*Vitor Modesto Braz
Quem tem acesso mínimo aos meios de comunicação, depara-se hoje com falsas ou manipuladas notícias ventiladas aos quatro cantos, com o único fito de angariar leitores ou telespectadores e consequentemente tornar o meio de comunicação mais rentável.
Para tal intento, os escritores, ressalta-se não ser em sua integralidade, e sim uma considerável parcela, aproveitando-se da facilidade de propagação das notícias (leia-se boatos), carrega nelas acusações, em sua maioria, infundadas, imputando a este ou àquele cidadão conduta desonrosa, iniciando ali o seu “julgamento popular”, sem qualquer direito do ofendido ao contraditório ou a gloriosa ampla defesa.
Naquele momento é plantada no leitor a semente da maldade, direcionando-o a realizar, sem qualquer prova concreta, uma sentença para condenar este ou aquele cidadão pelos atos praticados, ainda que corretos. Estes profissionais que deveriam zelar pelas informações que prestam, já que desempenham um papel importantíssimo perante a sociedade, e propositalmente se esquecem do seu juramento, focando somente o tão esperado ibope.
A imparcialidade restou esquecida quando da confecção e veiculação das matérias produzidas por aqueles escritores que se intitulam donos da verdade, julgando pessoas sem sequer conhecer o que ocorrera. Acontece que o problema não está em veicular e sim na forma como é narrada, como é mostrada, como é produzida a notícia, visto que é o primeiro contato que o espectador tem com o fato. Tais “julgamentos” remetem à época da inquisição, quando ocorreram os piores vereditos que são conhecidos nos tempos modernos.
Em tempo, é de se salientar que togados são pessoas investidas pelo poder estatal para o exercício da magistratura devendo, estes, julgar, após análise das provas oferecidas, conforme a legislação pátria permite. O que se verifica no presente tempo é que a mídia tem se tornado um órgão julgador perante a grande massa. O que é escrito ou falado nos websites, jornais impressos ou nos televisivos tem aceitação, pela população, como verdade real, incontestável, o que leva a um processo progressivo de adaptação às notícias tendenciosas levando, ao final, aceitar com normalidade a parcialidade da redação.
A operação Lava Jato, famosa pelos holofotes que lhe são concedidos pela imprensa nacional, também teve seu erro. A revista Veja noticiou em meados do ano de 2016 sobre um acusado que passou mais de um ano e meio recluso, por ordem do juiz presidente daquela ação. Quando da elucidação dos fatos, nada foi provado quanto a real participação deste. Durante este período o acusado foi escrachado e taxado de criminoso pela imprensa, por um delito que sequer cometeu, e por fim teve rompido o seu casamento, emprego e relacionamento com os filhos e amigos. A resposta que possuiu foi uma simples reportagem pela revista supracitada, informando o real acontecido, que ele não possuía laços com a organização criminosa, ou seja, durante todo o período que foi privado da sua liberdade, era sempre mencionada nas redações dos jornais, conduzindo a sociedade a um julgamento antecipado deste acusado, e ao final, quando revistas as provas e julgado inocente, apenas uma revista teve o decente ato de publicar, mesmo em poucas linhas, a sua ausência de culpa.
Fato também noticiado pela imprensa inquisitória foi da médica Virgínia Soares de Souza, acusada de ceifar a vida dos seus pacientes que inspiravam cuidados realizando, supostamente, procedimentos médicos para antecipar a morte daqueles que ocupavam leitos da UTI. Por força da mídia, que infelizmente na atualidade impulsiona o Poder Judiciário, teve sua prisão decretada, e teve sua imagem estampada nos noticiários dos maiores veículos de comunicação do país, sem qualquer chance de defesa, vendo seu nome e profissão lançados ao léu, sendo obrigada a ficar inerte. Verificou-se após todo o trâmite processual, que aquela profissional não agiu em desacordo com a ética que movimenta sua profissão, sendo absolvida pelo juízo que conduziu o processo. Agora se questiona, qual jornal deu o direito de resposta à médica? Novamente apenas um, em poucas e apagadas linhas informou o que realmente ocorrera, ou seja, nenhum trouxe justiça àquela que salvou diversas vidas.
Fatos como os acima narrados, são ínfimos grãos de areia sobre o que realmente ocorre com a frágil imprensa que governa o país. O que hoje também tem prevalecido é a fake news, principalmente em tempos de eleições tão importantes para o país, como as que serão realizadas neste mês de outubro. O que se vê é uma mídia tendenciosa, que traz falsas verdades ao conhecimento do leitor, ou telespectador, plantando, em solo fértil, inverdades de candidatos e partidos, norteando novamente o sufrágio. Lamentável!
A imprensa caminha a passos largos para a concretização da desordem. Como já narrado em linhas antecessoras, os escribas direcionam o pensamento apenas em colher leitores e likes em seus jornais e blogs que hoje encharcam os acompanhantes de notícias que não refletem a realidade, fazendo-os viajar em uma embarcação sem norte.
Os bons pensadores devem desagregar as falsas notícias daquelas que realmente contribuem para o conhecimento, para o intelecto, descartando aquelas que trazem somente o mau ruído, tendenciosas, que nada adicionam para o bom crescimento dos homens de bons costumes.
VITOR MODESTO BRAZ é Agrimensor e Acadêmico de Direito, Membro da Loja Maçônica Cavaleiros da Fraternidade nº 67 – Grande Loja Maçônica do Estado do Mato Grosso, Membro Correspondente da Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas.