“2021: 40 anos da força e leveza da mulher na Polícia Militar”
CARATINGA – No ano de 2021, a Polícia Militar de Minas Gerais comemora 40 anos de inclusão da mulher policial militar nas fileiras da corporação.
A mulher policial militar conquistou seu espaço na instituição por meio de trabalho, dedicação e profissionalismo, merecendo todo reconhecimento e valorização. E para homenagear essas mulheres literalmente guerreiras, afinal o Dia Internacional da Mulher é comemorado nesta segunda-feira (8), o Diário de Caratinga parte da história da entrada da mulher para a Polícia Militar e traz entrevistas com uma sargento que em 2010 entrava para a corporação e com outra que um ano depois, em 2011, entrava para a reserva remunerada (aposentada)
A sargento Josilaine Oliveira Melo Porto Marliere, 36 anos, é casada com o também sargento Lucas Evangelista Ferreira Marliere, e é mãe da pequena Cecília Melo Porto Marliere de três anos. Já a sargento Glísia Maria Ferreira e Silva, 52 anos, é casada com o também policial militar da reserva remunerada, Cleber Ferreira da Silva, e é mãe de Nathália com 29 anos, Rhenan Víctor com 17 anos e Rafaella com 13 anos.
Duas mulheres militares que são exemplo para a Polícia Militar em tempos bem diferentes, mas com a mesma história de coragem e determinação.
SARGENTO JOSILAINE
Por que decidiu ingressar na carreira militar?
Entrei na Polícia Militar em 2010 no 11° Batalhão de Manhuaçu. Ser policial militar sempre foi um sonho, sempre achei a carreira muito bonita, muito honrosa, então comecei a estudar no ano de 2009, e em 2010 consegui ingressar no curso de soldados em Manhuaçu.
Como vê a mulher na polícia militar, acha que ainda existe preconceito?
A profissão policial militar para a mulher, pelo menos na instituição, é tratada de forma igual, não tem essa distinção. Claro que tem um trato diferenciado em relação ao gênero, mas o que o homem faz, a mulher também faz. Tanto que a Polícia Militar possui vários portfólios que são comandados por policiais femininas. A base comunitária móvel tem uma mulher trabalhando, a soldado Flávia, a Patrulha de Prevenção à Violência Doméstica, voltada para as mulheres que sofrem violência, comandada pela sargento Cássia. Então a Polícia Militar preocupa muito com a mulher tanto na instituição, quanto fora dela.
Como avalia o desenvolvimento da mulher dentro da instituição?
A mulher não só na Polícia Militar vem ganhando espaço, liderando empresas, instituições que tecnicamente em que a maioria são homens, como na PM. Na Polícia Militar, tanto internamente como externamente na área operacional, no serviço ostensivo, a mulher ganhou espaço.
Qual maior desafio encontra sendo policial feminina?
O desafio da mulher é conciliar tudo, trabalhar, ser dona de casa, ser esposa e ser mãe, é muito difícil, mas que a mulher dá conta. E na Polícia Militar é um curso bem puxado, na questão física, intelectual, mas a mulher consegue dar conta de todas essas áreas com muita excelência.
E qual a mensagem deixa para as mulheres?
A Polícia Militar agora em 2021celebra 40 anos de incursão da mulher na instituição, em Minas Gerais. E para todas as mulheres que quiserem ingressar na área de segurança pública, na Polícia Militar, meu conselho é que estude muito, é uma profissão muito valorizada, e a exemplo meu, gosto muito, e qualquer mulher que quiser ser PM as portas estão abertas, basta estudar e se dedicar bastante.
SARGENTO GLÍSIA
Que ano entrou na PM?
3 de fevereiro de 1987.
Qual a comparação que faz da estrutura da polícia de quando entrou pra quando foi para a reserva?
Acredito que a PM avançou e muito no que tange à presença da mulher em suas fileiras. E após estudos, concluíram que se fazia necessário a inclusão de mulheres, pois o trabalho constitucional da Polícia Militar não demanda somente força muscular dos homens, como equivocadamente se entendia a tempos atrás, chegou-se à conclusão que necessitava de forma imprescindível de mulheres que pudessem também ter a força muscular semelhante, mas também dotadas de empatia, espírito de luta, perspicácia potencializada, e competência comprovada.
Por que quis ingressar na carreira militar?
Confesso que minha primeira influência foi meu pai que também é militar, mas acredito que é nato, um dom, logo na adolescência assisti a uma palestra realizada por mulheres policiais militares e me encantei com a carreira. Isso tudo aliado à vontade de servir a sociedade e de ver a justiça sendo feita através de minha contribuição diária.
Estão completando 40 anos que a mulher entrou na Polícia Militar, qual sua análise desse fato, já que sempre vivemos numa sociedade preconceituosa?
O preconceito ainda existe, contudo, devido à publicidade que todos os fatos conseguem atualmente, o preconceito principal existente hoje, está na forma velada, em que pouquíssimas pessoas tomam conhecimento. Importante que sempre que ocorrer algum ato preconceituoso ou segregador, que a vítima denuncie, tendo em vista que atos desta natureza não cabem mais na sociedade em que vivemos.
Partindo do princípio da novidade, como foi a reação das pessoas no primeiro patrulhamento que você fez?
Nossa! (risos). Parece piada, mas quando saímos à rua para o primeiro patrulhamento, parecíamos extraterrestres, ficavam nos olhando e inclusive, houve vários acidentes de trânsito, pois, os motoristas ficavam olhando e esqueciam da atenção à direção do veículo, mas logo em seguida, quando tinham algum tipo de contato profissional conosco, esse vislumbre inicial se transformava em admiração por conta de nossa seriedade no trabalho e de nosso profissionalismo.
Quais os valores que você aprendeu na PM e quer passar para sua neta, agora que será avó?
Não diria ter aprendido exclusivamente na PM, considerando que tais valores já me acompanham desde de minha tenra infância no seio familiar, mas o convívio na caserna (PM) potencializou meus valores, tais como respeito ao próximo, ética, lealdade, honradez e honestidade, valores que imputo a todos os Policiais Militares, e que certamente repassarei para minha neta que está chegando (risos), assim como passei para meus queridos filhos.
Além da PM, a mulher passou a ter uma presença mais atuante em outras áreas na últimas quatro décadas, existe algum setor que você avalia que ainda tem pouca presença feminina?
Entendo que alguns setores embora tenham presença feminina, precisam potencializar, como exemplo o setor aeronáutico (pilotos de aviação comercial e demais áreas), engenharia e CEO de grandes empresas, salientando que a realidade nos mostra que atualmente, mulheres que exercem a mesma função que homens tem uma remuneração inferior e menor probabilidade de ascensão na carreira. Felizmente na PM de Minas isso não ocorre, tendo em vista que a remuneração é igual para cada posto ou graduação, independente do gênero.
Qual a mensagem que deixa para as mulheres?
Teria muito a dizer, mas sinteticamente resumo em:
“A força da mulher não provém da capacidade, e sim de uma vontade indomável” (desconheço o autor).