Deputado federal visitou a região, onde participou de debates e reflexões com ativistas do campo democrático
DA REDAÇÃO – Com o objetivo de participar de debates e reflexões com ativistas do campo democrático, o deputado federal Patrus Ananias (PT), cumpriu agenda de trabalho em municípios da Zona da Mata e do Vale do Rio Doce, na última sexta-feira (25) e no último sábado (26). O parlamentar esteve em Simonésia, Manhuaçu, Tarumirim, Inhapim, Piedade de Caratinga e Caratinga.
Patrus Ananias, que está em seu terceiro mandato de deputado federal, já foi ministro do Desenvolvimento Social e do Combate à Fome, no governo Lula; e do Desenvolvimento Agrário, no governo Dilma Rousseff, além de ter sido prefeito de Belo Horizonte entre 1993 e 1996.
Ele foi entrevistado pelo DIÁRIO, onde fez uma análise do momento político atual. Patrus Ananias também falou de sua atuação como ministro em duas pastas e comentou sobre os anseios de seu partido para as eleições de outubro. “Um país soberano é um país que cuida em primeiro lugar de seu povo, da sua gente”, disse de forma enfática o parlamentar.
Deputado, desde quando o senhor está no meio político, já presenciou uma época tão polarizada?
Eu vivi um período muito triste e trágico que foi o período da ditadura militar. Quando nós superamos a ditadura com o processo constituinte que levou a Constituição de 5 de outubro de 1988, sobretudo depois das ótimas experiências de nossos governos de Lula e Dilma, com os avanços que nós tivemos, o sentimento é que tínhamos virado uma página da história da Brasil, que o país estava caminhando para encontrar-se consigo mesmo no caminho do desenvolvimento econômico, mas um desenvolvimento voltado também para a justiça social, para proteção e promoção da vida, para afirmação de um projeto nacional. O momento que nós estamos vivendo é realmente trágico, de alguma forma, ainda preservemos os direitos fundamentais constantemente ameaçados, embora também preservemos a ordem constitucional também ameaçada. Penso que nós estamos vivendo um momento que nos faz, infelizmente, lembrar os tempos sombrios da ditadura militar porque é um tempo de desmonte do estado brasileiro e desmonte das políticas públicas que foram construídas.
O que levou a essa polarização?
Essa polarização advém do governo Bolsonaro, que é um governo de extrema-direita, um governo que não dialoga, que atropela. Então penso que estamos vivendo esse momento porque temos um governo que não tem apreço pela democracia, pelos direitos fundamentais, que não tem respeito pelas diferenças, pelos diferentes. É um governo que não dialoga e não procura o consenso que é necessário para construir um projeto para o Brasil, que é um país de dimensões continentais, onde tantas diferenças, inclusive regionais, culturais, que exigem um diálogo permanente e isso não encontramos nesse atual governo.
Em relação ao PT, o que levou alguns setores da sociedade ter aversão ao partido? O senhor avalia que o Brasil sofreu uma campanha antipetismo?
Eu considero que sim, houve uma campanha anti-PT, anti-esquerda, anti-forças democráticas comprometidas com a democracia e as mudanças sociais, com a justiça social. Nós que somos da esquerda democrática temos que reconhecer que houve um grande avanço das forças conservadoras, neoliberais, os que defendem o estado mínimo, o que estão totalmente submissos aos interesses do mercado. Houve de fato um crescimento dessas forças, mas elas cresceram usando fake news e usando instrumentos para reduzir os nossos espaços de acesso a ação política.
O senhor acredita que PT valorizou muito sua militância das ruas e custou a acreditar, diferentemente da direita, da tal ‘militância digital’?
