* Juliana Carvalho Reis
Inclusão social é um termo falado e ouvido muito frequentemente na mídia, em bate-papos informais, em reuniões de pais, nas escolas, nas empresas e entre os profissionais de saúde. Tornou-se foco de discussão de fóruns e congressos renomados nas áreas de educação, saúde, direito, engenharia e administração. Falar de inclusão e fazer inclusão social parece ser algo muito nobre, bonito e valoroso… E o é! Mas de fato, o que é inclusão social? Ela realmente existe? Estou envolvido (a) nesse contexto? Eu a pratico? Eu a vivencio? Ou serve tão somente para os portadores de diferentes e múltiplas deficiências?
Gostaria de dividir com vocês, leitores da Além da Palavra, esta inquietação e tentar construir, ao longo deste texto, as respostas a essas indagações. Não com o objetivo de instrução, mas, sim, de reflexão.
No Brasil, temos, atualmente, algumas leis que resguardam os direitos das pessoas com deficiência de forma a normatizar o acesso ao trabalho, aos serviços de saúde, à educação, ao transporte e à moradia dos cidadãos que, por um ou outro motivo, foram acometidos com deficiência física, auditiva, visual ou mental.
Possivelmente, a divulgação e implementação de tais leis tenham nos trazido à consciência que existem pessoas portadoras de deficiências que precisam ter seus direitos de cidadão garantidos. Mas, elas garantem inclusão social? Se tomarmos como base a definição de inclusão social como conjunto de meios e ações que oferecem às pessoas com algum tipo de deficiência oportunidades de acesso a bens e serviços, poderemos, talvez, dizer que sim, que as leis garantem inclusão social. Ao passo que, se nossa referência de inclusão social considerar também nossas experiências nos espaços em que convivemos, nossa resposta a essa pergunta talvez seja; não.
O cumprimento das diretrizes legais dificilmente será suficiente quando se contrapõem a um contexto histórico marcado por uma segregação inconsequente. É natural vermos o portador de deficiência física ocupando um cargo de liderança? Gerindo grandes empreendimentos? Sendo médico? Engenheiro? Advogado? Professor? Ou realizando alguma outra atividade ocupacional? É natural? Por que ficamos constrangidos ao nos depararmos com eles? Por que temos dificuldades de nos aproximar? Por que ficamos penalizados pela situação do deficiente?
Possivelmente, a estrutura das sociedades tenha contribuído para isso. Desde os seus primórdios, elas inabilitavam os portadores de deficiência, marginalizando-os, e privando-os de liberdade. A história do homem reflete esse pensar discriminatório, é mais fácil se ater aos impedimentos estabelecidos pela deficiência, do que as suas capacidades e potencialidades.
A chegada de um bebê com deficiência ou o aparecimento de qualquer tipo de deficiência em algum membro da família altera, consideravelmente, a rotina do lar. Logo nos perguntamos: por quê? De quem é a culpa? O que fazer daqui para frente? Como será o futuro dele? O imaginário toma conta das nossas atitudes e a dinâmica familiar fica fragilizada, uma vez que percebemos que a deficiência com que nos deparamos, conduzir-nos-á, por um longo e tortuoso caminho de combate à discriminação e ao isolamento.
Dificilmente, no momento em que somos acometidos ou que estamos diante da deficiência de um de nossos familiares, conseguiremos vislumbrar algum dos tantos talentos e potencialidades que entre os deficientes também existem. Fomos “ensinados” a pensar e enxergar apenas as limitações e impossibilidades impostas ao portador de deficiência.
Cada deficiência acaba acarretando um tipo de comportamento e suscitando diferentes formas de reações. As deficiências físicas, tais como paralisia de membros, amputação e cegueira, tendem, a causar, imediatamente, apreensão mais intensa por terem maior visibilidade. A mácula da deficiência entre nós ainda é muito grande. Transforma pessoas cegas, surdas, com deficiências mentais ou físicas em seres incapazes, indefesos, frágeis e culmina em nos afastarmos ou, quem sabe, deixarmos para nos aproximar em outro momento.
De fato, é necessário muito esforço para superar este estigma. Não nos damos conta, que as pessoas consideradas “normais” são aquelas que têm possibilidade de “guardar” suas deficiências, que não estão fadadas a escancará-las em uma cadeira de rodas, um andador ou uma muleta.
Pode-se dizer que para uma verdadeira e plena inclusão social, tenhamos, primeiro, que assumirmos como parte integrante do processo, cultivarmos uma mudança de nossas concepções frente à deficiência que nos possibilite vencer nossos estigmas e conviver com o portador de deficiência com a mesma naturalidade com que convivemos com todas as demais pessoas, entendendo que somos todos seres em que as deficiências e potencialidades coexistem e que enxergar e investir nas potencialidades sempre nos trará melhores resultados.
* Juliana Carvalho Reis é fisioterapeuta especialista em Reabilitação Cardíaca e Fisioterapia Respiratória, coordenadora e professora do curso de Fisioterapia do Centro universitário de Caratinga.
Mais informações sobre a autora: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4550986P7