A REINVENÇÃO DE FERNANDO ROCHA

Fernando Rocha, cada vez mais vivo e vibrante (Foto: Arquivo Pessoal)

A REINVENÇÃO DE FERNANDO ROCHA
Jornalista conta como superou uma ruptura e ensina que a vida é um caminho com conquistas difíceis, diárias, e às vezes, pequenas; mas significativas

DA REDAÇÃO – Seu rosto e sua voz são conhecidos do grande público. Ele se parece com aquela pessoa que encontramos na fila do mercado, na padaria ou com alguém que nos dá um ‘oi’ quando caminhamos pela calçada. Devido sua projeção, tornou-se familiar. O jornalista Fernando Rocha foi presença constante nos lares brasileiros devido ao programa “Bem Estar”, exibido às manhãs pela Rede Globo. Com seu jeito carismático, aliado à simpatia e a competência, tornou-se um amigo, amizade que durou entre 2011 e 2019, quando se deu seu desligamento da emissora.
Mesmo diante do inesperado, Fernando Rocha soube se reinventar. Ele não nega que sentiu o golpe, porém parece ter encarnado aquela frase solta do filme “Tudo Acontece em Elizabethtown” (2005), dirigido por Cameron Crowe: “Você tem cinco minutos para mergulhar na tristeza profunda. Aproveite, desfrute, descarte… e siga em frente!”. Eis que houve a reinvenção. “Consegui me reinventar procurando o meu propósito e encontrando essa questão importante para mim, que é ser leve num mundo pesado”, disse em determinado momento da entrevista. Assim, continuou no jornalismo e mostrou outras facetas, como escritor, palestrante e podcaster. Fernando Rocha apresenta um programa no Canal Viver Brasil (Claro TV), e tem ainda o “É assim que a gente fala!”, exibido pela TV Senado, onde destaca curiosidades dos sotaques e das bandeiras de cada estado.
O poeta português Herberto Helder escreveu: “Ninguém acrescentará ou diminuirá a minha força ou a minha fraqueza. Um autor está entregue a si mesmo, corre os seus (e apenas os seus) riscos. O fim da aventura criadora é sempre a derrota irrevogável, secreta. Mas é forçoso criar. Para morrer nisso e disso. Os outros podem acompanhar com atenção a nossa morte. Obrigado por acompanharem a minha morte”. Obviamente, guardadas todas e as devidas proporções, o desligamento de Fernando Rocha da TV Globo poderia parecer uma “morte”. A ruptura de um trabalho construído durante três décadas, onde atuou em praticamente todas as editorias, deixou marcas, mas que foram cicatrizadas. Ele recuperou sua essência, deixou de ser apenas um crachá para ser definitivamente Fernando Henrique Maciel Rocha.
Nessa entrevista, Fernando Rocha, que se define como do “jornalista do século passado”, fala dos percalços e conquistas, de seus projetos e mostra que é um pai-coruja. Claro, o Cruzeiro não poderia ficar de fora desse bate-papo. Ele ainda dá uma dica, fazendo alusão ao programa que tão bem apresentou: “A gente precisa gostar da caminhada, a gente precisa gostar da jornada. Esse gostar que é o bem-estar”.
Mas fica a lição para toda vida: “Aprender a ser mais forte do que nossas melhores desculpas”. Isso sim é bem-estar.

 