Penso que sim, não demos tanta atenção para as redes sociais, mas penso também que nos nossos governos nós realizamos coisas notáveis, realizamos muito quando fui prefeito de Belo Horizonte, depois como ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, no governo Lula; implantamos um programa que se tornou referência mundial, que é o Bolsa-Família, integramos esses programas com os de políticas públicas da Assistência Social, da segurança alimentar, convergindo todos para o Fome Zero visando erradicar a fome no Brasil, o que conseguimos, retiramos o Brasil do mapa da fome. Depois houve uma experiência por um tempo menor, porque teve um golpe que afastou a Dilma (Rousseff), fui também ministro do Desenvolvimento Agrário, onde fizemos trabalhos com a Agricultura Familiar, a questão da agroecologia. Penso, então, que realizamos coisas muito importantes, mas cometemos, vou dizer um equívoco, nós não conseguimos mobilizar efetivamente as pessoas, nós não conseguimos elevar o nível de consciência política das pessoas beneficiadas pelos nossos programas sociais, pelo Benefício de Prestação Continuada, especialmente pelo programa Bolsa-Família integrado com essas políticas outras que mencionei e as vigorosas políticas de apoio à Agricultura Familiar, programas como o Pronaf (Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar), o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), as pessoas, famílias, comunidades do Brasil inteiro se beneficiaram de um programa extraordinário como Luz Para Todos, programas também notáveis como o Minha Casa, Minha Vida, os estudantes foram atendidos com a extensão das redes universitárias, implantação dos institutos federais, sendo assim penso que nós não demos a devida atenção as nossas grandes conquistas, grandes realizações, e não desenvolvemos um trabalho demagógico, trabalho de diálogo, no sentido de alargar a consciência política dessas pessoas, famílias e comunidades inteiras que foram beneficiadas.
Trazendo para o cenário de Minas Gerais, nas eleições de 2018, o partido não foi bem para governador, mas teve o maior número de parlamentares eleitos para a Câmara Federal (8 deputados federais) e para a Assembleia Legislativa (10 deputados estaduais). Como explicar essa situação e as projeções para as eleições desse ano?
O que aconteceu em 2018 merece uma reflexão da nossa parte. Eu não tenho explicação maior sobre o que aconteceu. Agora trabalhamos para termos um bom desempenho em 2022. Penso que é fundamental elegermos uma bancada forte de deputados federais e também para o Senado porque vamos trabalhar muito para elegermos o presidente Lula e assim retomarmos nossas políticas sociais. E fundamental para que nós possamos, num eventual governo do Lula, para o qual vamos trabalhar muito nessa perspectiva, e assim tenhamos um Congresso, especialmente uma Câmara de Deputados capaz de garantir esses avanços aprovando projetos que realmente beneficiem as populações que queremos atender em primeira mão, que são as populações empobrecidas, as pessoas que lutam com maiores dificuldades, a classe média assalariada, os pequenos e médios empreendedores regionais. Então, para atender segmentos que clamam por maior justiça e maior presença do estado, nós precisamos de um Congresso Nacional sintonizado com essas aspirações.
Por ter sido prefeito de Belo Horizonte, o senhor sempre tem o seu nome lembrado como um potencial candidato do PT ao governo de Minas. Chegou a considerar essa candidatura?
Não, desde o princípio coloquei a pré-candidatura à reeleição para deputado federal. Nesse momento estamos exercendo plenamente nosso mandato e trabalhando nossa pré-candidatura para deputado federal na linha do que eu disse antes, porque é fundamental termos uma Câmara de Deputados comprometida com os projetos que nós defendemos e que nós queremos, que eleito presidente, o Lula os implemente e para isso é preciso ter uma Câmara sintonizada com esses projetos.
Deputado, gostaria que o senhor nos falasse de sua militância política em conjunto com os princípios da ética cristã.
A minha formação política se deu através da tradição cristã, católica numa linha ecumênica. Venho de uma família cristã católica, comecei a minha militância muito cedo e boa parte através da igreja, Movimento Pastoral da Juventude, Comunidade Eclesial de Base. Encontrei o meu período de formação num momento muito forte da igreja no Brasil, com grandes lideranças, com essas experiências notáveis que mencionei, as comunidades eclesiais de base, as pastorais sociais comprometidas com a vida, os movimentos de juventude. Tive uma participação ainda jovem num movimento, que foi o Movimento de Justiça e Não Violência. Então minha formação foi se dando por aí, mas é claro que depois fui agregando outras dimensões, fiz meu curso de Direito, fui ser advogado de sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras, advogado de movimentos sociais, associações comunitárias. Depois fui envolvendo em atividades acadêmicas, fui professor, mas sempre muito sintonizado com os grandes princípios da tradição cristã e dos grandes ensinamentos da doutrina social da igreja.
