Folhinha com os dias do ano traz fotos de donos de fuscas e seus respectivos carros
“Bendito quem inventou o belo truque do calendário, pois o bom da segunda-feira, do dia 1º. do mês e de cada ano novo é que nos dão a impressão de que a vida não continua, mas apenas recomeça…”
Mário Quintana
DA REDAÇÃO – Contar os dias pelo desenrolar das fases da Lua é um fascínio dos homens que vem desde a pré-história. A necessidade de se organizar essa contagem do tempo deu origem aos primeiros calendários, orientados por astros, deuses da mitologia, por liturgias e por fenômenos da natureza. Hoje, às vésperas de 2017, o fotógrafo Eduardo Galetto lança o Fuscalendário, nome de batismo do calendário de 2017 idealizado por ele e que traz fotografias de donos de fuscas e seus respectivos veículos. O fotógrafo escolheu onze proprietários do Vale do Aço e um de Bom Jesus do Galho.
Sobre o projeto, Eduardo Galetto recorre a sua infância. “É a chamada memória afetiva. Quando menino, achava o Fusca o carro mais bacana. Pensava que seria o máximo poder dirigir um deles. Isso ficou na minha mente e acabou inspirando esse trabalho”.

Fuscalendário buscou documentar, por meio da fotografia, a expressiva cena cultural do antigomobilismo, bem como divulgar e incentivar a sua valorização
ANTIGOMOBILISMO
Segundo Galetto, entre os mais importantes propósitos desse trabalho está o de promover a cena local voltada ao antigomobilismo, carente de iniciativas culturais e artísticas que valorizem essa cultura de preservação da história narrada pelos veículos. “Fuscalendário é um retrato vivo da história socioeconômica e tecnológica de vários períodos. Todas as fotos reúnem elementos que ajudam a narrar um pouco da vida de cada um dono de fusca”, adianta o fotógrafo, que, antes de produzir cada foto, entrevistou os personagens do calendário, “pessoas bem diferentes, mas que comungam do mesmo interesse: a preservação e o afeto por seus antigos automóveis Fusca”, sublinha Galetto.
O fotógrafo comenta que o calendário, além do seu caráter utilitário – todo mundo precisa de um, ele tem um sentido poético de preservação da memória para além das fotografias. “Os saudosistas entendem bem esse valor dos calendários. As folhinhas sempre fizeram parte da vida do universo dos automóveis. Elas sempre foram itens comuns da decoração das paredes de ambientes ligados aos carros, como é o caso das borracharias. Quem não se lembra dos calendários Pirelli, da década de 60?”, acrescentando que, no caso do Fuscalendário, ele reúne dois objetos de identificação popular, a folhinha e o Fusca.
Fuscalendário foi produzindo como trabalho de conclusão de curso de Comunicação Social, teve como referências obras como “Sobre a Modernidade: o pintor da vida moderna”, de Charles Baudelaire; e “O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”, de Walter Benjamin.
MEMÓRIA AFETIVA
A memória afetiva que impulsionou Eduardo Galetto a fazer este trabalho é a mesma que faz com que Abdon José Corrêa ainda tenha em sua garagem um Fusca, ano 1979. Afinal o carro pertenceu a sua mãe. O ator britânico Jeremy Irons disse certa vez que “todos nós temos nossas máquinas do tempo. Algumas nos levam pra trás, são chamadas de memórias. Outras nos levam para frente, são chamadas sonhos”. E a ‘máquina do tempo’ de Abdon é o seu Fusca, pois remota ao forte vínculo familiar e hoje o impulsiona em seu dia a dia.
E para ilustrar o que representa esse veículo na vida de Abdon, ele foi fotografado ao lado do Fusca na fazenda onde nasceu, localizada no Povoado Meia Laranja, zona rural de Bom Jesus do Galho. “Este carro foi adquirido em 1979 e não saiu das ‘mãos’ da família. Depois minha mãe veio morar comigo e minha esposa, então ela me falou o seguinte: ‘meu filho traz o carro para você me levar para todos os lados’. Depois com a morte de minha mãe, que faleceu aos 95 anos de idade, comprei a parte dos meus irmãos e fiquei com o Fusca”, recorda Abdon.
E o apreço pelo Fusca gera algumas brincadeiras. O filho de Abdon costuma pedir ao pai para vender o carro, mas ele responde dizendo que ainda irá mandar dar uma ‘arrumada’ no veículo. “Não posso dispor dele. Temos que aprender a valorizar a nossa memória, a nossa história”, diz de forma enfática o proprietário. Afinal, como ensina o filme ‘Doador de Memórias”, “as memórias não são apenas sobre o passado, elas determinam o nosso futuro”. Então, o futuro da família Corrêa e do Fusca está garantido.
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