Idoso fugiu de um asilo em Santa Bárbara do Leste e foi encontrado em uma fazenda, onde recebeu autorização para permanecer, pois está saudável e não necessita de cuidados especiais
CARATINGA – Na última segunda-feira (10), a direção do lar de convivência Albertina Maria Nunes, em Santa Bárbara do Leste, declarou a procura pelo aposentado Paulo Camilo da Silva, 65 anos. De acordo com uma funcionária, por volta das 23h de domingo (9), ela viu que Paulo Camilo estava dormindo. Já na manhã da segunda-feira (10), quando outra funcionária foi averiguar, constatou que o idoso enrolou cobertores e colocou outro por cima, simulando que alguém estivesse dormindo na cama. Sobre a fuga, funcionários acreditam que ele usou algo para suporte e assim pular o muro.
Ele já teria fugido outra vez e costumava alegar que não queria viver no asilo e desejava voltar para casa. Sete dias depois, ele foi encontrado em uma fazenda em Santa Luzia. O DIÁRIO DE CARATINGA esteve na manhã da última sexta-feira (28) em Santa Bárbara do Leste, em busca de conversar com Paulo e saber mais sobre sua história. Quando a reportagem chegou ao Lar de Convivência, foi informada pela direção de que o idoso foi autorizado pela Justiça a morar no local em que desejasse. Paulo quis retornar para a mesma fazenda em que estava, onde foi acolhido por amigos.

Aos 65 anos, Paulo Camilo acredita que não necessita de cuidados especiais que justificassem sua permanência em um asilo
Em conversa com a reportagem, Paulo afirmou que antes de ir morar no asilo, morava sozinho, em uma casa alugada em Caratinga. O idoso tem três filhas, com idade entre 33 e 40 anos e relata que não tem contato com nenhuma delas há pelo menos três anos e seis meses, período em que morou no Lar de Convivência, pois nunca lhe visitaram.
Separado da esposa, Paulo ainda tem dez netos. Sobre sua ida para o asilo, Paulo destacou que duas de suas filhas lhe “enrolaram”. “Num dia quando fui fazer almoço, elas disseram que me levaria para hospital e acabaram me levando para o asilo. Não preciso delas nem para um palito de fósforo, elas que precisavam de mim, penso que queria dinheiro. A mais velha sentou comigo em meu barraco e disse assim: ‘pai, o senhor aposentou, faz assim, me dá seu dinheiro e o senhor vai trabalhar para o senhor comer’”, lamentou.
Muito chateado, o aposentado ainda lembrou que uma das filhas teria recebido R$ 500 que ele havia emprestado para uma pessoa, enquanto estava no asilo. Agora, ele pretende recomeçar. “Eu tinha um barraco, com minhas coisas, minhas filhas sumiram com tudo. Sofri minha vida toda, trabalhei no brejo para cuidar delas, ficava todo sujo de barro, até a cabeça, para elas crescerem, me ajudarem e fazem isso comigo. Conto que não tenho filhas mais, mas vou sentir falta dos meus netos. Vou me mudar para Santa Luzia, alugar uma casinha e viver tranquilo, eu sei fazer de tudo, não precisa ninguém cuidar de mim”, disse, com muita tristeza.
Paulo está forte e lúcido. Ele afirma que não sofre de nenhuma doença grave e toma remédios apenas para controlar a pressão arterial, por isso, nada justificaria sua permanência em um asilo, onde se sentia totalmente desconfortável, já que considera que ainda tem forças para trabalhar e não precisa de cuidados especiais. “Sou criado na roça, a gente gosta de movimentar. Cheguei a ficar com as pernas fracas (no asilo), pois lá não tinha espaço para me movimentar, era só comer e dormir”.
Sobre a fuga do asilo, ele contou que deixou o local ainda no domingo (9/7), seguiu de carona para Caratinga e depois para o Suísso, onde já morou por quase um ano. “Aqui é mesma coisa de minha casa, me colocaram para dormir junto deles, confiam em mim, me deixam tomando conta, meu dinheiro é só pra mim. Não preciso pagar nada”.
A reportagem não conseguiu contato com as filhas de Paulo Camilo para saber a versão delas para as alegações do pai.