ELES NÃO DEIXAM O HOMEM TRABALHAR

  • Eugênio Maria Gomes

Recentemente, ao conversar com uma pessoa sobre o andamento do Governo Bolsonaro, fiz uma crítica sobre a sua forma de agir, em família, como se ainda fosse candidato, e ouvi do meu interlocutor que eu estava falando aquilo, “por ser de Esquerda”. Antes de responder, claro que não contive o riso. É que em todos os textos que escrevi, criticando o PT e os seus agentes no governo, nunca ouvi de um militante do partido uma coisa tão esquisita, tipo “você fala isso porque é de Direita”.

Confesso que achei interessante a colocação. Quando criticava a Esquerda, sempre ouvi contrapontos, discordâncias, argumentos, mas nunca uma insinuação de que eu seria de Direita. Agora, quando critico a Direita, imediatamente sou taxado de esquerdista. Eu sou um cronista e, mesmo me sentindo mais próximo da ideologia Centro-Esquerda, jamais senti qualquer melindre para criticar o PSDB e seus agentes públicos, até porque, também eles, estão afundados em denúncias de corrupção.

Então, não vejo porque deixar de criticar o novo governo. Aliás, o governo ainda não fez nada de muito consistente para ser criticado ou aplaudido – até porque são, apenas, setenta e cinco dias de governo -, por isso, a minha crítica é voltada à atuação de alguns ministros e à ingerência no governo pelos “meninos do presidente”, felizes demais com o “brinquedinho” que receberam, de nome Brasil, e que metem os pés pelas mãos todos os dias, criando desconforto para o pai presidente. É claro que há quem diga que tudo isso é lero-lero e que seria o próprio Bolsonaro que utiliza sua cria para criar mal-estar àqueles dos quais ele não gosta e que gostaria de ver fora do governo. Não acredito nisso, acho que é interferência mesmo dos filhos problemáticos.

Entre os seus filhos, dois mais complicados…

O mais conhecido, o senador Flávio Bolsonaro, tomou a mídia para si – a partir de seu envolvimento com o motorista miliciano e com funcionários fantasmas – e acabou atingindo a boa imagem da primeira dama, já que ela recebeu dinheiro em sua conta, depositado por um motorista, que faz tratamento de câncer no Hospital Albert Einstein. Aliás, uma pergunta: você que é professor, funcionário público, motorista, auxiliar administrativo, já passou pelo menos perto desse hospital? A conta é simples: entre cirurgia, diárias e honorários médicos, a conta de Queiróz no Einstein deve ter ficado por volta de sessenta mil reais. Ah, mas ele tem plano de saúde… Pode ser, mas o Einstein informa que, um plano de saúde para ser utilizado no hospital, para uma família de quatro pessoas, fica em torno de seis mil reais… Não precisa nem fazer muito esforço para entender que o Flavinho está enrolado até o pescoço nessa história…

O segundo, o vereador carioca Carlos Bolsonaro, recentemente criou um grande mal-estar no governo ao desmentir um ministro, chamando-o de mentiroso. A interferência do filho, em assuntos de governo, teve um impacto fulminante, levando inclusive o general e vice-presidente – que tem conseguido a proeza de ser um dos mais comedidos no topo da estrutura governamental – a dizer que “em breve, na hora certa, o presidente vai dar um jeito em seus filhos”. Por enquanto, não foi o que aconteceu. Bolsonaro, ao deixar os laços de sangue falarem mais alto, fritou Gustavo Bibiano. Em vez de pedir demissão, ele resolveu ficar e esperar ser mandado embora, respigando a gordura da fritura, em um governo que mal assumiu.

Sobre ministros, basta um deles – a responsável pela pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos – para deixar o sério e tímido Sérgio Moro sem saber onde enfiar a cara.  Não deve ser nada fácil conviver com uma Damares Alves… Aliás, por falar em Sérgio Moro, até ele teve de desfazer um ato por conta do desagrado dos meninos do presidente. Também o ministro da Educação – Ricardo Vélez Rodrigues -, que até hoje não conseguiu montar a equipe mínima do primeiro escalão, teve de se retratar recentemente, depois que o presidente mandou cancelar a mensagem ridícula que ele tinha enviado às escolas. Não, não estamos falando sobre cantar o hino nacional, até porque essa determinação já existe há anos e não é obedecida por ninguém. Estamos falando de filmagens não autorizadas dos alunos, de repetição de slogan de campanha, em ambiente educacional.

Não – eu não sou contra o governo Bolsonaro. Seus eleitores precisam entender que ele pode sim, receber críticas. Ele não é Mito, não é Deus, é apenas um homem, que sobreviveu a um atentado só Deus sabe como, que certamente está abdicando de muitas coisas para exercer uma função muito difícil, que não pode ser culpado por todos os problemas e desmandos que já vivemos há séculos, mas que também erra e que precisa se posicionar como presidente e assumir, pessoalmente, o controle do barco. Eu sou a favor do Brasil. Critiquei e elogiei Lula, assim como fiz com Fernando Henrique e Dilma. Espero poder voltar aqui, em breve, e elogiar Bolsonaro. Até aqui, o presidente não fez outra coisa a não ser desfazer as lambanças de seus assessores e parentes…

  • Eugênio Maria Gomes é professor e escritor. Membro da ALB- Academia de Letras do Brasil -, da Alto – Academia de Letras de Teófilo Otoni -, da AMLM – Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas – e presidente da ACL – Academia Caratinguense de Letras do Leste de Minas. É Pró-reitor e professor do Unec, membro da Lions Clube Caratinga Itaúna, do MAC – Movimento Amigos de Caratinga – e da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga.