FILMES DE COMÉDIA ROMÂNTICA SEM CLICHÊS
O cinema tem alguns gêneros que não conseguem escapar dos famosos clichês. Por exemplo, quantos filmes de faroeste existem que a mocinha não é a filha do xerife? E que o mocinho e o bandido estão lutando pelo amor dela? Um dos gêneros que mais possuem clichês é a comédia romântica, que teve seu auge nos anos 90, com atrizes como Meg Ryan e Sandra Bullock. Cenas inteiras como aquela corrida final do protagonista atrás de seu amor que está indo embora da cidade, ou ainda a história de melhores amigos que depois de anos a ficha cai e começam a ficar juntos, é bastante comum. Elas deixam a sensação no espectador que ele já viu aquela história em algum lugar. Porém, existem outras produções mais inovadoras e que por isso mesmo se destacam em meio a outras. Confira abaixo algumas delas, uma produção americana, uma inglesa e uma argentina.
UM SENHOR ESTAGIÁRIO
EUA/2015
De Nancy Meyers
Com Robert de Niro, Anne Hathaway, Rene Russo, Anders Holm
Ben Whittaker é um septuagenário que se inscreve em uma vaga de estagiário sênior na empresa de moda fashion, fundada por Jules Ostin.
Os filmes de Nancy Meyers sempre permeiam a comédia romântica mais adulta e amadurecida, como o espectador pode comprovar em “Alguém Tem que Ceder” e “Simplesmente Complicado”. Desta vez, as características principais continuam, porém a inovação se dá pela inexistência de romance dentre os protagonistas e sim a construção de uma improvável amizade.
Contando com uma bela interpretação de Robert De Niro, temos um senhor aposentado querendo voltar à ativa, uma vez que ele sente que ainda pode contribuir para o sucesso de uma empresa. Ele então consegue vaga numa empresa jovem, com estilo diferente do que ele se acostumou em sua vida.
O estilo diferente entre ele e a fundadora do estabelecimento produz certas desconfianças no início. Ela é uma jovem que ganhou muito dinheiro em pouco tempo e agora precisa administrar seu tempo entre sua família e o crescimento desenfreado de sua empresa. Aos poucos, a amizade entre eles rende frutos tanto para sua vida pessoal quanto profissional.
Sem abusar dos clichês do gênero e contando com boas interpretações e comédia sutil na medida certa, “Um Senhor Estagiário” é prova que o gênero pode fazer sucesso e inovar ao mesmo tempo.
QUESTÃO DE TEMPO
Reino Unido/2013
De Richard Curtis
Com Domhnall Gleeson, Rachel McAdams, Bill Nighy, Lindsay Duncan, Tom Hollander
Quando completa 21 anos de idade, Tim descobre através de seu pai que todos os homens da família tem a habilidade de viajar no tempo. Ele resolve se utilizar desse poder para conseguir conquistar a mulher que ele considera perfeita.
Richard Curtis é conhecido por ser o roteirista de comédias românticas inglesas muito famosas (como “Quatro Casamentos e um Funeral”, “Um Lugar Chamado Nothing Hill” e “Simplesmente Amor”). Em “Questão de Tempo”, tudo leva a crer que vai ser mais uma comédia romântica estilosa e divertida. Temos todos estes elementos, mas a trama consegue alçar nuances mais profundas desta vez.
Através do personagem de Domhnall Gleeson, o espectador reflete se realmente é importante termos uma segunda chance para tudo na vida. E se de repente o que acontece da primeira vez é o que tinha que ocorrer para nosso aprendizado? Qual a necessidade de se consertar as coisas? Afinal, quando alguém precisa consertar algo, aquilo realmente precisa de conserto?
A viagem no tempo é mero coadjuvante da trama. Tanto que o cineasta nem se preocupou com a forma de viagem: o protagonista só precisa fechar as mãos para ir ao passado. O que interessa é a necessidade da viagem. E com isso, a comédia romântica ganha ares de leve drama existencial, em belas cenas retratando não só o amor de um casal, mas também de pai e filho.
“Questão de Tempo” é uma das grandes surpresas do gênero, com belos cenários e atuações, além de uma ótima trilha sonora bastante adequada para os personagens. Um filme para ficar na memória do espectador e a forma inglesa de encarar os conflitos do “Efeito Borboleta”.
MEDIANERAS: BUENOS AIRES NA ERA DO AMOR VIRTUAL
Argentina/2011
De Gustavo Taretto
Com Javier Drolas, Pilar López de Ayala, Inés Efron, Adrián Navarro
As histórias de Martin e Mariana, vizinhos que não se conhecem, morando em construções opostas, cada um com seus traumas específicos, fobias sociais e desejos incompreendidos.
A trama inovadora apresenta uma metáfora utilizando a arquitetura e fazendo uma analogia com a vida dos protagonistas. O espectador acaba tendo um painel de Buenos Aires e da vida da população levando em consideração as habitações que permeiam a cidade.
Desde o início, nos é apresentado a história de cada um dos personagens: Martin credita toda a sua depressão aos arquitetos e Mariana é uma arquiteta. Ao longo do filme, percebemos que a cada mania, fobia e busca de cada um deles, o abismo que parecem separá-los fica bem menor.
A história utiliza uma linguagem pop para contar a vida neurótica dos dois, seus hábitos, filmes, medos, etc. A grande diferença para as comédias românticas de tons modernos é que desta vez os personagens não convivem um com o outro. Pelo contrário, no decorrer do longa, não sabemos nem se eles um dia vão se encontrar.
“Medianeras” é mais um filme argentino da nova geração que prova que não é preciso ter um orçamento gigantesco para fazer um ótimo filme, cheio de analogias e reflexões sobre o mundo moderno.
Warny Marçano é blogueiro do WCinema (www.wcinema.blogspot.com), composto por resenhas de filmes e notícias em geral da sétima arte.
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