Luana Bittencourt Brandão é aprovada na melhor escola de balé do mundo e fala das suas expectativas diante do horizonte que lhe foi aberto
CARATINGA – Tem um provérbio que diz: “A dança é a mãe de todas as linguagens”. Então, Luana Bittencourt Brandão, de apenas 12 anos, está se expressando muito bem. A menina acaba de ser aprovada pela Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, sediada em Joinville/SC. Luana participou de audições entre os dias 17 e 19 de outubro e foi aprovada. A missão não era das mais fáceis, já que havia 445 candidatos. E a caratinguense ficou entre as 22 escolhidas para o Curso Básico em Dança Clássica.
Para Luana Bittencourt, a ficha ainda não caiu. A menina de olhos firmes e de jeito tímido ao falar está absorvendo o que aconteceu em sua vida. “Ainda não tenho noção, mas pretendo seguir carreira como bailarina. Aprender coisas novas, fazer amizades e conhecer novas culturais”, diz a selecionada pelo Bolshoi.
A mesma sensação de incredulidade é compartilhada por Karina Bittencourt, a mãe de Luana. “Eu sei que é uma coisa grandiosa, mas também não assimilei”, expressa Karina ao falar sobre o feito da filha.
E a família foi fundamental para que Luana Bittencourt tivesse êxito. Além da mãe, o pai Gilvan Gomes Brandão e os irmãos Rafael e Thiago sempre apoiaram os passos de Luana. Agora a avó materna Maria Lúcia Bittencourt terá um papel importante, pois irá morar com Luana na cidade catarinense.
Outra pessoa fundamental neste sucesso é a professora de balé Keké. Foi ela quem enxergou o talento nato de Luana. Há cinco anos Keké dá aulas para a menina e a levou para Governador Valares, onde aconteceu a primeira seletiva do Bolshoi. “Geralmente essas seletivas acontecem em cidades que ficam distantes de Caratinga. Mas Governador Valadares sediou uma dessas etapas. Foi tudo de última hora. Tomei conhecimento um dia antes. Falei com Luana e ela aceitou o desafio”, relembra Keké.
Luana foi para Governador Valadares sem muitas expectativas. “Fui fazer o teste apenas para saber como era. Achei que não passaria, pois tinha muita gente. Nem acreditei quando fui selecionada para ir a Joinville. Depois disso cresceu minha confiança”, conta.
A professora Keké explica que as audições do Bolshoi são divididas em duas etapas. “Inicialmente tem a médico-fisioterápica quando fisioterapeutas, médicos, professores de educação física e de dança analisaram postura, estrutura e habilidades físicas, motoras, frequência cardíaca e respiratória, percentual de massa corpórea e somatotipo, força, musculatura, articulações. Depois vem a artístico-musical e cognitiva, quando profissionais da dança, músicos e professores avaliaram as habilidades técnicas e artísticas, musicalidade, projeção cênica e também o desempenho intelectual dos candidatos”.
Em Joinville, Luana irá estudar dança clássica; prática cênica; ginástica específica; ginástica acrobática; dança popular histórica; educação musical e rítmica; repertório; folclore brasileiro; dança a caráter; dança contemporânea; teatro; piano; história da arte; literatura musical; dueto; história da dança. As aulas começam em fevereiro de 2015.
O COMEÇO
Luana começou no balé aos seis anos de idade. A mãe Karina foi quem a levou. Depois a menina tomou gosto e passou a se dedicar. Luana diz que o balé lhe proporcionou fortalecimento muscular, equilíbrio e disciplina. “Digo que me disciplinou não só para a dança, mas para a vida. Isso será muito importante no Bolshoi, pois o desempenho escolar é levado em consideração. Então tenho que tirar boas notas”.
Atualmente Luana mede 1,44m de altura e pesa 32 quilos. Sua alimentação é a base de frutas, sucos naturais e verduras. “Luana sempre foi magra”, atesta a mãe Karina Bittencourt. Nas horas vagas, Luana assiste comédia e ouve música. “Não tenho um estilo preferido. Eu não gosto é música ruim”, brinca a nova aluna do Bolshoi.
TRADIÇÃO RUSSA
Fazendo uma analogia com o futebol, o feito de Luana é como se um garoto fosse aprovado pelas equipes de bases dos clubes espanhóis Real Madrid ou Barcelona, considerados hoje os maiores do mundo. Ainda dentro dessa analogia, como o Brasil é o país do futebol, apesar da Alemanha, a Rússia é o país do balé. O Bolshoi é uma companhia russa e escolheu o Brasil para instalar sua única filial. A tradição russa no balé é enorme e nos remota a nomes como Vaslav Nijinski, Mikhail Baryshnikov e Rudolf Nureyev. Outro nome importante é de uma professora que criou um novo jeito de ensinar, como especifica Keké. “Realmente a Rússia é a número um do balé. Em Joinville, Luana irá estudar o Método Vaganova, que é um método de ensino de balé clássico que foi desenvolvido por Agrippina Vaganova. Ela criou um programa de estudos para melhor ensinar a arte do Balé Clássico”, explica de forma didática a professora Keké, complementando que Estados Unidos e China também têm ótimas escolas, “mas a Rússia ainda supera estes países”, completa Keké.
Não no mesmo patamar da Rússia, mas o Brasil tem grande tradição no balé, principalmente entre as mulheres. Nomes como Ana Maria Botafogo e Cecília Kerche são reconhecidas mundo afora. Porém, Luana admira a sua xará Luana Lopes (N.E: Estudante brasileira da Escola do Teatro Bolshoi que foi aceita para estudar engenharia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, uma das instituições de ensino mais conceituadas do mundo. A jovem, de 18 anos, que já fez parte do corpo de balé do Theatro Municipal do Rio de Janeiro deixou as sapatilhas pelos cálculos em robótica. Luana Lopes disse que levaria o balé para o movimento dos robôs). “Ela dança muito bem e também estudou no Bolshoi”, elogia a caratinguense.
PERFEIÇÃO
Em 2010, o filme “Cisne Negro”, dirigido Darren Aronofsky, foi sucesso de público e crítica. Nele, Natalie Portman, que inclusive ganhou o Oscar por este papel, interpreta uma jovem obstinada em ser a primeira bailarina da companhia a que pertence. Uma das frases marcantes do filme é “a única coisa que está em seu caminho para a perfeição, é você mesma”. Professora Keké concorda que é um mundo competitivo, onde a perfeição é cobrada a todo o instante, mas Luana esta preparada para isso. “Ela (Luana) é uma menina muito atenta e tem sua família como alicerce. Competição existe e espero que seja de maneira saudável. Estar no Bolshoi é algo muito desejado e poucos conseguiram. Luana é uma dessas pessoas. Mas nada é por acaso. Tudo depende de talento e dedicação. Coisas que Luana tem de sobra”, ratifica a professora.
Enquanto aguarda fevereiro chegar, Luana segue curtindo sua família e frequentando as aulas na Escola Professor Jairo Grossi. “Passei por duas audições difíceis. Agora é esperar o que me aguarda em Joinville. Estou tendo uma grande chance e não desperdiçá-la”, conclui a menina de poucas palavras, mas de grandes convicções.
E quem quiser conhecer de perto o talento de Luana Bittencourt para o balé, as 19h30 do próximo sábado (1º de novembro) será realizado um Festival de Dança no Centro de Convenções da Unec. A entrada é franca.