Canonização dos pais de Santa Teresinha
No dia 18 de outubro de 2015, o papa Francisco canonizou o casal Luís e Zélia Martin, pais de Santa Teresinha do Menino Jesus – uma das santas mais populares de nosso tempo e uma das mais expressivas devoções da igreja católica.
Luís Martin nasceu em 1823, e Zélia Guérin em 1831. Ele era relojoeiro, e ela rendeira. Ambos era filhos de militares e foram educados num ambiente disciplinado e religioso. Luís teve sua formação com os “Irmãos das Escolas Cristãs” e Zélia com as “Irmãs da Adoração Perpétua”. Zélia – mantenedora da família – especializou-se no “Ponto de Alençon”, escola que ensinava a tecer rendas. Posteriormente, abriu uma fábrica de rendas e alcançou sucesso vendendo seus trabalhos para a alta sociedade parisiense. Luís viveu 3 anos em Paris, em casa de parentes para aperfeiçoar no trabalho de relojoeiro. Depois mudou-se para Alençon onde trabalhou e, até os 32 anos, levou uma vida ascética.
Luís e Zélia nutriam na adolescência o desejo de pertencerem a alguma comunidade religiosa. Ele pediu para ser admitido entre os Cônegos Regulares de Santo Agostinho no hospital do Grande São Bernardo, nos Alpes Suíços, mas não foi aceito por não conhecer o latim. Ela tenta entrar na ordem das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, mas sente que aquele não era seu ideal.
O encontro entre os dois ocorreu em 1858 na ponte de São Leonardo em Alençon. Ao ver Luís, ela conta que uma voz lhe disse: “Aquele é o homem que preparei para ti.” Percebeu distintamente que era o homem que Deus lhe reservara. Após poucos meses de noivado, casam-se. Vivem uma vida conjugal pautada no Evangelho, com missa cotidiana, oração pessoal e comunitária, confissão frequente e participação na vida paroquial. Nasceram-lhes nove filhos, quatro dos quais morreram precocemente. Entre as cinco sobreviventes está Teresinha. Educadas à luz da religião, da caridade, do exemplo dos pais, todas entraram para a vida religiosa.
Aos 46 anos de idade, Zélia recebe a triste notícia que tinha um tumor no seio. Viveu a doença com esperança e resignação, morrendo em agosto de 1877. Luís, com 54 anos, teve de ocupar sozinho da família. A filha mais velha tinha 17 anos e a mais nova, Teresinha, tinha 4 anos e meio.
A família mudou-se para Lisieux onde morava o irmão de Zélia e, de 1882 a 1887, Luís cuidou das filhas com extremo carinho e dedicação sem limites. Acompanhou as filhas ao Carmelo, e seu maior sacrifício foi afastar-se de Teresinha que entrou para a congregação com apenas 15 anos de idade.
Atingido por uma doença mental, Luís tornou-se inválido, sendo internado no sanatório de Caen. Em momentos de lucidez, em meio ao sofrimento, dizia: “Tudo para a maior glória de Deus”.
Nas cartas familiares, Zélia sempre falava da bondade do marido e do quanto ele era santo. Os testemunhos de Teresinha sobre a intimidade do pai com Deus dizem: “Por vezes, seus olhos marejam-se de lágrimas. Parece estar já desligado da terra, tanto sua alma gosta de imergir nas verdades eternas.” (Manuscrito A, 60) “Não precisando senão olhar para ele para se saber como rezam os santos.( Manuscrito A, 63).
Zélia era um depositário de virtudes. A caridade, principalmente com os pobres e sofredores, foi a nota marcante de seus gestos. Tratava como filhas as operárias de sua fábrica, e ao ver alguém sofrendo, apressava-se socorrer e ajudar.
Os milagres exigidos para a beatificação e posterior canonização foram curas que a medicina considerou inexplicáveis. Durante o ato solene que elevava Luís e Zélia à honra dos altares, o papa Francisco falou das qualidades dos dois e da grandeza de alma que os fez santos. Talvez sejam os únicos santos na história da Igreja que, invocados juntos, foram canonizados juntos.
Agradecemos a Deus por permitir que tenhamos mais dois santos como exemplo e como intercessores. Eles que souberam tão bem iluminar e santificar a família deles, possam olhar com carinho para nossas famílias, tão necessitadas, hoje, da graça divina.
Marilene Godinho