Mariane foi medicada para crise de ansiedade. Posteriormente, um aparelho de ultrassonografia detectou quantidade expressiva de líquido na região torácica
Mariane Silva Torres, de 26 anos, foi levada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na Região Centro-Sul de BH na última terça-feira (23/4) por estar sentindo dores no peito e nas pernas. O boletim de ocorrência atesta que o primeiro diagnóstico dado à jovem, consultada mais de uma hora depois que chegou na UPA, foi de crise de ansiedade.
João Claudio, namorado de Mariane, disse que, mesmo após a medicação, as dores não cessaram e ela estava “agonizando”. Após a morte, um exame apontou a possibilidade de uma trombose, que teria causado embolia pulmonar.
A jovem deu entrada no local às 13h30 e, segundo informações relatadas ao namorado, que só conseguiu chegar mais tarde, Mariane chegou gritando de dor e foi colocada em uma cadeira de rodas. “Quando ela chegou, passou pela triagem e colocaram, após verem toda essa cena dela gritando e agonizando, a pulseira verde, que é de risco baixo”, conta João.
Mais de uma hora depois de Mariane ter chegado, João, já no local e vendo a agonia da namorada, questionou a enfermeira, que fez a triagem onde estava o médico. Em resposta, a profissional de saúde disse que “quem está gritando assim não está sentindo dor.”
Depois de mais um tempo de espera, Mariane foi atendida por uma médica que atestou que ela realmente não estava sentindo a perna esquerda, além das dores na perna direita e no peito. Após o exame, médica concluiu que a jovem estava tendo uma crise de ansiedade e receitou medicamentos. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, ela foi medicada por volta de 14h50.
Mariane tomou medicamento na veia e via oral, porém, o sofrimento não passava. João pediu às enfermeiras para chamarem a médica e disponibilizarem uma cama para a jovem deitar porque sentada na cadeira de rodas com a perna para baixo ela estava sentindo muita dor.
“Eu voltei na primeira médica, falei que ela estava com muita dor e perguntei o que podia ser feito, já que o remédio não tinha tido efeito”, disse João. Em resposta, a profissional teria falado que Mariane não estaria mais sob os seus cuidados.
Ele, no entanto, não encontrou a outra médica que supostamente teria assumido o atendimento. Enquanto isso, Mariane gritava e chorava. “Um médico passava a responsabilidade para o outro. Descaso total”, desabafa João.
Eventualmente, deitada em uma cama encontrada por João, Mariane “travou os punhos, como se estivesse tendo uma convulsão”. Um médico da área de emergência a atendeu e constatou que ela estava sem sinais vitais, segundo o boletim de ocorrência.
A jovem foi levada para a sala de emergência onde manobras de ressuscitação foram realizadas por mais de uma hora, mas não resistiu. O óbito foi constatado 18h01. Posteriormente, um aparelho de ultrassonografia detectou alta quantidade de líquido na região torácica da jovem.
Duas testemunhas registradas no boletim de ocorrência também afirmaram que “Mariane não teve o devido atendimento médico” diante do estado em que se encontrava.
A Prefeitura de Belo Horizonte disse que “lamenta o ocorrido e garante que a paciente recebeu toda assistência necessária enquanto esteve na unidade”. Ressaltou ainda que, no momento em que Mariane este na unidade de saúde, a equipe de atendimento da UPA Centro-Sul estava completa, com 11 médicos, seis enfermeiros e 20 técnicos de enfermagem.
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que está apurando as causas e circunstâncias da morte e no aguardo de outros lados policiais. “O corpo da vítima foi encaminhado ao Instituto Médico-Legal Dr. André Roquette (IMLAR) para ser submetido a exames e liberado aos familiares”, adicionaram.
Fonte: Estado de Minas