Marina Matos de Moura Faíco
Quem nunca ouviu dizer que amamentar faz bem? Bem para a mãe, bem para o feto, bem para a família toda. Mas alguém já ouviu dizer que amamentar é difícil? Que requer uma série de cuidados e muita, mas muita dedicação e persistência? Embora seja descrito como um ato natural, o aleitamento materno nem sempre é fácil de ser praticado. As mães precisam de apoio emocional e de informações corretas para terem sucesso na amamentação. É comum sentirem dores, cansaço excessivo, ficarem angustiadas e extremamente sensíveis. Contudo, existem provas de que as mães orientadas da maneira correta nos serviços de saúde pública e nos hospitais amamentam melhor e durante mais tempo.
O leite materno é um alimento completo – todos já ouviram isso! Mas existem pessoas que ainda acreditam em leite fraco, que não sustenta. O leite da mãe contém vitaminas, minerais, gorduras, açúcares, proteínas, todos apropriados e cuidadosamente preparados para atender as necessidades do organismo do bebê. Além disso, contém substâncias nutritivas e de defesa, que não se encontram em nenhum outro leite, e, é produzido especialmente para o estômago do bebê, portanto, de mais fácil digestão. É adequado, completo, balanceado, suficiente e preparado exclusivamente para o seu bebê.
O leite humano é considerado “vivo”. Isso porque sua composição se modifica a cada mamada acompanhando as necessidades fisiológicas do bebê. Incrível, né?
Em termos práticos devemos considerar que o leite materno é econômico, prático, encontra-se sempre pronto e na temperatura ideal. Além disso, estudos sistematizados têm demonstrado que a mulher que amamenta apresenta menor risco de câncer de mama e ovários.
O aleitamento materno é a “expressão do amor da mãe para com seu filho”. Amamentar é “dar o melhor de si para o bebê”. Essas constatações podem influenciar positivamente o aleitamento materno, uma vez que fazem referência aos benefícios que a amamentação pode proporcionar ao bebê e à mãe. Entre eles o fortalecimento do vínculo entre mãe e filho parece ser o maior estímulo para a prática da amamentação.
Mas, para que tudo flua da maneira adequada há de se lembrar de que é necessário oferecer o peito ao bebê sempre que ele quiser, durante o dia e a noite, ou seja, sob livre demanda. Isso porque quanto mais o bebê mamar, mais leite será produzido. Ótimo! Mas e a mãe que não consegue? Que não encontra a maneira de doar-se ao filho oferecendo seu próprio leite? É menos mãe? É fraca, fresca, pouco dedicada?
Confesso que deparar-se com esta situação é um tanto frustrante. Não consegui porque sou despreparada… Mas me informei tanto, segui todas as recomendações para que tudo desse certo. O que há de errado comigo? Não sou uma boa mãe?
Geralmente isso ocorre com primíparas, ou seja, aquelas marinheiras de primeira viagem. Amamentar é difícil! É complicado! Mas isso ninguém se lembra de explicar para a futura mãe. E então, a frustração é inevitável.
A imposição sobre a amamentação data do início do século XIX e ocorreu com o objetivo de solucionar o problema da elevada taxa de mortalidade infantil na época. Desde então foi criada a representação de que a lactação é um dever da mãe – o que deu início ao mito “mãe boa é a que amamenta”.
Se de fato a mulher não consegue amamentar as fórmulas lácteas hoje em dia facilitam parte do problema, são as mais apropriadas para substituir o leite materno na alimentação da criança no primeiro ano de vida, uma vez que possuem composição nutricional adaptada à velocidade de crescimento do bebê. No entanto, as substâncias de defesa que fortalecem a saúde do bebê ainda não foram sintetizadas. São individuais, únicas e impossíveis de serem copiadas.
Na alimentação utilizando a mamadeira o contato mãe-filho é prejudicado pela distância imposta pela mamadeira. Mas, há como a mãe minimizar essa distância doando seu amor e cuidado para o filho, mantendo o olho no olho, pele na pele, de maneira que o bebê se sinta também seguro mesmo não sugando na sua mãe.
Durante o ato de amamentar o contato pele a pele entre mãe e filho, o toque, o cheiro e o calor desencadeiam uma série de eventos hormonais que estimulam o cérebro a liberar substâncias que favorecem a produção e saída de mais leite. Ao mesmo tempo tais substâncias são capazes de reduzir a ansiedade da mãe, aumentam sua tranquilidade e responsabilidade social. Se a amamentação é realizada com carinho, dedicação, o bebê sente conforto e prazer em ser segurado pelos braços da mãe, de ouvir a voz, sentir o cheiro, perceber os embalos e carícias. Esse sentimento de segurança compensa o vazio deixado pela separação repentina que ocorre durante o parto, sendo capaz de corrigir a sensação de abandono e agressão, característica desse momento. Qualquer mãe, a que consegue doar-se através do leite materno ou aquela que necessita de fórmulas industrializadas pode transformar o momento da mamada em um momento especial e único de contato com seu filho.
Amamentar é um ato de amor e carinho. Aumenta os laços afetivos, faz o bebê se sentir querido e seguro. A repercussão no desenvolvimento emocional da criança e no relacionamento mãe-filho, apesar de difícil de mensurar, traz benefícios psicológicos para a criança e para a mãe. Amamentar é um ato de amor… As crianças que mamam no peito tendem a ser mais tranquilas e fáceis de socializar-se durante a infância. Para a mulher, a amamentação representa a superação do trauma da separação imposta pelo parto e promove reconforto à medida que promove a sensação de continuar gerando vida através do alimento que brota do seu corpo.
Amamentar é importante, não há dúvidas. Mas AMAR… mentar é imprescindível e fundamental!
*Marina Matos de Moura Faíco é médica residente em Ginecologia e Obstetrícia, doutora em Fisiologia e Coordenadora do curso de Medicina do UNEC.
Mais informações sobre a autora em http://lattes.cnpq.br/5256973785497421