Curso de Psicologia reúne estudantes e profissionais do Município de Caratinga para discutir o tratamento dos pacientes de saúde mental
CARATINGA – Há 32 anos, o Brasil vem passando por uma série de transformações no modelo de assistência psiquiátrica. Essas mudanças receberam o nome de Luta Antimanicomial e têm como objetivo tratar os pacientes de saúde mental com mais dignidade. Pensando em levar o tema ao ambiente acadêmico, o curso de Psicologia do UNEC realizou um encontro com profissionais de saúde mental da Secretaria Municipal de Saúde Caratinga. O evento aconteceu na última terça-feira (21), no auditório da Unidade II da instituição de ensino.
De acordo com a coordenadora do curso, Magda Assis Costa, é importante que os alunos tenham acesso à troca de experiências com pessoas que trabalham na assistência psiquiátrica. “Vamos abordar toda a história da reforma psiquiátrica e abrir para os acadêmicos as possibilidades de entendimento dentro de um campo clínico. Os dispositivos que vieram para substituir o hospital psiquiátrico são grandes campos de atuação que a psicologia oferta a eles”, declara.
Ao longo do encontro, os profissionais mostraram a estrutura que é oferecida nos Centros de Assistência Psicossocial (CAPS). Caratinga conta atualmente com três unidades: o CAPS Infanto-Juvenil; o CAPS-AD, para assistência de dependentes de álcool e outras drogas; e o CAPS II, onde são tratados pacientes com transtornos graves e recorrentes. “A porta de entrada do serviço é a atenção básica, nas unidades do Programa de Saúde da Família (PSF). No CAPS o paciente tem acesso a um atendimento multidisciplinar com médico, psicólogo e assistente social. É feito um trabalho também com a família do paciente”, explica Andreia Mól Alves, psicóloga e coordenadora do CAPS II.
Parte do trabalho envolve a produção artística como forma de expressão dos pacientes. A atividade é inspirada na metodologia da médica Nise da Silveira, que revolucionou o tratamento psiquiátrico no Brasil. “Foi ela quem trouxe os conceitos da psicologia junguiana para o país e abriu os porões de um hospital psiquiátrico para que os pacientes sejam tratados com arte. O filósofo Nietzsche dizia que temos a arte para não morrer com a verdade, e na dita ‘loucura’ a arte surge como uma válvula de escape”, ensina Ridley Vasconcelos, psicólogo e coordenador de Saúde Mental da Prefeitura Municipal de Caratinga.
BARREIRAS CULTURAIS
Mesmo com todos os avanços conquistados nas mais de três décadas de reforma psiquiátrica no Brasil, os profissionais destacam que muito ainda precisa ser feito. É necessária, sobretudo, uma mudança de cultura para que a sociedade acolha os pacientes de maneira efetiva. “Existe um preconceito muito grande contra tudo que se relaciona à saúde mental, inclusive do ponto de vista da psicologia. Muita gente ainda tem medo de ser vista em tratamento”, comenta Ridley Vasconcelos.
Andreia Mól Alves aponta também que o comprometimento por parte da família é essencial para o sucesso do tratamento. “Esse é um dos maiores desafios dos serviços de saúde mental. A família e a sociedade ainda querem prender os pacientes. Muitas pessoas procuram o CAPS para internar, para obter laudo, não querem retornar com o paciente para a família. Nosso trabalho nesse sentido é árduo, e é muito importante fazer essa conscientização também com os estudantes de Psicologia”, salienta.