Violência X Escola

violencia-escola-300x200O drama das escolas quando a violência entra para as salas de aula

 CARATINGA – Em meio a tanta coisa ruim que acontece todos os dias, como crimes extremamente violentos, a situação se agrava e assusta   quando envolve crianças e adolescentes. Muitas notícias chocantes estamparam as capas do jornal esta semana, mas uma em especial chamou mais atenção. Na edição desta última terça-feira (9) foi divulgada a notícia da apreensão de três adolescentes, todos com 15 anos, que levaram para dentro da sala de aula, na Escola Estadual Professor Joaquim Nunes, o NEEC, que fica no Bairro Santa Cruz, duas armas de fogo, sendo uma calibre 38 e outra 32, oito munições, sete pinos e mais três porções de cocaína, além de um simulacro de arma, usado geralmente para cometer assaltos. Por serem menores, os alunos foram liberados. Eles disseram à polícia que estavam armados, pois estavam sendo ameaçados. Provavelmente já estão envolvidos com o tráfico de drogas, pois tinham cocaína dentro das mochilas, uma droga de custo mais alto e muito viciante. Mas será que isso acontece apenas no NEEC, que fica em um bairro periférico? Como os professores se sentem diante desta violência nas escolas? O que tem sido feito?

O DIÁRIO DE CARATINGA conversou com duas professoras, que não quiseram se identificar por questões de segurança, para saber como é o cotidiano nas escolas, com o Conselho Tutelar e com a superintendente regional de ensino Beatriz Gomes.

 

PROFESSORAS

A reportagem ouviu duas professoras. A primeira delas tem 30 anos de profissão a segunda, 22. Acompanhe as entrevistas e a realidade vista por elas dentro das salas de aula:

 

Quantos anos a senhora têm de profissão?

Trinta anos.

 

A senhora se sente segura dentro da sala de aula?

De forma alguma, tenho medo.

 

Como está a situação dentro das salas de aula?

O convívio está muito difícil, temos que fazer como os alunos querem, não somos respeitados como professores, não sou educadora, sou professora, quem educa são os pais.

 

E como é a educação dos alunos em casa?

Eles chegam com muitos problemas, nos agridem fisicamente e verbalmente. A escola foi feita para o menino buscar um futuro melhor, ter uma boa profissão, saber conversar, mas eles não querem saber de escrever, nem ler, só pensam em computador. Pai e mãe precisam corrigir em casa, não conduzem os filhos da forma correta, colocam o filho no mundo e quando crescem não conversam, ou espancam ou deixam de lado. E aí chegam à escola e acham que podem fazer o que quiserem, inclusive mandar no professor.

 

A senhora já foi agredida em sala de aula?

Um menino já apertou meu braço, outro já me empurrou e outro chamou a diretora para mim reclamando que não fiz como ele queria. No final das contas, eu sou a culpada.

 

Que mensagem a senhora deixa para alunos e famílias?

Nem sei o que falar, estou sem rumo. Esses dias um aluno desferiu vários socos contra o colega porque seu caderno estava na mesa dele. É muito complicado.

 

A SEGUNDA PROFESSORA

 

Quantos anos a senhora têm de profissão?

Vinte e dois anos.

 

Durante todos estes anos já trabalhou em quantas escolas?

Quatro estaduais e três municipais.

 

Quando acha que começou a falta de respeito dentro das salas de aula, gerando violência?

A mudança começou há uns 10 anos, os alunos mudaram o comportamento porque passaram a ter consciência dos direitos dos menores, mas se esqueceram dos deveres. Sabem que se fizeram algo de errado, nada acontecerá.

 

Mas onde a senhora acha que está a raiz do problema?

O pior problema está na família que não apoia a escola. A maioria dos pais não assume sua responsabilidade.

 

A senhora tem conhecimento de entrada de drogas ou armas nas escolas em que trabalha?

A gente não pode dar busca nas mochilas dos alunos, mas sabemos que entram drogas, por mais que a gente vigie. Existem meninos de 12 anos que usam drogas.

 

A senhora já foi agredida verbalmente ou fisicamente?

Um aluno já me ameaçou com estilete, foi feito um boletim de ocorrência pela Polícia Militar, mas não deu resultado. O aluno abandonou a escola e sei que pouco tempo depois matou um pai de família.

