Margareth Maciel de Almeida Santos
Doutora em Sociologia Política
Membro do Instituto Nacional dos Advogados do Brasil/ RJ (IAB).
Na semana passada eu não enviei meu texto para o Diário de Caratinga, pois tive um imprevisto com o meu computador e o tempo se esgotou para a publicação. Peço perdão a todos vocês.
Hoje venho falar sobre a Campanha da Fraternidade e educação, a qual foi mencionada em meu artigo anterior. Irei aprofundar um pouquinho no texto de hoje, pois penso que irá ser necessário para concluir sobre a reflexão que me ocorreu nesta semana.
Faço hidroginástica e tenho uma professora que me chama de Lelete. Durante as aulas, ouço meu nome por pelo menos umas 10 vezes em cada vez que faço a minha hidro. Ela diz: – Lelete conserta seus ombros, estica os braços, dobre as pernas e por aí vai. Na terça-feira ela precisou ir ao médico e não foi ministrar a aula de hidro e a substituíram por outra professora cujo perfil é diferente do que estou acostumada. Essa talvez por não ter intimidade comigo, e e nem com a turma não me corrigiu e confesso que senti falta de ouvir os “Leletes”.
Diante do ocorrido passei a refletir que tipo de professores queremos para nós, seja para todos os níveis de educação e quaisquer cursos que nos matricularmos?
Nesse contexto me remeti ao sociólogo francês Émile Durkheim que explorei seus livros quando fiz meu doutorado em sociologia. Ressalto que a preocupação de Durkheim é com as crianças para estabelecer por meio dela a formação da personalidade e identidade do ser individual e o ser social, pois para ele, “sem educação o homem não seria o que é. Pela cooperação e pelas tradições sociais é que, o homem se faz humano.”
No entanto, ampliei esse ensinamento e o trouxe para todas as idades. Estou com 59 anos e a ideia é fazer uma boa aula de hidroginástica para que eu possa ser recompensada com os exercícios cansativos e repetitivos, mas que irão beneficiar os meus músculos. Se assim não o fosse não necessitaria de fazê-la. E assim me ocorreu a diversidade de modelos educacionais que se tornaram necessários em vista de pluralidade social, mas que para Durkheim a educação para crianças não existe possibilidade de serem educadas por pessoas que não tenham mais idades, ou seja mais velhas que elas.
Meu pensamento foi mais longe e dessa vez me encontrei com o sociólogo Pierre Bourdieu que também foi lido várias vezes por mim e nos ensina que a subjetividade é construída de tempos em tempos. Ele questiona qual é o lugar que a instituição escolar ocupa na configuração social da atualidade?
Bourdieu se envolveu com pesquisas de caráter qualitativo e quantitativo sobre a vida cultural na década de 60 e 70. Levou em consideração as práticas de lazer e consumo de cultura entre europeus, apontando que a família e a escola são as responsáveis para adquirirmos bens da cultura e com eles se habituar.
O universo escolar é marcado por conflitos pois ao mesmo tempo que reproduz os valores hegemônicos da sociedade existe também os impasses enfrentados em sala de aula. Bourdieu analisando as práticas culturais entre os grupos, as maneiras de nos relacionarmos com os grupos e entre os grupos estão profundamente marcadas pelas trajetórias sociais vividas por cada sujeito. Penso que isso constrói o sujeito, o professor. É notório que na modernidade muitas vezes os professores são ameaçados por pais de alunas e alunos inibindo a prática educativa, sua orientação e valor. Não sei se é o caso da professora substituta, mas o que quero dizer é que a forma de ensinar e de dizer ao aluno que aquilo está incorreto deve ser dita. Tarefas que não foram apresentadas, exercícios errados devem ser tratados pelo educador, ou pela pessoa que está ministrando quaisquer cursos de forma clara e precisa para o alcance de bons resultados para aquele aluno.
Para Bourdieu, a ordem é necessária porque aqueles que a executam, se faz com a colaboração objetiva de sua consciência. A questão é complexa e residem nas consequências e o clima para aqueles que nos ensinam é de insegurança. Penso que a modernidade é muito boa, mas valores ficaram esquecidos. Deixo aqui para pensarmos: – Que valores são esses?
A escola é parte fundamental na formação das sociedades humanas para inculcar valores nas crianças principalmente naquelas que apresentam problemas e valores diferentes. Conteúdos dos livros didáticos devem ser ensinados para que se possam criar pensamentos críticos, construindo a subjetividade daquela criança de acordo com a ordem, de forma que o professor preparado para lidar com as divergências, constitui aí uma teia de relações não negando os avanços das questões coletivas.
Onde quero chegar, é que precisamos sim, que os nossos professores nos corrijam, essa correção deve ser legitimada conforme os aspectos que citei acima para entendermos as relações de poder tanto nas escolas quanto nas academias ou em quaisquer outros cursos que fizermos.
As relações de violência devem ser punidas por aqueles que a praticam, pois vemos que estudante e professores estão encarcerados em relações paradoxais.
Ainda aprender a aprender. Talvez no momento em que somos chamados atenção nos sintamos constrangidos mas vestir a humildade de que nada sei serve para alunos e professores. Hoje estou filosofando (rs) e falo agora de Sócrates: “só sei que nada sei”, frase entendida para alguns “como símbolo de humildade”.
No contexto, completo o artigo com o tema sobre a Campanha da Fraternidade 2022, prosseguindo com o que escrevi artigo anterior para o Diário. Acho plausível concluir com os seus ensinamentos.
Para a CNBB, Jesus foi “o educador verdadeiro que possibilitou vida nova para o seu povo e para os seus discípulos e discípulas de todos os tempos. Ainda para a CNBB, o Brasil necessita de uma educação humanizadora, solidária, que leve a todos para a verdade, a compaixão, à libertação.
O que me chama atenção no texto da CNBB (CONSELHO NACIONAL DOS BISPOS) divulgado, pelo site vaticannews.va/pt/igreja/News/2022, é que Jesus ensinava com amor. O seu ensino atraia as pessoas, pois era feito com amor para que todos vivessem bem, no meio familiar, comunitário e social. O texto indicado acima me mostrou que o apóstolo Mateus “tem presentes algumas admoestações de Jesus como o Mestre verdadeiro contra os fariseus e os escribas, onde estavam sentados, de modo que tudo o que eles diziam, fossem observados, mas não seriam imitadas as suas ações, porque eles falavam e não faziam. Sobre os outros eles amarravam pesados fardos, mas eles mesmos não os moviam nem sequer com um dedo.”
Ressalto também que o referido artigo da CNBB nos ensina o conceito de Guia que é “também uma palavra latina guidare, cujo significado é guiar, é uma pessoa que indica o caminho.”
Assim concluo que o momento da Páscoa nos ensina que tudo pode ser renovado, sendo a celebração mais importante do calendário religioso do cristianismo, pois nos relembra a prisão, crucificação, morte e ressurreição de Jesus.
É tempo de nós aprendizes, não importa a idade e a profissão, de renovarmos o espirito com a paz.
Feliz Páscoa!
PAZ E BEM!