um manejo adequado do uso do solo. É preciso proteger, recuperar e preservar as áreas do entorno das nascentes, através de uma gestão integrada de recursos hídricos. Pensando na importância dessas fontes naturais de água para a população, foi realizado um levantamento das condições ambientais de nascentes localizadas em São Domingos das Dores (MG) e Dom Modesto (MG). O presente estudo tem como objetivo aplicar um modelo de classificação para indicar o Índice de Impacto Ambiental de nascentes. De acordo com o resultado obtido na pesquisa, o elevado índice de impacto ambiental, está diretamente ligado à falta de proteção no entorno das nascentes, fato esse, que exige ações de intervenção de gestores e da população, para recuperação e preservação das fontes que abastecem os cursos d’água.
A água é um recurso natural de extrema importância para os seres vivos e para a dinâmica da natureza.
De acordo com Braga e Molim (2018, p.101) “os anos de 2013 e 2014 foram fortemente marcados por secas severas na Região Sudeste. Essa situação de estiagem provocou a maior crise hídrica da história” nessa área. A seca causou intensa tensão para a população de vários municípios. Na Microrregião de Caratinga, por exemplo, vários municípios apresentaram problemas. Muitas áreas, que nunca haviam passado por falta de água, viram seus rios, lagos e nascentes secarem. As pastagens tornaram-se insuficientes para alimentarem o gado. Nas áreas urbanas, moradores ficaram vários dias sem fornecimento de água. Aconteceu um caos no abastecimento hídrico, que sem dúvida ficou marcado na história dos moradores destes municípios.
Diante desse cenário surgiram muitas práticas para minimizarem a falta de água, tais como: a perfuração de poços, reutilização da água, rodízio no abastecimento de água das cidades e proteção das áreas no entorno de nascentes que haviam diminuído sua vazão ou até mesmo secado diante da falta de chuvas.
A ação humana tanto pode preservar uma nascente como também pode fazê-la desaparecer. A retirada da vegetação de determinadas áreas que deveriam ser preservadas de acordo com a Lei, causam um grande impacto ambiental.
Foram estudadas duas nascentes, uma delas está localizada no entorno da cidade de São Domingos das Dores – MG, e a outra, próxima ao povoado do distrito de Dom Modesto, pertencente à Caratinga – MG. Enquanto na primeira, o solo do entorno das nascentes é usado para a agricultura, com destaque para o cultivo de café e expansão urbana, a segunda, tem como atividades predominantes a pecuária leiteira e o plantio voltado para a alimentação do gado.
O objetivo do presente estudo é aplicar o modelo usado por Gomes, Melo e Vale (2005, p.107) para calcular o “Índice de Impacto Ambiental” nas nascentes escolhidas.
A pesquisa é uma pequena amostra da aplicação do modelo utilizado para calcular o Índice de Impacto Ambiental, considerado como eficaz em outros trabalhos para quantificar as condições ambientais em nascentes. Apesar de o estudo ter escolhido apenas duas nascentes por área, foi possível demonstrar que essa forma de calcular realmente é eficiente para avaliar os impactos ambientais. Além disso, permite após o levantamento, realizar um diagnóstico da realidade das nascentes tornando possível a partir do estudo, elaborar alternativas para gestores e população que tenham interesse de proteção e monitoramento, destas e das demais nascentes que compõem as respectivas bacias hidrográficas das duas localidades.
Normalmente a ação de proteção e recuperação de nascentes, inicia-se pela identificação e localização da área degradada, com o uso de metodologias que favoreçam a realização de um diagnóstico e soluções das condições ambientais.