 

A senhora tem medo de continuar lecionando?

Medo não, porque consigo contornar as situações, mas não temos proteção alguma.

 

O que acha que pode ser feito para evitar a violência nas escolas?

Tem que partir do estado. Nossos alunos têm famílias desestruturadas. Precisamos dentro das escolas de profissionais de psicologia, assistência social para tratarem a relação família-escola e buscar a origem dos problemas. O estado deveria dar condições para o professor fazer o seu papel que é de ensinar.

 

Qual a relação dos pais com a escola?

Os pais precisam participar, pois não querem saber o que está acontecendo dentro da escola. A educação começa em casa, de 100% dos alunos, apenas 20% respeitam os professores.

 

Você pensa em desistir da profissão?

Muitos professores querem desistir, não aguentam mais tanta violência e falta de respeito, mas não podemos perder as esperanças.

 

 

O papel da Superintendência Regional de Ensino na promoção da paz nas escolas

Para falar sobre as ações desenvolvidas pela Superintendência Regional de Ensino (SRE), para inibir a entrada de drogas, armas e atos violentos dentro das escolas, o DIÁRIO conversou com a diretora da SRE/Caratinga, Beatriz Gomes Batista Alves de Souza e a analista educacional/inspetora escolar, Karina de Cássia Ferreira Lima. Elas responderam em conjunto esta entrevista, detalhando as ações desenvolvidas e os projetos que estão sendo realizados para promover a paz nas escolas.

 

O que a SRE tem feito para inibir ou prevenir o problema de drogas e armas nas escolas?

A SRE de Caratinga tem trabalhado de forma preventiva e em parceria com a Comunidade Escolar, o Colegiado e a Polícia Militar para que as drogas e armas não assolem o ambiente de nossas escolas. Este trabalho é feito através do desenvolvimento de projetos que tem como objetivo maior promover espaços de reflexão, de articulação, formação e implementação de ações tendo como temática a “Cultura de Paz”. A parceria entre escola, comunidade, as diversas Instituições e atores sociais é fator primordial para essa ação de prevenção e resolução de conflitos.

 

Quais são estes projetos?

Temos como proposta implementar a mediação, como procedimento que introduz a prática dialógica como forma democrática de prevenção, tratamento e gestão sustentável dos conflitos no ambiente escolar. A introdução dessa prática visa favorecer o estabelecimento e o restabelecimento/fortalecimento das relações sociais, a construção e reconstrução de laços sociais rompidos, tendo o diálogo como ferramenta primordial. Como ação a ser desenvolvida nesse segundo semestre a SRE estará viabilizando a formação da REDE, sendo feitas reuniões com representantes e autoridades dos diversos setores da sociedade (Ministério Público, Promotoria, Polícia Militar, Conselho Tutelar, CRAS, CREAS, Assistência Social e outros) buscando de forma sistemática a articulação e integração desses diferentes atores no combate à violência e promoção da Cultura de Paz, sabemos que a violência é um fenômeno social, portanto, de responsabilidade de todos.

 

A SRE acredita que este assunto deve ser discutido dentro das escolas?

Está prevista a organização de um Seminário voltado para conscientização, estudo, reflexão e discussão sobre a “Cultura de Paz nas Escolas”, um espaço que será aberto à participação de toda sociedade, visando o alinhamento de estratégias preventivas e estabelecimento de ações pontuais frente aos conflitos vivenciados nas nossas escolas. O Fórum Regional de Promoção da Paz Escolar e de Articulação em Rede (FORPAZ) é uma ação desenvolvida pela SEE/MG junto às regionais. Em breve a SEE/MG estará promovendo na nossa Regional mais essa ação em parceria com a SRE, com a finalidade de intensificar nossas reflexões e ações. Estaremos ainda capacitando servidores da SRE e escolas quanto a proposta da Mediação para que essa prática seja implementada no cotidiano de nossas ações. Uma semente a ser plantada, que se bem cuidada poderá trazer grandes frutos.

 

Como vai funcionar esta mediação?