O senhor foi ministro do Desenvolvimento Social. Claro que é uma ação em conjunto entre diversos setores, mas como melhorar a qualidade de vida do brasileiro na questão do desemprego, fome, ainda mais com a questão da pandemia?
Temos no Brasil desafios urgentes. Primeiro considero é derrotarmos Bolsonaro, pois ele não tem nenhuma sensibilidade social, nenhum compromisso com o projeto nacional brasileiro, nenhum compromisso com o projeto de afirmação da nossa soberania nacional, que é também soberania popular, pois um país soberano é um país que cuida em primeiro lugar de seu povo, da sua gente. Além disso é o governo largar também, já disse e reitero, o sectarismo, a intolerância pelas ameaças crescentes de violência, pelo ódio, pela capacidade de ouvir, dialogar. O desafio é derrotar Bolsonaro, derrotar o bolsonarismo, e cuidar com urgência das pessoas que estão morrendo de fome de todo o Brasil, isso depois que nós conseguimos erradicá-la. Sendo assim, penso que o combate à fome, a miséria, a pobreza extrema tem que ser uma prioridade imediata de um governo comprometido com a vida e com o projeto nacional, só depois pensarmos de forma mais ampla nas políticas públicas. Eu defendo uma integração das políticas públicas para que elas efetivamente promovam o bem comum, promovem o bem do povo brasileiro. Tenho dito e reiterado que educação é uma política pública especial e deve ser uma prioridade de nosso governo e das nossas ações no legislativo, executivo. Educação se trabalha nas duas pontas, é um direito fundamental da pessoa desde a infância, até mesmo um valor fundamental para pensarmos qualquer projeto comunitário, seja no plano local, seja regional, estadual ou nacional. Educação vinculada com a cultura, com a pesquisa, com o desenvolvimento tecnológico, mas para nós garantirmos educação de qualidade, com conteúdos pedagógicos adequados para as crianças, para os jovens, enfim, para todas as pessoas do Brasil que quiserem ter acesso a esse valor fundamental, que o conhecimento, é fundamental que a pessoa tenha saúde. Sem saúde ninguém aprende e para ter saúde é necessário ter segurança alimentar, alimentação saudável, meio ambiente saudável, com água potável, tem que ter acesso a esses direitos básicos, moradia digna, trabalho descente. Então é fundamental essa integração, se as relações familiares, comunitárias estão fragilizadas, é necessário as políticas públicas da assistência social para buscar a integração desses valores familiares, comunitários. Eu penso que tendo educação com referência fundamental para o projeto nacional brasileiro, nós temos que integrara à educação as demais políticas públicas, que possibilitem efetivamente o aprendizado e o conhecimento.
O senhor também foi ministro do Desenvolvimento Agrário. O grande produtor tem como se sustentar, mas aqueles pequenos produtores, o pessoal da agricultura familiar, qual sua análise das dificuldades enfrentadas por esses cidadãos diante do momento atual?
É importante lembrar que tivemos avanços notáveis em nossos governos. Implementamos programas extraordinários, como o Pronaf, o PAA, comprando por um preço justo da agricultura familiar na safra os alimentos destinados as famílias, comunidades em situação de vulnerabilidade alimentar. Então nós avançamos muito em políticas vigorosas de apoio à agricultura familiar, na questão também da agroecologia, produção de alimentos saudáveis, mas, hoje estamos vivendo um retrocesso, o veneno prevalecendo nos alimentos, o desmonte de todas as políticas voltadas para o desenvolvimento da agricultura familiar, dos pequenos e médios produtores. O trabalho fundamental é nós recuperarmos essas políticas de apoio à agricultura familiar, no sentido que essas pessoas tenham condições dignas de vida, estimulando ainda o cooperativismo entre eles, estimulando o desenvolvimento regional, facilitando o acesso aos mercados. Enfim, um conjunto de ações que infelizmente neste momento estão sendo destruídas através dessa atuação nefasta do atual governo.
