*Marcos Miguel da Silva
Anarquizada impiedosamente, a Nação brasileira “adotou” a inversão de valores em patamares inadmissíveis, e aquilo que deveria ser regra passou a ser exceção, em especial a honestidade, que se tornou artigo de luxo em meio à classe política, salvo as raríssimas exceções.
Mas não seria exagero ver o Brasil com esses olhos? Antes existisse algum exagero. Mas por infelicidade, é este o quadro conjuntural do país dos brasileiros e brasileiras, e se não fosse ultrajante, quem sabe até seria cômico!
Estamos todos fadados a esse nojento e insalubre cárcere social, onde pelas suas frestas se pode assistir impotente os mais de 200 milhões de brasileiros privados do acesso à educação de qualidade; dos serviços de saúde capazes de ofertar um atendimento minimamente qualificado; de uma malha viária de qualidade, eis que o trânsito hoje mata mais do que as doenças do coração. Desnecessário mencionar o quesito segurança, que praticamente inexiste.
Mas o Brasil não é um país rico? Sim. De fato estamos falando de uma nação que teria tudo para se enquadrar entre as mais prósperas do planeta, isto se não fosse igualmente rica em corrupção, jeitinho próprio, escassez de caráter, insensibilidade, ganância desmensurada e tantos infortúnios outros…
A premissa do senso de democracia insculpida no bojo constitucional parece não permitir se descortinar, de modo que pudesse ser observada por aqueles mandatários que de fato deveriam representar o povo, culminando nessa desordem, que maquiadamente é apresentada à população, com ocultação ou omissão da realidade dos acontecimentos.
A situação é tão assustadora, que algumas palavras ou expressões se tornaram próprias do Brasil ou quando nada permitem alusão ao Brasil bem mais que certos atrativos nacionais, como o Cristo Redentor ou as Cataratas do Iguaçu. Exemplificando: corrupção, violência e propina, se tornaram palavras tão peculiares que ao serem pronunciadas trazem à mente dos interlocutores a silhueta do mapa do Brasil.
Mas triste ainda é saber que quando se menciona o “Cristo Redentor”, a silhueta que surge nas mentes seria a de uma cidade, que outrora foi maravilhosa, dominada por civis tresloucados agindo à margem da lei, ostentando armas de longo alcance, praticando assaltos e matando inocentes, numa verdadeira banalização da vida humana.
Se não bastasse esse caos, o sentimento de desesperança torna-se cada vez mais aguerrido, tal qual a dominância das desditas elencadas, que gradativa e incessantemente contaminam cada um dos setores e órgãos da administração, como um câncer agressivo, não se podendo excluir nenhum dos Três Poderes. Hoje o Brasil se tornou um barco à deriva…
Encarcerada nesse pelourinho, sem ter a quem recorrer, se encontra a população brasileira, vitimada por sua própria falta de atitude e posicionamento correto, que sempre se deixou levar por paixões e sentimentos minúsculos e até mesmo mesquinhos.
A sensação de insegurança e incerteza culmina por dar vazão a inusitados sentimentos. E por conta disso a mente dos brasileiros se tornou uma eficaz construtora de celas imaginárias, cujo sentimento se agrava com a vulnerabilidade do estado democrático de direito. Eis que tão danoso quanto perder a vida, seria entregar as mãos às algemas da repressão. E talvez esse seja o maior temor nacional.
É preciso empunhar a bandeira da verdadeira liberdade e dar cabo à essa opressão angustiante. Contudo, de nada valerá a tomada de atitudes se estas não estiveram ancoradas na essência do senso de civismo, ética, moral e, sobretudo, patriotismo. Pois que erros jamais corrigem erros.
A chave capaz de nos libertar desse cativeiro se escreve com apenas quatro letras, entretanto é preciso saber manuseá-la adequadamente, sob pena de, ao invés de galgar a liberdade almejada, nos escravizar ainda mais nessa senzala da desilusão. Essa chave se chama VOTO.
* MARCOS MIGUEL DA SILVA – Advogado, escritor, historiador e poeta; membro da Loja Maçônica Universitária Cristal dos Três Vales Nº 3.822 (Teófilo Otoni-MG); Membro Titular da Cadeira nº 15 da Academia de Letras de Teófilo Otoni – ALTO; Membro titular da Cadeira nº 13 da Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas – AMLM. Autor dos livros “RIO DAS PEDRAS – ITAIPÉ 50 ANOS” e “EU E A VIDA AOS OLHOS DA LUZ” e coautor em diversas antologias.