Dia do Gari é comemorado amanhã. Conheça um pouco sobre a rotina destes trabalhadores
CARATINGA – Amanhã se comemora o “Dia do Gari”. Esses profissionais são os responsáveis pela coleta de lixo nas residências, varrição de ruas e demais serviços que têm por objetivo a limpeza pública. O trabalho desempenhado pelos garis tem grande importância para a população. Eles contribuem para saúde pública e para a estética da cidade, tornando ambiente mais agradável, tanto para quem mora no local, quanto para os visitantes.
Geralmente eles acordam bem cedo. Seja frio ou calor; ali estão eles. Prontos para a batalha diária. Muitas vezes fazem um trabalho silencioso, mas baseado em equipe. Eles enfrentam o preconceito de algumas pessoas e seguem realizando seu trabalho.
Para homenagear estes profissionais, o DIÁRIO DE CARATINGA conversou com duas pessoas: uma gari e um ex-gari. Eles falam um pouco sobre a profissão e do orgulho de desempenhá-la.
“ADORO MEU SERVIÇO”
Maria de Lourdes Gomes de Oliveira tem 41 anos de idade. Ela trabalha há pouco mais de dois anos como gari. “Queria um serviço fixo, de carteira assinada e encontrei esse. Estou muito satisfeita, adoro meu serviço”, conta.
A reportagem encontrou com Maria de Lourdes, quando ela fazia a limpeza da via pública, próximo ao Terminal Rodoviário Carlos Alberto de Mattos, mais conhecido como Rodoviária Nova. Era 10h30, mas ela já estava de pé há pouco mais de seis horas.
A rotina da trabalhadora começa às 4h. Neste horário ela cuida de alguns afazeres domésticos e da família. Maria é separada e mora com os dois filhos, sendo um homem já casado e uma menina de 11 anos de idade. “Tem que dar um jeitinho para tudo. A minha nora toma conta de tudo mais cedo, porque ainda tenho uma netinha; mas encaro a minha vida só. Eu que sou a cabeça da família”.
Antes de descer para o trabalho, às 5h30, Maria de Lourdes cuida da aparência. A gari sorridente, de trança no cabelo e brincos grandes, faz questão de cuidar do visual. “Não pode andar desleixado, tem que cuidar do corpo, uniforme e visual. Não é porque varro rua, que tenho que andar desmazelada. Tenho que ter uma boa imagem”, brinca.
O trabalho veio como uma oportunidade de sustentar a família de forma digna, pois ela lamenta não ter tido a oportunidade de estudar. “Estudei somente até a segunda série. Minha avó, naqueles tempos antigos, não me deixou estudar. Morava na roça, em Santa Efigênia, o que já dificultava mais ainda. Depois casei, vim pra cá, me separei e estou aqui até hoje. Trabalhando, estou bem, o serviço dá para sustentar a família e ainda sobra”.
Questionada se já sofreu algum tipo de constrangimento nas ruas, Maria afirma que ainda encontra pessoas que respeitam a sua profissão. Mas, ela chama atenção para a falta de consciência de algumas. “Preconceito algumas pessoas têm, mas outras são boas. O problema maior que vejo é que varremos na frente, eles sujam atrás. A gente não pode falar nada porque está trabalhando e não pode chatear os outros. Então encaramos numa boa, até sorrindo. Olha para as amigas, sorri, porque não podemos falar nada. Eles jogam aquele lixo como quem não quer nada, mas temos que levar isso, é nosso serviço, temos que fazer”.
CARNEIRO: 29 ANOS DE GARI
José Carneiro da Silva, 71 anos, conhecido como “Carneiro”, foi gari por 29 anos. Foram muitos anos de serviços prestados na cidade de Caratinga, no tempo em que a profissão ainda encarava certo preconceito por parte da sociedade.
Carneiro lembra que era um período difícil e que exigia muito esforço e dedicação dos trabalhadores. “Na época era puxado. Assistência era pouca, tinha dificuldades, até o humor de trabalhar era complicado. Mas, como a gente estava para aquilo, com fé em Deus fomos trabalhando”.
A maioria das ruas de Caratinga já recebeu a limpeza das vassouras de Carneiro. Ele era bastante visto pelo centro da cidade, mas afirma que é difícil contabilizar os locais por onde passou. “Trabalhei em todos os lugares. A pessoa tem que gostar de trabalhar, para encarar, porque na época era bem difícil. Se você não lembrasse que tinha necessidade de trabalhar, não dava”.
Algumas dificuldades enfrentadas pelos garis naquela época, segundo Carneiro, eram os olhares da sociedade. Mas, apesar de muitos olhares de indiferença, Carneiro viu muitos sorrisos e construiu muitas amizades. “Acho que hoje não falta muito respeito com os garis. Antigamente era meio lá, meio cá, tinha gente que tratava mal, mas a gente estava para atender todo mundo. Apesar disso, no final do ano sempre o comércio colaborava com a gente, era um presentinho. Graças a Deus, o tempo que trabalhei só conquistei amizade pela rua, então não me sinto fora de casa, qualquer lugar que eu chegar estou em casa. Tinha orgulho de ser gari, respeitar e ser respeitado”.
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ORIGEM DO TERMO ‘GARI’
O nome profissional de GARI é em homenagem ao francês Pedro Aleixo Gary, primeira pessoa a assinar um contrato de limpeza pública com o Ministério Imperial, organizando assim, a partir do dia 11 de outubro de 1876, a remoção de lixo das casas e praias do Rio de Janeiro. Vencido o contrato em 1891, entrou seu primo, Luciano Gary. Um ano após, a empresa foi extinta e inaugurada a Superintendência de Limpeza Pública e Particular da cidade, realizando um trabalho muito aquém do proposto em termos de limpeza pública.
Os cariocas, acostumados com a limpeza das ruas após a passagem dos cavalos, mandavam chamar a turma do Gary. Aos poucos o nome se generalizou e até hoje são chamados garis.
Fonte: Site Porto Web