Vítima estava grávida e foi esfaqueada 17 vezes. Ela pulou do carro do autor em movimento. Uma cesariana foi realizada em caráter de urgência, mas ela não resistiu. O estado do bebê é considerado grave. Autor se entregou e recebeu voz de prisão.
CARATINGA – No Brasil, o feminicídio é um crime brutal que, a cada dia, tira a vida de mulheres em todo o país. A violência contra a mulher, muitas vezes camuflada como um simples ato de ciúmes ou desentendimentos, tem mostrado a face mais cruel em casos que resultam na morte de mulheres. Em 2024, mais de 1.300 vidas foram tragicamente perdidas devido ao feminicídio, e as estatísticas ainda não param de crescer. E ontem, um nome foi colocado a essa trafica estatística: Luciene Teixeira
Em uma ação, a Polícia Militar prendeu um homem, 45 anos, por feminicídio. A ocorrência foi registrada na madrugada desta segunda-feira (17). A vítima Luciene Teixeira estava grávida e foi esfaqueada 17 vezes. Ela pulou do carro do autor em movimento. Uma cesariana urgente foi realizada no hospital, mas ela não resistiu. O estado do bebê é considerado grave. O autor se entregou e recebeu voz de prisão.
A abordagem
Na madrugada dessa segunda-feira (17), a Polícia Militar realizava patrulhamento no centro de Caratinga, quando uma equipe avistou um veículo Citroën C4 Pallas, de cor preta, transitando em alta velocidade. O condutor fez uma conversão brusca à esquerda na praça Coronel Rafael da Silva Araújo, a “Praça da Estação”.
Durante a abordagem, um dos militares observou que uma mulher estava com parte do corpo para fora da janela do passageiro, e logo em seguida, pulou do veículo em movimento. Ao se aproximarem, os policiais militares constataram que se tratava de uma mulher grávida, que estava nua, apresentava diversos cortes de faca pelo corpo, sangramento intenso na região da cabeça e dificuldades para respirar.
Imediatamente, a equipe da Polícia Militar acionou o Corpo de Bombeiros Militar, que prestou os primeiros socorros e encaminhou a vítima ao Hospital Nossa Senhora Auxiliadora para atendimento médico de urgência.
A vítima relatou que foi agredida pelo companheiro. Segundo ela, as agressões começaram após o autor descobrir uma traição. Em meio à discussão dentro de casa, ele pegou uma faca e desferiu vários golpes contra ela, e depois a colocou no veículo e saiu dirigindo pelas ruas da cidade, momento ela que conseguiu saltar do carro em movimento para escapar.
Autor preso
De posse das informações, equipes da Polícia Militar iniciaram o rastreamento do suspeito. Pouco tempo depois, os militares receberam a informação de que o autor havia se apresentado espontaneamente na Delegacia de Polícia Civil.
Uma equipe da Polícia Militar deslocou-se até o local e efetuou a prisão do autor pelo crime de tentativa de feminicídio contra sua companheira, que acabou mudando para feminicídio com a morte de Luciene.
Devido à gravidade dos ferimentos, a vítima precisou passar por uma cesariana de emergência para preservar sua vida e a do bebê, diante das condições críticas em que se encontrava após o crime.
A perícia criminal foi acionada e realizou os trabalhos no veículo e no local dos fatos. Foram apreendidos dois telefones celulares, um pertencente ao autor e outro à vítima, além da faca utilizada no crime, e câmeras de vigilância. O veículo foi removido pela empresa Guincho Car e o autor entregue à Delegacia de Polícia Civil de Caratinga.
Até o final desta edição, o bebê seguia internado no hospital Nossa Senhora Auxiliadora, onde recebia cuidados intensivos; seu estado é considerado grave, porém estável.
PPVD
A Polícia Militar informou que o casal já havia se envolvido em outros dois registros de ocorrência policial em 2024, ambos relacionados à violência doméstica. Na ocasião, a Patrulha de Prevenção à Violência Doméstica (PPVD) procurou pela vítima para oferecer assistência e inclusão no protocolo de atendimento, porém, ela recusou os serviços.
A PPVD é um serviço prestado pela Polícia Militar para apoiar vítimas interessadas em romper o ciclo de violência. O programa acompanha boletins de ocorrência existentes, aumentando a capacidade de atenuar danos e prevenindo a revitimização. No entanto, o acompanhamento só pode ser realizado com o consentimento da vítima, o que ajuda a evitar a reincidência dos casos.
Sinesp
Luciene Teixeira se junta a uma triste estática. Os dados Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Sinesp) evidenciam de forma contundente a tragédia do feminicídio no Brasil. Em 2024, ao menos 1.387 mulheres foram assassinadas por razões relacionadas ao gênero, uma média de quatro feminicídios por dia. Os estados com o maior número de registros absolutos foram São Paulo (227), seguido de Minas Gerais (133) e Bahia (105).
O crime de feminicídio é uma qualificadora do homicídio doloso e foi inserido ao Código Penal por meio da Lei 13.104/2015. Essa legislação define o feminicídio como o assassinato de mulheres em contextos de violência doméstica e familiar, em razão de menosprezo ou discriminação à condição feminina.