Temos como ação a ser desenvolvida para 2015, a realização de capacitações sobre a mediação e posteriormente enquanto projeto piloto serão organizados grupos de mediação que passarão a atuar dentro das escolas. Essa ação será inicialmente desenvolvida com um grupo de escolas, mas é importante destacar que todas receberão o suporte necessário para trabalharem a mediação. Esse trabalho de sensibilização e divulgação dessa proposta foi iniciado junto aos diretores das escolas estaduais em maio, tendo como foco a sensibilização sobre a temática “Princípios Éticos e Mediação na Prática”.

 

Há alguma ação já agendada?

Sim. Pontuamos outras ações já agendadas e que também tem como foco a discussão e disseminação dessa Cultura de Paz. A “Semana da Paz” que acontecerá de 22 a 26 de setembro de 2014 em todas as escolas dos vinte quatro municípios e a “Semana de Educação para a Vida” que acontecerá no mês de novembro. Temos ainda a pontuar que as escolas tem recebido material de suporte para se trabalhar essas questões (conflitos, violência, bullying, atitudes de intolerância e outras temáticas), sendo: A cartilha “Conte Até Dez” e o Manual “Prevenção e enfrentamento à Violência Escolar: Promoção de uma cultura de Paz nas Escolas. Temos que destacar que as escolas desenvolvem seus projetos e buscam suas parcerias com o objetivo de sensibilizar e conscientizar a comunidade escolar de que a escola, é sim, espaço de Paz e formação social.

 

Muitas vezes as crianças e ou adolescentes são abordadas na porta das escolas por traficantes. Este é um problema que também é do alcance da SRE ou a competência da Superintendência se restringe somente ao limite das salas de aula?

Nossa atuação enquanto SRE, Instituição que tem um papel social a ser desempenhado, vai além dos muros da escola, pois entendemos que assim como a escola, a SRE, a família, Instituições e os diversos setores da sociedade tem responsabilidade solidária no enfrentamento dessas questões que se fazem presente hoje dentro de nossas escolas, como violência, drogas, armas, preconceito, discriminação, dentre outros geradores de conflitos. Precisamos compreender a violência enquanto um fenômeno social e, portanto, de responsabilidade coletiva, não é uma tarefa fácil, mas o compromisso e engajamento de toda sociedade poderá transformar essa realidade, de uma cultura de violência para uma Cultura de Paz. A ronda constante nos horários de chegada e saída das escolas contribui para que a abordagem dos adolescentes e jovens seja inibida e sempre que se percebe, através de comunicados das escolas, do Inspetor Escolar, movimentação estranha nas imediações aciona-se a patrulha escolar. Esta parceria entre escola e Polícia Militar tem evitado muitos problemas.

 

Qual o papel da família neste processo de conscientização das crianças e adolescentes contra as drogas?

O papel da família é relevante para que se evite a disseminação das drogas entre os adolescentes. O acompanhamento dos pais o conhecimento das atividades realizadas pelos filhos, seus amigos, são fundamentais neste momento de transição. Os valores e as responsabilidades precisam ser constantemente trabalhados. A falta de estrutura de muitas famílias, de outras referências positivas e o consumismo exagerado acabam levando os jovens ao envolvimento com as drogas. Ações de parcerias entre comunidade e escola ajudam a inibir a crescimento generalizado das drogas no ambiente escolar e na sociedade, visto que este é um problema que tem de ser enfrentado por todos os atores sociais.

 

CONSELHO TUTELAR

 

Presidente do Conselho Tutelar aponta: “A escola é responsável pelo conhecimento e a família pela educação”

 

Wanderlan de Souza Bastos é presidente do Conselho Tutelar de Caratinga e trabalha há mais de dez anos na defesa e garantia dos direitos das crianças e adolescentes. Em sua opinião, muitos problemas acontecem, pois as famílias estão querendo passar a responsabilidade de educar para a escola. “A escola é responsável pelo conhecimento e a família pela educação”.

Ele disse que não existe criança que nasce roubando mamadeiras ou falando palavrões, que problemas surgem da forma como os pais conduzem os filhos.

Para ajudar a amenizar os problemas nas escolas, Wanderlan disse que tem um projeto de participar de todas as reuniões de pais nas escolas, mostrar o apoio do Conselho Tutelar e buscar soluções juntos dos professores e famílias.

Um comentário

  1. 1

    leidyene

    O neec nao tem somente alunos ruins temos alunos estudiosos responsaveis e nao podemos deixar com que dois ou tres estraguem a escola q eu estudo e amo

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