AMIGO É COISA PRA SE GUARDAR …

Ildecir A. Lessa

Advogado

 

A vida do indivíduo se dissolve na vida do tudo. De Heráclito, a fala de que o sábio não teme a morte porque a morte não é nada, pois “quando estamos nós, a morte não está, e quando está a morte, não estamos nós” (Diálogos). A morte produz um repouso ou cessação dos cuidados da vida (Platão). Nos diálogos da vida, Platão faz Sócrates interrogar seu discípulo Símias, a respeito da morte. E hoje, nós amigos do Juninho, estamos interrogando a nós mesmos, a respeito da morte do nosso grande amigo. Uriel de Almeida Leitão Júnior, nosso amigo Juninho, partiu nesta quarta feira, 24, depois de enfrentar uma batalha pós-operatória cardíaca no Hospital de Juiz de Fora. A memória, em Juninho, faz voltar nossa história, desde a Rua Princesa Isabel, a criação de pombos, as barganhas de objetos, carrinho de rolimã, o ouvir as músicas dos Beatles, Rolling Stones e da saudosa Jovem Guarda. Mudando da princesa, Juninho era nosso inspirador; alto, “boa pinta”, bem vestido (calças de lona ou Lee), rodando o cabelo grande na touca, dirigindo a veraneio azul clara fazendo ziguezague, estava sempre ele com seu ânimo peculiar, que o tornava uma pessoa naturalmente simpática, extrovertida, prestativa, que se interessa imediatamente pelo problema do outro (ele nos protegia e nos dava moral, pela sua altura). Também tinha um riso fácil, andar tranquilo de tendência pacífica, chegando a mais completa definição consagrada por Sérgio Buarque de Holanda de: “homem cordial”.

Nessa linha do tempo de vida, Juninho foi nos inspirando porque, teve espaço no movimento hippie, distante dos vigentes ditames da sociedade, na busca por outros padrões de comportamento. Geração “paz e amor”, contra a guerra do Vietnã até o Apartheid na África do Sul, formando um mundo à parte, pela aparência, cabelos compridos e roupas exóticas. Foi um artesão nômade, deixando marcas profundas em BH (como chamávamos a capital mineira), onde expunha seus trabalhos de fabricação em couro, num ambiente cultural, artístico e informal conhecido como “Feira Hippie”. Atravessou e contemplou a geração que herdou a história de lutas contra os fantasmas da ditadura no Brasil, vivenciando em sua própria família, mas que acreditou ser uma  experiência decisiva para construir o seu espírito democrático na sua visão. Isso gerou nele, o que ele já possuía, a consciência democrática. Sempre gostou de carros, parece que fazia parte de sua natureza humana, como um padrão comportamental, onde encontrava sua individualidade, comunhão com as pessoas e características chaves de sua personalidade. Quase não ficou só, afinal, “todos nós somos duplos e então nunca estamos sozinhos”. Tivemos nossos momentos de conversas, na mesa de bar, com papo leve, com riso farto, onde ele gostava de ouvir a música “Cidadão”, na voz de Zé Geraldo. Como tivemos também, em alguns momentos com ele, de grandes embates da vida (foi um tempo de aflição). Tivemos juntos no Colégio Caratinga. Fez realizações, gerou filhos e conquistou muitos amigos, sempre com hipoteca de apoio familiar.

Esse foi o tempo do nosso amigo Juninho nessa terra. Tempo que os antigos, denominavam cíclico, em função da lenta recorrência das estações e gerações, uma sequência incessantemente repetida de movimento, crescimento, declínio e morte. Platão referiu o tempo como a “imagem móvel da eternidade”. Nietzsche desenvolveu “a teoria do eterno retorno”. Herdou de seus pais, (Rev. Uriel e da educadora, dona Mariana) a semente da Palavra de Deus (Pastor Uriel na pregação na IPB em Alto Jequitibá, em 1992, pregou sobre a volta do filho pródigo) e agora, nos últimos anos de sua vida,  Juninho lembrou que não estamos só. Existimos porque alguém, o Único, criou-nos com amor. Ele sabe que estamos aqui, ouve as nossas orações, perdoa nossos pecados, guia-nos no nosso caminho através do tempo, fala-nos no silêncio da alma e toma nossa mão na presença do medo, dando-nos forças para resistirmos ao desespero, porque a misericórdia de Deus não é possível prever nem controlar, porque Deus não pode ser confinado em categorias. A esperança não é um mero anseio, porque “Cristo em vós a esperança da glória”. Juninho teve uma experiência de salvação. No culto realizado na 1ª Igreja Presbiteriana, (mensagem no Salmo 139) isso foi atestado, pelos testemunhos (Sua irmã Vilma, orou com ele e, ele reconciliou com o Senhor). Seus irmãos e dois filhos manifestaram após o culto: Alexandre, “mão amiga” lembrou a mensagem do Rev. Uriel  “reconciliai – vos já com Deus”; Ulisses, “somos mais que vencedores”; Lysias, “Mateus 3:11”, Janete, “expresso meu amor”  Miriam Leitão: Juninho disse a ela , “ não importa você cair, você pode levantar de novo” ;  Claudio , “foi um pedaço de mim, ele me ajudou muito”; Simone  , “ele me ensinou a ser humilde”; Ricardo , ele me disse da “experiência da conversão”; Mariana, filha mais velha “ pergunte ao vento…,agradeço pela vida que me deste”; Caíque,  filho, “era um autodidata”. Juninho, nosso amigo, deixou sete filhos: Mariana, Uriel Neto, Caíque, Renato, Ivana, Janaína e Larissa. Estiveram presentes no culto, os amigos da Princesa Isabel, o signatário deste, Aladim e Marquinhos Pena.  Juninho exercia o cargo de Diretor de Infraestrutura da Unidade Zona Norte da Rede Doctum, em Juiz de Fora. Não podia furtar, de registrar uma singela despedida do amigo porque, afinal, “amigo é coisa para se guardar…” e na fé, estamos certos que “qualquer dia amigo, a gente vai se encontrar”, na eternidade de Deus “na casa de meu Pai há muitas moradas”, onde daremos o brado: “Morte, onde está a tua vitória” (ICo.15:55).

 

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