Walber Gonçalves de Souza
Com as festas de fim de ano se aproximando surge também o tempo das reflexões, quando cada um de nós dedica alguns instantes da existência para, de alguma forma, pensar na vida e nos acontecimentos do ano que se finda. É hora de pensar nas conquistas, nas derrotas, nos desafios, nos sonhos… Enfim, momento de fazer a famosa retrospectiva e pensar nos planos futuros.
Então é natal, tempo de paz, de fazer a paz, tempo de perdoar, de amar, tempo de confraternizar, de festejar, de encontrar amigos de perto e de longe, tempo de agradecer, tempo de se refazer, tempo de acreditar, de louvar a vida e ousar.
E como o natal é também tempo de meditar, um dia desses me vi com o seguinte pensamento: uma noite dessas subi ao terraço de minha casa, isto por volta de umas onze horas, de onde consigo visualizar boa parte do território da cidade, bem como praticamente toda a rua em que resido.
Veio à memória tempos de infância, tempos estes em que a figura do Papai Noel soava como uma verdade absoluta. Era impossível não acreditar na figura do bom velhinho que trazia um saco cheio de presentes. Na verdade, não me recordo de ter nenhum pedido na íntegra atendido, influenciado pelas telinhas sempre sonhava com algo que o “papai noel” não poderia me dar. Entretanto também, a data não passava em branco, sempre alguma coisa estava perto da minha cama, esperando o meu despertar. Pois como sabemos o bom Papai Noel sempre passa quando as crianças estão dormindo. E lá em casa não seria diferente.
Continuando meu momento introspectivo, do terraço fiquei admirando a cidade, às vezes passava uma moto ou um carro e quebrava o silêncio que praticamente regia o som daquele momento. Olhei para as casas, para os prédios, para o meu próprio terraço e percebi que continuavam os mesmos de todos os dias anteriores. Faltava algo, faltava a alegria contagiante do natal. Faltavam as luzes que outrora piscavam sem parar. Confesso que senti uma sensação ruim, um sentimento que não combina com o espírito do natal.
Estranho dizer isto, mas parece que estamos perdendo o encanto do natal, ano após ano as luzes estão se apagando. A percepção que tenho é que a casa acaba sendo o reflexo do espírito de cada um de nós, seus moradores. Alguém poderia dizer que é a crise. Mas desde os tempos em que eu acreditava em Papai Noel ouvia falar de crise, que pelo visto insiste em se fazer presente até hoje. Sem falar que, como dizem por aí, as coisas hoje estão muito mais fáceis, inclusive os enfeites de natal.
Em outros anos constantemente ouvia alguém dizer que seria o ano das lembrancinhas, que o “papai-noel” deveria gastar pouco, ser mais modesto. Este ano tenho ouvido muita gente dizer que nem com lembrancinha vai poder presentear. Conseguir reunir a família para uma ceia de natal já será uma grande conquista. Assim, fica a pergunta: por onde será que vai andar o papai-noel?
Os símbolos existem para transfigurar os sentimentos, para proporcionar a criação do clima que se espera daquela data. Sem eles todos os dias se tornam iguais. Por isso o papai-noel e os demais símbolos se tornam tão importantes e necessários para que as noites que envolvem o natal se tornem de fato natalinas. Acho tão triste quando uma criança de pouquíssima idade afirma com todas as certezas do mundo que Papai Noel não existe. São os sinais dos tempos!
Parece démodé o que vou dizer, mas a crise do natal, na percepção deste escriba, nada mais é do que o espelho da crise do próprio ser. Natal combina com presentes, com festas… Que a meu ver são necessários, mas combina também com todos os sentimentos e atitudes que não podemos deixar morrer, mas parecem que estão. Presente sem amor, festa sem união, companhia sem afeto, não faz do natal uma festa para a qual ele se propõe.
Então que neste natal o Papai Noel e as luzes que abrilhantam as noites natalinas voltem a brilhar em cada um de nós. Só assim, acredito eu, voltaremos a transformar nossas cidades, dando a elas as cores e brilhos do natal. Desejo a todos um natal abençoado!
Walber Gonçalves de Souza é professor.