*Eugênio Maria Gomes
Em nosso último texto, falamos sobre a Efemeridade do Ter e o terminamos com a seguinte pergunta: o que leva algumas pessoas a se manterem amigas e fieis, independentemente do que você é capaz de fazer por elas? Pois bem, hoje tentaremos abordar este tema, bem na linha dos versos de Cecília Meireles: “Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam, mas há pessoas que, simplesmente, aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre”.
Nossa poetisa diferencia as pessoas que deixam marcas em nossas vidas, daquelas cujas jornadas se cruzam com a nossa, em um ou outro momento, mas que rapidamente são lançadas ao esquecimento. Porém, aqui, importa falar naquelas que nos marcam positivamente. Aquelas que permanecem ao nosso lado, sem qualquer relação com o que se tenha, ou o que se possa oferecer a elas de vantagens pessoais. Estabelecemos com elas, um tipo de elo, de vínculo permanente, parecendo que estamos unidos por algo invisível, maior que nossa posição social, ou o patrimônio que ostentamos.
Assim que publiquei o texto, recebi comentários muito interessantes, a exemplo do enviado pelo irmão de Ordem, lá de Volta Redonda, José Ivo, que registrou o seguinte: “Bacana. Esse Eu Gênio é porreta mesmo. Se eu tivesse a capacidade de articular uma crônica, seria como a dele. Já passei por algo semelhante e também me faço a pergunta do porquê desse remanescente de amigos permanecerem comigo. Já não tenho nada de material ac. Só posso contribuir com minha solidariedade e amizade sincera. Só sei de uma coisa, esses amigos que restaram após eu deixar de TER, completam minha vida nesse crepúsculo existencial. Um dia ainda terei o prazer de apertar a mão desse Gênio”.
Agradecido pelo carinho do irmão, espero um dia apertar-lhe a mão e, quem sabe, passar a ganhar mais um verdadeiro amigo. Pessoas que oferecem a solidariedade e a amizade sincera TÊM muito mais do que imaginam possuir. É justamente sobre os amigos aos quais se refere o José Ivo que eu tento, ainda sem sucesso, explicar neste texto. E você, caro leitor, tem amigos assim? Daqueles que, antes de qualquer julgamento, te oferecem apoio, acolhida e um ombro como amparo? É certo que sim, mas, provavelmente, não os tem em grande quantidade. Sim, amigos verdadeiros são raros e podem ser contados em alguns dedos das mãos. Mas, eles existem, por isso precisam ser cuidados, cultivados e regados com atenção, carinho, respeito e gratidão.
Este tipo de amigo é como uma peça rara, daquelas cujo valor vai muito além de sua composição e de sua aparência. O coração de um amigo assim é como se fosse um relicário, guardando coisas valiosas e provocando emoções a cada vez que é aberto.
Não seriam a doação de um e a receptividade do outro as responsáveis pela existência dessa amizade duradoura, que sobrevive à distância e ao TER? O que uniria duas pessoas permanentemente, sem qualquer interesse recíproco senão o prazer e a alegria de compartilharem momentos de alegria, de tristeza, de sucesso e de derrota, de dor e de êxtase, de paz e de agonia?
Não é fácil explicar a amizade verdadeira.
Assim como não é fácil explicar o Amor. Esse sentimento tão nobre, que contraria a razão, a lógica, ignora barreiras e dificuldades, tripudia com a distância e resiste até à crueldade do Tempo.
Sim. Amizade verdadeira é Amor.
“É o Amor sem asas” mencionado pelo poeta inglês Lord Byron, na mais eloqüente descrição desse sentimento tão nobre que une pessoas diferentes, com vidas diferentes, mas cujas almas comungam naquilo que as une, naquilo que se completam.
Amigos verdadeiros são tão raros quanto o são os amores verdadeiros. Amigos que passam, que se perdem no passado, que não deixam saudades, são como “amores de verão”…
A Amizade verdadeira é aquela que nos acompanha para sempre, mesmo que estejamos fisicamente distantes. Amigos verdadeiros estão sempre juntos, embora nem sempre perto. Não se pode explicar o motivo porque permanecem em nossas vidas e nós permanecemos na deles. Apenas acontece…
E esse acontecimento…É maravilhoso!
Então, concluo que não há como explicar a amizade verdadeira. Até porque, se soubesse explicar, não seria mesmo uma amizade de verdade, pois assim como o Amor, a Amizade verdadeira foge de todas as explicações possíveis… (Carlos Drumond de Andrade).
*Eugênio Maria Gomes é escritor e funcionário da Funec.