As nascentes são as fontes primárias que abastecem os cursos d’água. É onde a água do lençol freático aflora. Uma boa cobertura vegetal composta por mata no entorno da nascente é indispensável para mantê-la saudável e preservada. Além disso, entre outros benefícios, um solo coberto com vegetação aumenta a disponibilidade dos recursos hídricos, melhora a qualidade da água, altera a umidade do solo, favorece a manutenção dos recursos animais, minimiza o processo erosivo e impede o assoreamento. A proteção das áreas no entorno das nascentes juntamente com a recuperação e/ou preservação das matas no topo das encostas trazem benefícios para o agricultor e para toda a sociedade que vive dos recursos gerados em uma dada região. Identificar o Índice de Impacto Ambiental pode ser um primeiro passo, para uma série de outras iniciativas que envolvem ações de proteção e recuperação da área do entorno das nascentes, tais como: construção de barragens em pontos estratégicos para abastecer o lençol freático, delimitação da área com a construção de cercas, plantio de mudas, irrigação, controle de formigas, adubação, limpeza da nascente, localização e proteção do olho d’água, manutenção e monitoramento. Para realizar todo o sistema de restauração, independente se a adoção for de regeneração natural ou implantada é ideal a adoção de um trabalho em conjunto envolvendo proprietários, setor público, privado e educacional.
Localização das Nascentes (N1 e N2) na Microbacia do Ribeirão São Domingos – São Domingos das Dores / MG, 2021.
Fonte: Base cartográfica de limites, hidrografia e rio extraído do Catálogo de Metadados da Agência Nacional de Águas (ANA).
Foi utilizada a Carta Topográfica de Caratinga – MI-2538, de 2008, na Escala de 1: 100.000, o Google Earth Pro e as imagens do Google Satélite, para a verificação de vários elementos, tais como: coordenadas, altitude, uso do solo, presença de remanescentes de mata, escala, entre outros. Para elaboração do mapeamento da Figura 1 e 2, foram utilizados no Software QGIS 3.16.6 os arquivos do Catálogo dos Metadados da Agência Nacional de Águas (ANA).
De acordo com o Índice de Impacto Ambiental das 04(quatro) nascentes estudadas, duas delas apresentaram-se na classe E (Péssimo), uma na classe C (Razoável) e uma B (Boa).
Apesar das nascentes estarem localizadas em microbacias diferentes, com atividades distintas (nas nascentes estudadas em São Domingos prevalece o cultivo de café e em Dom Modesto a atividade da pecuária), fica claro e evidente uma semelhança no que diz respeito à proteção e vegetação.
Um dos desafios da humanidade para o futuro é sem dúvida, produzir e preservar os recursos naturais. A crise hídrica enfrentada pela população em várias regiões, inclusive na microrregião de Caratinga, é um exemplo desse desafio. Produzir e preservar são necessários para manter um manejo do solo satisfatório, não só para a geração atual, mas para as futuras.
A preservação das nascentes é um dos elementos de manejo do solo, importantes para manter a agricultura produtiva e estável. Além de benéfico para o agricultor, é essencial para a vida da sociedade.
O “Índice de Impacto Ambiental em Nascentes” é uma ferramenta importante, pois coloca em evidência as informações exigidas para a realização de um planejamento de restauração das áreas no entrono de nascentes. Um estudo mais completo envolvendo todas as nascentes das duas microbacias pode ser realizado com o intuito de orientar e direcionar as ações de gestores e população. Diante da importância da água nas nascentes como recurso imprescindível à manutenção da vida dos seres vivos, torna-se prioridade investir na proteção e preservação. Dessa forma, a comunidade rural será beneficiada, pois terão acesso a uma quantidade maior de água, bem como podem a partir dessa iniciativa, programar outras iniciativas consideradas como eficaz para um manejo de solo harmônico, tais como: recuperação da mata ciliar, reflorestamento do topo das encostas e cultivo em nível.
Em vários lugares já ocorrem gestão integrada de recursos hídricos com iniciativas simples e eficazes que poderão trazer benefícios para a natureza e para os habitantes da região. Os elevados índices de impacto ambiental de várias nascentes poderão ser revertidos, com medidas e ações do poder público e/ou da população local para a preservação e conservação das nascentes, ajudando a garantir a segurança hídrica da região.