
Prof. Sebastião Ricardo Machado Meireles
Professor e coordenador dos cursos de História e Geografia do Unec
A importância do campo para a vida de todos não pode ser subestimada, afinal, não existe vida sem a produção que ele proporciona. É nele que encontramos a base de nossa alimentação, as matérias-primas para nossas roupas e muitos dos recursos naturais que sustentam nossa sociedade. Além disso, o campo abriga uma riqueza cultural e idenitária inestimável, representada pelos camponeses, que têm uma conexão profunda com a terra e uma história rica de tradições.
Nesse contexto, a Educação do Campo emerge como uma necessidade fundamental. Ela faz referência à identidade cultural dos camponeses, valorizando-os como sujeitos que possuem laços culturais e valores relacionados a vida ligada à terra. A Educação do Campo compreende as várias etapas da educação voltada para o meio rural em todas as suas formas de produção da vida, abrangendo agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados da reforma agrária, quilombolas, indígenas, entre outros.
Para compreender e valorizar a identidade dos povos do campo, é essencial fortalecer o sentimento de pertencimento, valorizar o trabalho, a história, o “jeito de ser” e os conhecimentos do camponês. Isso não apenas preserva as tradições, mas também enriquece a sociedade como um todo. Nesse sentido, Paulo Freire, patrono da educação brasileira, afirmou que “a educação passa pela questão da identidade cultural”.
Além disso, políticas públicas são necessárias para garantir o acesso à educação no campo. Isso inclui a ampliação das escolas rurais, a implementação de políticas de formação de professores e gestores, a melhoria das condições de trabalho dos educadores do campo e a disponibilização de livros didáticos específicos que reflitam a realidade e a cultura camponesa.
No entanto, não é isso que acontece. Infelizmente, deparamo-nos com a desvalorização da Educação do Campo em muitos aspectos. Há uma disputa entre a visão do campo como um lugar de negócios ou como um lugar de viver, com implicações políticas e econômicas que prejudicam a educação rural. O projeto neoliberal muitas vezes coloca em risco a preservação das escolas do campo, pois não se preocupa com uma educação que valorize o ser humano, mas sim com uma agenda tecnicista que prioriza os lucros em detrimento do desenvolvimento humano.
Um dos problemas mais preocupantes é o fechamento de escolas do campo. Nos últimos 25 anos, foram fechadas cerca de 80 mil escolas, e Minas Gerais lidera o ranking no Sudeste nesse aspecto. Os municípios mais pobres são os mais afetados por esse fenômeno, que contribui para o êxodo rural e vai na contramão da Lei 12.960 (2014), que tem como um dos objetivos aumentar o grau de exigência para o fechamento de escolas, visando garantir o acesso à educação em todas as regiões do país.
Outro ponto importante a discutir em relação a Educação do Campo é a promoção de uma educação diferenciada, que atenda essencialmente a realidade e a cultura do camponês. Essa educação diferenciada deve fortalecer a identidade da população rural, formar sujeitos ativos, como lideranças locais, e oferecer uma formação planejada para realizar atividades de valorização do campo, como festas da colheita, culinária regional e outros aspectos culturais, por exemplo. Uma matriz pedagógica adaptada ao campo é essencial para garantir que os conteúdos sejam relevantes e aplicáveis à realidade local, proporcionando uma educação significativa e eficaz.
Portanto, é papel de todo cidadão e cidadã lutar por melhorias na educação. E é urgente a necessidade de valorizar as escolas localizadas nas áreas rurais, adaptar as abordagens pedagógicas à realidade rural e evitar o fechamento delas. Cuidar da educação do campo é essencial para preservar a identidade cultural, valorizar o ser humano e garantir um futuro sustentável para todos. Afinal, como mencionado no início, não existe vida sem a produção do campo.
O motivo desse texto é alertar e trazer à tona reflexões importantes sobre a educação do campo, principalmente porque muitos de nós nem ao menos sabemos que existem diferenças. É crucial reconhecer essa disparidade e trabalhar coletivamente para promover a igualdade de oportunidades educacionais em todas as regiões, assegurando que cada criança, independentemente de onde viva, tenha acesso a uma educação de qualidade que honre suas raízes e potenciais.