Walber Gonçalves de Souza
Pelo visto o cantor Bezerra da Silva tinha razão, “se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão, se gritar pega ladrão não fica um”. Recentemente, em um dos áudios gravados e divulgados pelos meios de comunicação por todo o país, em que nomes conhecidos da política nacional discutiam suas situações frente ao cenário atual de combate à corrupção, um deles dizia que, se houvesse cinco parlamentares honestos no Congresso seria muito. Isto mesmo, ele disse cinco.
Infelizmente sabemos que esta prática está enraizada por todo o país. Onde há envolvimento de dinheiro público, muito provavelmente ali estão também as mãos dos corruptos e corruptores. A corrupção tornou-se um “câncer” gigantesco que aos poucos se apoderou, dominou e vem matando os sonhos e esperanças dos brasileiros.
Mas há um paradoxo estranho permeando toda esta triste realidade, queremos acabar com a corrupção, mas não com os corruptos. Criamos uma falsa sensação de que combatendo a corrupção automaticamente acabaremos com os corruptos. Sendo que a questão é justamente o contrário. Se combatermos o corrupto a cultura da corrupção estará com os dias contados. Observamos na contramão dos fatos tanta gente gritando contra a corrupção e aplaudindo ou passando as mãos na cabeça dos corruptos.
Estamos cansados deste maldito ato, queremos um basta nesta prática maléfica. E não há outro caminho, torna-se preciso a coragem para combatermos os mafiosos, os bandidos que saqueiam e esfolam os cofres públicos. Para isto é preciso deixarmos as paixões partidárias, as emoções que cegam as reflexões e entendermos um pouco mais do que está acontecendo ao nosso redor, é preciso se inteirar dos fatos, buscarmos conhecimento.
Bertolt Brecht alertava sobre a tristeza em ser analfabeto político, segundo ele “o analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, corrupto e o lacaio…”
Não podemos esquecer que é da prática do corrupto que nasce o sofrimento das pessoas nos postos de saúde; que nasce o sofrimento das famílias ao verem seus entes queridos sem atendimento médico ou tratamento.
Não podemos esquecer que é da prática do corrupto que milhares de crianças são fadadas a um destino cruel, sem possibilidades e oportunidades. Pois ao roubarem o dinheiro público retiram das crianças o direito a uma escola de qualidade que permitirá que ela ouse sonhar com dias realmente melhores. Assim, sobra uma educação de péssima qualidade, como há muito tempo estamos vivenciando no nosso país, em praticamente todos os cantos e recantos.
Não podemos esquecer que é da prática do corrupto que faz com que as ruas fiquem mal conservadas; que o esgoto continue sem ser tratado; que as estradas vicinais ainda estejam sem pavimentação adequada.
Não podemos esquecer que é da prática do corrupto que a sociedade passa a conviver com a violência, que se manifesta a cada dia de forma mais cruel; que a meritocracia fica deixada de lado; que as pessoas passam a não acreditar em mais nada, chegando ao ponto, como diria o poeta, de ter vergonha de ser honesto.
Combater este mal que está destruindo a nossa nação, é provavelmente o nosso grande desafio deste início de milênio. Assim temos que parabenizar os poucos promotores e juízes que estão liderando este desafio, dentro, é claro, das atribuições a que lhes cabe.
A nós cabe olhar Brasília, a capital do Estado e as nossas cidades com o mesmo olhar. É muito fácil criticar quem está longe e sermos omissos com a realidade que nos rodeia. Assim não dá! Temos que ter compaixão com os milhares de citadinos que dia após dia são diretamente impactados com os atos mesquinhos e desumanos dos corruptos.
A dita bondade, a dita caridade, a dita amabilidade, a dita popularidade, a dita amizade não pode ser apenas um escudo, uma máscara, que esconde a verdadeira face do tirano, do desumano, do traidor de todos aqueles que um dia depositaram o voto de confiança.
Chega, basta, vamos olhar e defender quem são realmente os oprimidos com toda esta situação: nós, o povo que sonha em um dia ver nas mais diversas partes desta nação um lugar digno de se viver.
Walber Gonçalves de Souza é professor.