Como vimos nos últimos artigos, Freud e Einstein chegam à mesma conclusão ao afirmarem que, para acabar com as guerras, seria necessário a criação de um órgão internacional que agisse como árbitro diante dos conflitos entre as nações. Um órgão dotado de tamanha autoridade que poderia acabar com todos os conflitos que viessem acontecer no mundo. Freud e Einstein entram em contato entre si e trocam correspondências a pedido da extinta Liga das Nações, órgão que, posteriormente, foi substituído pela Organização das Nações Unidas – ONU.
A ONU busca se colocar em um papel importante em todos os conflitos mundiais, mas, o que é interessante, é o fato de que, muitas vezes, ela não intervir e nem dar seu parecer sobre um determinado conflito. Foi assim sobre a crise na Venezuela, onde a ONU disse que não poderia se envolver na situação venezuelana, mesmo com o presidente sendo reconhecido pela comunidade internacional como um ditador. Na atualidade, vemos que a ONU também tem feito muito pouco diante do conflito entre Rússia e Ucrânia.
Diante desses fatos, podemos ver claramente que a ONU, por mais que ela queira parecer, ela não é aquele órgão controlador e dotado de plena autoridade, proposto por Einstein e Freud.
Um dos cuidados que os dois tomaram em suas cartas foi o de ressaltar que qualquer instituição humana é falha e passível de corrupção de maneira a privilegiar uns e agir de má vontade contra outros, e, como não pode deixar de ser, infelizmente, uma instituição como a ONU não está livre dos preconceitos ideológicos. Assim, podemos nos perguntar: Será que, nos conflitos mundiais, a ONU sofre a tentação de privilegiar um determinado lado? Caso ela tenha tal tentação, qual lado ela privilegiaria? Pois, pelos últimos conflitos, podemos notar que o foco da ONU não é a paz, o bem estar, pois ela tem feito muito pouco para alcançar esses ideais. E também vemos que ela não tem a autoridade proposta por Einstein e Freud. Assim, com um “governo mundial” fraco onde muitos depositam suas esperanças, todos nós nos frustramos e padecemos.
Além disso, a pauta da “soberania nacional” voltou a ganhar destaque e atenção nos últimos anos e, tal ideia, para Einstein e Freud, deveria ser abandonada. Um país deveria abrir mão de sua soberania em favor de um governo global que teria a responsabilidade de gerir todas as nações.
Para que o conselho de Einstein e Freud se torne realidade, é necessário que os países deixem sua soberania, deixe seus planos e ambições como nação, e dilua seu poder e soberania dentro de um “governo” mundial, com autoridade cedida e reconhecida pelos demais países, deixando a tal órgão a responsabilidade de reger todo o mundo. No decorrer do tempo, a ONU desenvolveu a ambição de ser a gerente, a árbitra do mundo, aquela capaz de apaziguar conflitos e de “gerir” cada nação na direção de seu plano particular de paz global.
Mas, em tudo o que temos visto, a Organização das Nações Unidas tem deixado muitas coisas sem solução, abstendo-se de exercer aquilo que ela queria e almejava; governar as nações.
Particularmente, acredito que a ideia de um governo mundial é muito perigosa, ainda mais em um mundo polarizado, onde questões ideológicas têm mais influência do que questões verdadeiramente humanitárias.
O conflito entre Rússia e Ucrânia deveria nos alertar para isso, para o questionamento sobre qual é o papel da ONU no tabuleiro global. A Rússia vê a OTAN como um inimigo, e vê os EUA como a maior representação de tudo aquilo que deve ser odiado e destruído, e, dentro desse jogo, e de seus objetivos, o controle da Ucrânia é só um passo dado em uma longa jornada, e a ONU sabia das intenções da Rússia desde à muito tempo e, nesse tempo, o que a ONU fez de concreto para evitar esse conflito? Depois do início do conflito, qual foi a grande ação promovida pela Organização das Nações Unidas diante do conflito entre Rússia e Ucrânia? E essa é a organização que anseia gerir as nações, como ela mesmo declarou em 1994, no “Relatório Sobre o Desenvolvimento Humano”, dizendo que: “Os problemas da humanidade já não podem ser resolvidos pelos governos nacionais. O que é preciso é um Governo Mundial. A melhor maneira de realizá-lo é fortalecendo as Nações Unidas”.
Ao olharmos para tudo o que a ONU faz e, principalmente, para o que ela não faz, é difícil não nos perguntarmos sobre qual governo, em sã consciência, deixaria seu futuro e soberania nas mãos de uma organização assim, que, ignorando o conselho de Einstein e Freud sobre a corrupção das instituições humanas, parece, em muitos casos, já ter um lado para torcer e apoiar, independentemente da situação, fazendo vistas grossas em muitos casos que precisam de ações concretas e urgentes.
Wanderson R. Monteiro
Formado em Teologia,
Coautor de 4 livros,
e vencedor de três prémios literários.
(dudu.slimpac2017@hotmail.com)
(São Sebastião do Anta – MG)