O senhor fez críticas ao Auxílio Brasil. Quais
a implicações desse programa?
O Auxílio Brasil veio para o lugar do Bolsa-Família, que é um programa exitoso, conhecido no mundo inteiro. O Bolsa-Família tornou-se uma política pública. Nós integramos o programa Bolsa-Família com as políticas públicas da Assistência Social. Me lembro perfeitamente que assim que assumimos o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, iniciamos a implementação do programa Bolsa-Família, nós integramos esse programa junto com o de Erradicação do Trabalho Infantil. Depois houve as integração com os CRAS’s (Centros de Referência da Assistência Social), onde profissionais atendem famílias que mais precisam de ter seus direitos básicos assegurados. Bolsa-Família tornou-se uma referência vinculada ao Fome Zero. Duas expressões da nossa língua tornaram-se universais, em todos os encontros que participamos os representantes de outros países sempre se referiam ao Fome Zero e ao Bolsa-Família na nossa língua, o reconhecimento internacional, nós retiramos o Brasil do mapa da fome e o Bolsa-Família cumpriu um papel fundamental, então por que desmontar um programa exitoso como esse e implantar uma farsa, que é um programa datado e mantido com recursos questionáveis, recursos de precatórios. Precatórios são dívidas do estado que o governo tem com pessoas físicas e jurídicas. Esse dinheiro que é destinado a essas pessoas que ganharam do estado ações judiciais é que vai para o Auxílio Brasil por um tempo determinado e o Auxílio Brasil totalmente desvinculado de outras políticas públicas. É por isso que fazemos essa crítica vigorosa ao Auxílio Brasil como uma política demagógica, eleitoreira e oportunista.
“O poder não corrompe, revela”, mas o senhor tem uma longa trajetória política e tem ótima reputação. Como passar incólume pela política?
É questão da honestidade mesmo, tem a ver com minha formação, com meus valores familiares e também com minha formação cristã nessa linha de incorporar profundamente os valores éticos, morais, a questão da transparência. Na prefeitura de Belo Horizonte, por exemplo, nós implementamos o orçamento participativo no sentido que as pessoas saibam tudo sobre o dinheiro público, de onde vem e para onde deve ir, inclusive com efetiva participação das pessoas nessas decisões. Eu realmente uma consciência muito tranquila em relação a minha militância política, pois estou na política não para o benefício financeiro, que graças a Deus eu tive uma realização profissional como advogado, como professor, como servidor público aprovado em concurso público de provas e títulos. A política para mim foi sempre um espaço para o compromisso com a vida, o compromisso com o projeto nacional brasileiro, o compromisso com o bem-comum e com esses valores fundamentais que aprendi desde a minha infância a partir das minhas relações familiares, pessoas extraordinárias que encontrei ao longo da vida que ajudaram a moldar o meu caráter e também reitero por parte da minha formação cristã, onde o legado de Jesus marca uma presença muito forte.
Deputado, qual sua mensagem para os cidadãos as regiões de Caratinga e Manhuaçu?
São regiões muito bonitas, onde já estive várias vezes e nas minhas andanças políticas, mas também a convites para fazer palestras, conferências. São regiões com potenciais extraordinários de desenvolvimento na agricultura, na agroindústria, setor de serviços, setor industrial, setor de comércio. Quero deixar uma mensagem de esperança. Nós vivemos hoje dias difíceis, mas vamos com o nosso trabalho, com o nosso esforço, um trabalho comunitário, coletivo, compartilhado, nós vamos virar essa página, vamos superar esses dias trágicos que estamos vivendo onde a vida não é o valor mais importante, onde fala-se muito do Brasil, usa-se indevidamente os símbolos nacionais, mas sem nenhum compromisso com o povo brasileiro, com o projeto nacional. Vamos virar essa página e vamos construir juntos a partir de nossas regiões, a partir do leste de Minas, vamos construir em Minas Gerais e na nossa grande Pátria Brasileira os nossos territórios dos nossos melhores sonhos e desejos.