Fernando, você apresentou um programa onde o nome indicava o propósito. Qual a maior lição sobre bem-estar que aprendeu com o programa?
Participei de um programa feito ao vivo, em rede nacional e visto em mais de 150 países pela Globo Internacional. A principal lição foi entender que essa atenção de autocuidado ela é uma medida muito particularizada. Você tem que se encontrar. Não pode achar que o que serve para seu vizinho, vai servir para você. Literalmente é um exercício de pensamento e de esforço. Para você encontrar uma medida da qualidade de vida que caiba dentro da sua medida do possível.
Você emagreceu quase 20kg diante do público. Qual conselho para quem enfrenta algum problema de saúde e precisa mudar de hábitos?
Foi o projeto ‘Afina Rocha’. Penso que fazer um processo de reeducação alimentar, de definição de medidas, de luta contra a balança, é um projeto de vida mesmo. Você se conhece mais, você entende melhor as suas reações, seus sentimentos. Fazer um regime com essa consciência, com esse olhar carinhoso para si mesmo, atencioso consigo mesmo, é um exercício de aprimoramento. Você se conhece mais, você se entende melhor, você aprende a ser mais forte do que suas melhores desculpas. Isso serve para vida toda, para todas as áreas da vida.
Depois aconteceu a demissão. Em uma entrevista para o PopLine você disse: “Quando você perde um emprego de uma forma muito abrupta, você perde a sua essência”. Como você recuperou essa essência?
Legal essa pergunta. Eu realmente falo isso, pois quando você perde um emprego que representa muito de sua vida. Eu trabalhei 30 anos na TV Globo. Eu era o meu próprio crachá. Meu nome era “Fernando da Globo”, “Fernando do Bem Estar”, coisa que ainda faz parte de certa forma da minha história. Quando você perde esse nome, você perde um pouco da sua essência, você perde um pouco daquilo que você acha e acredita que é. E de fato você é mesmo. A gente é mesmo isso quando envolvido nesse mundo corporativo. É preciso olhar para dentro, é preciso sacudir essa poeira, é preciso entender que a gente não é o nosso crachá. Eu não era o meu crachá. Eu tinha um nome que era maior do que esse nome de “Fernando da Globo”. Eu tinha o meu nome todo, que me compunha. Fazer isso é a saída, mas não é um caminho fácil. É um caminho com conquistas difíceis, diárias, e às vezes, pequenas, mas significativas.

Como você se reinventou em 2020?
É uma pergunta muito interessante. Eu acabei entendendo que passava por um processo no final de 2019 que foi muito parecido com que o mundo passou em 2020. Na verdade, passei esse processo todo em 2019. Saí da TV em 2019. Quando em 2020 veio a pandemia, entendi que o mundo estava precisando dessa reinvenção que eu estava descobrindo também. Isso rendeu um livro que se chama “Como Ser Leve Em Um Mundo Pesado”. Seu propósito é um plano B? A pergunta é essa. O seu propósito, a coisa mais importante que você tem, que deveria ser, está no plano B? Está na prateleira B? Tem algo errado né? Eu consegui me reinventar procurando o meu propósito e encontrando essa questão importante para mim, que é ser leve num mundo pesado.
No Canal Viver Brasil (Claro TV), continua falando de saúde e bem-estar. Acredita que as pessoas custaram a se atentar para melhores condições de vida?
Acredito que agora as pessoas estão atendas a questão da saúde, qualidade de vida, dessa importância porque agora a gente fala também de imunidade né? Quando a gente fala de saúde, bem-estar, a gente está falando diretamente de imunidade para se prevenir de questões tão importantes como essa pandemia e outras que podem vir. A gente tem que viver essa realidade, a expectativa para algo que não está no nosso controle. Para enfrentar essas tempestades, esse tempo nublado, a gente precisa de imunidade no corpo, na mente e na alma né. Essa preparação é muito importante.

O que te causa mal-estar?
O que me causa mal-estar é uma tristeza para todos nós jornalistas, é essa difusão exagerada de fake news, a forma como as pessoas entendem e absorvem notícias completamente absurdas, sem entender algo tão básico que é uma checagem de fatos que cabe a todo mundo fazer. Perguntas lógicas. Quando a gente desafia questões ligadas à ciência, tecnologia, educação, a formação. Quando as pessoas questionam isso de uma forma tão sem embasamento, acho que isso é o que me causa mais mal-estar atualmente.
Falando sobre jornalismo, em sua avaliação, o que mudou ao longo dos últimos anos, principalmente com o advento da internet, redes sociais? Como fugir do imediatismo?
Eu acho que a resposta para tudo isso, eu sou jornalista do século passado, claro que isso é um jeito exagerado de dizer, mas não tão exagerado assim. A gente tem a noção e o valor do que é o conteúdo. A gente precisa se pautar nesse conteúdo. Essa é a nossa diferença, a diferença da nossa geração. Estou dizendo diferença, sem falar exatamente qualidade. E como fugir do imediatismo é procurando, produzindo e cuidando do conteúdo nosso de todo dia.

Além de jornalista, você é palestrante e escritor. Fale-nos sobre essas atividades? Quais temas aborda?
Também sou podcaster. Tenho dois podcasts atualmente. Um se chama “Na Medida do Possível (Ou Quase)” e o “Um Não Manual Para Uma Vida Saudável”, onde discuto a questão que a gente não tem manual, a gente tem que se descobrir, a gente tem que se reinventar. Tenho outro podcast onde falo da vida dos “50 Mais”, dessa nossa geração. Eu tenho 55 anos, então esse é um assunto que me é muito caro, gosto muito de falar sobre isso, é um mapa de navegação para quem já passou dos 50 anos. Também tenho dois livros, “Na Medida do Possível” e “Como Ser Leve Em Um Mundo Pesado”. Também faço palestras ocasionais, apresentação de eventos, que é algo que faço com bastante frequência, além das apresentações do podcast, do Canal Viver Brasil e do trabalho na TV Senado, falando sobre cidadania e cultura, falando sobre as bandeiras do Brasil, os sotaques brasileiros. São dois programinhas curtos que estão na grade de programação da TV Senado.
Você é declaradamente cruzeirense. Durante sua carreira já cobriu esportes. É possível ser isento nessas situações?

Claro, cruzeirense demais da conta. Sou filho de ex-presidente do Cruzeiro, Dalai Rocha, presidente da transição. Tenho muito orgulho de ser filho dele e também falar sobre esse momento difícil do Cruzeiro, mas que a gente superou. Meu pai foi presidente depois do escândalo de corrupção. Foi presidente do Conselho Gestor, que dirigiu o Cruzeiro justamente nessa mudança. O fato de falar que sou cruzeirense, também sou dessa época onde isso era mais complicado, mas eu não deixava de falar de jeito nenhum. Hoje acho que as pessoas têm mais clareza para entender que o fato de você torcer para um time não vai alterar resultado nenhum e nem vai alterar a forma como a gente trabalha. Meu filho é o repórter Pedro Rocha, que trabalha na TV Globo de São Paulo, já passou por Belo Horizonte, por Cuiabá (MT), Chapecó (SC) e também muito orgulho para família toda. Acho que a gente caminha para uma igualdade de percepção. São Paulo existe isso de uma forma mais clara, jornalistas são corintianos, são palmeirenses, são-paulinos. Aqui em BH tem algo assim mais polarizado (risos), mas acho que a gente caminha para um equilíbrio. Pelo menos é a minha torcida.

Para finalizar, o que é bem-estar para você? É possível encontrar a tal felicidade?
Acho que esse encontro é um caminho, a gente precisa gostar da caminhada, a gente precisa gostar da jornada. Esse gostar é o que é o bem-estar. Quando você gosta do que faz, quando você gosta da sua trajetória, quando você gosta da jornada, aí você está caminhando com a felicidade, não ao encontro dela. Você caminha com ela, mas não pode parar de caminhar, vamos em frente.

Fernando Rocha, cada vez mais vivo e vibrante (Foto: Arquivo Pessoal)
Dentre outras facetas, o jornalista apresenta podcasts (Foto: Arquivo Pessoal)
Fernando Rocha e a alegria em ter se reinventado (Foto: Arquivo Pessoal)
Além do trabalho como jornalista, Fernando Rocha é escritor, palestrante e tem programas de podcast (Foto: Arquivo Pessoal)
Claro que a paixão pelo Cruzeiro não poderia ter ficado de fora desse bate-papo (Foto: Rede Social)

FERNANDO ROCHA, O ESCRITOR

“Na Medida do Possível (Ou Quase)” (Ed. Best Seller) – Nesse livro, Fernando Rocha descreve com bom humor e extrema sinceridade seu processo de emagrecimento e de mudança de hábitos rumo a uma vida mais saudável. “Na medida do possível” vai na contramão dos livros de autoajuda e emagrecimento: em vez de dizer que tudo é muito simples e que “basta querer”, Fernando mostra que não é fácil, que o caminho é longo, mas que sempre existe uma maneira de alcançar o que queremos. Depende de cada um descobrir o que dá certo. Narrando sua própria experiência (e abrindo parênteses aqui e ali para contar causos de uma vida movimentada), o jornalista oferece dicas de planejamento e revela o que tem feito para levar a cabo suas metas mais difíceis. Com sinceridade e bom humor, Fernando mostra que é possível estar na medida, mesmo que não seja a medida das passarelas. O que importa é sentir-se bem. Na medida do possível.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Como Ser Leve Em Um Mundo Pesado” (Ed. Rocco). Através das histórias e 5 aprendizados — perceber os sinais, ter iniciativa, rir de si mesmo, ser resiliente e conhecer as próprias emoções —, Fernando Rocha ajuda o leitor a reinventar a concepção do que é importante no âmbito profissional de cada um, instigando a pensar além de um simples “plano B”. Uma leitura leve, porém, introspectiva, que promove autoconhecimento e traz esperança.