Ela pratica vôlei desde os 14 anos de idade, tendo por referência sua família que é formada por esportistas. Iniciou no Vôlei Sentado em 2009 e desde então já foi seis vezes campeã brasileira e quatro vezes campeã no Torneio Sergio Del Grande. Janaína Petit é atleta do Serviço Social da Indústria de São Paulo (Sesi-SP).
Aos 17 anos, mudou-se para São Paulo e começou uma nova fase de sua promissora carreira, interrompida por um acidente que comprometeu os movimentos de sua perna. Após se recuperar por um ano e meio das sequelas do acidente, voltou a jogar vôlei pelo São Caetano, mas teve uma ruptura nos ligamentos do joelho. Após cinco rupturas de ligamentos, ela decidiu deixar de jogar e voltar para sua cidade.
Apesar da relutância à proposta de jogar vôlei sentado, ela se redescobriu nessa modalidade esportiva. Era a sua chance de voltar às quadras e “Jana”, como é carinhosamente chamada, acabou aceitando compor a equipe de 15 atletas do SESI-SP. Hoje, ela se diz realizada com a decisão: “Achei o jogo muito dinâmico e desde então não parei mais”.
Em entrevista ao DIÁRIO, Janaína comentou suas conquistas no vôlei sentado e sobre a satisfação de ser considerada uma das melhores jogadoras do mundo na categoria.
Aos 18 anos, a senhora viu o seu sonho prestes a ser interrompido; após ser atropelada por um ônibus, a caminho do clube paulista Pinheiros. Como foram as tentativas de retomada da atividade esportiva? O que lhe fez desistir e retornar para sua terra Natal?
Foi muito difícil. Era um sonho que eu tinha desde muito criança, porque meu pai jogava, minha mãe jogava, isso já vem de berço mesmo. Quando estava no hospital, não sabia da extensão da lesão, achava que ia retomar normalmente. Depois voltei e como perdi uma parte do quadríceps e da panturrilha, comecei a ter ruptura de ligamento jogando em pé ainda. Rompi acho que cinco vezes e a última vez estava com os dois joelhos, o esquerdo e o direito rompidos. Fiz a operação, porque estava me prejudicando até no meu cotidiano. Foi uma decisão difícil, mas decidi mesmo parar de jogar porque não aguentava mais fazer cirurgia e toda a recuperação, que é uma parte bem difícil também. Quando voltei para minha terra natal foi outra fase difícil, porque minha vida inteira; sempre joguei vôlei e tive que retomar os estudos, depois de dois anos que eu já estava lá, porque eu ficava olhando pra cima, não sabia o que fazia. Conheci meu atual marido, que era meu namorado na época, me deu muita força pra voltar a estudar e estava lá vivendo a minha vida normal, sem jogar e nem nada.
Em 2006, a senhora começou a ser sondada pela comissão da seleção feminina de vôlei sentado. Já conhecia esta modalidade esportiva? O vôlei sentado lhe parecia tão atrativo quanto o vôlei tradicional?
Na época era o Ronaldo Oliveira, que até nosso técnico aqui no SESI. Tive uma resistência muito grande, primeiro porque não me considerava deficiente e porque não conhecia o esporte, não sabia nem como jogava e sempre recusava as investidas dele. Em 2009 eles retornaram a me chamar e decidi. Novamente meu marido me deu muita força, veio aqui comigo no SESI Suzano e vi um treino. No começo achei meio estranho, porque vi aquele monte de perna, que tem bastante amputado, jogada pelo chão as próteses, mas gostei muito. Achei o jogo muito dinâmico e desde então não parei mais.
Este ano, a senhora conquistou o bronze na Paralimpíada do Rio de Janeiro e entrevista, disse que aquele bronze “valia mais que ouro”. Como foi conquistar esse feito inédito?
Valeu mais do que o ouro, porque eu achava que ia parar de jogar e não ia conquistar uma medalha paraolímpica. E depois de muita luta, que eu vim de Londres até esse ciclo todo do Rio, foi muito difícil, porque engravidei e para retomar os treinos e ficar longe do meu filho foi muito difícil, além de outras questões de pressão também, mas que não vem ao caso.
Dentro da carreira esportiva, o que considera mais fácil e mais difícil?
O mais fácil foi que eu já sabia jogar vôlei e o difícil mesmo foi a adaptação sentada no chão, onde você coloca suas pernas. O apoio mesmo, porque se não fosse o apoio do SESI com certeza não estaria jogando mais. Esse apoio é fora do normal. Agradeço ao SESI por acreditar nesse projeto com os deficientes, não só no vôlei, porque aqui tem a bocha e o atletismo, por exemplo.
Qual foi sua maior realização dentro do esporte?
A primeira foi ter ido para Londres. O nosso objetivo era ficar entre os sete colocados e conquistamos o quinto lugar. E agora a medalha de bronze também, que foi inédita para a modalidade.
Quando se fala em Janaína Petit, logo se pensa em superação. Podemos dizer que o vôlei sentado foi um “renascer” para a senhora?
Todos se superam, têm pessoas que no esporte paraolímpico ainda se superam mais que eu. Com certeza foi um renascimento, porque desde aquela época que vi minha carreira terminar, que era um sonho desde menina e agora conseguir conquistar uma medalha paraolímpica e me realizar mesmo, ser considerada uma das melhores jogadoras do mundo na categoria, fui a segunda maior pontuadora de novo agora. Pra mim é uma realização muito grande e realmente foi um renascer.
BOX:
Saiba mais sobre a modalidade
O esporte surgiu em 1956, na Holanda, a partir de fusão do voleibol convencional e o sitzbal, esporte alemão que não tem a rede, praticado por pessoas com mobilidade limitada e jogam sentadas, resultando no voleibol sentado.
No voleibol sentado, competem atletas amputados, principalmente de membros inferiores (vítimas de acidentes de trânsito, por exemplo) e pessoas com outros tipos de deficiência locomotora (sequelas de poliomielite, por exemplo).
A quadra tem tamanho inferior ao do vôlei tradicional, com dez por seis metros, e a altura da rede é de 1,15m do solo no masculino e 1,05m para o feminino. Atletas jogam sentados na quadra. No voleibol paralímpico, o saque pode ser bloqueado.
A quadra se divide em zonas de ataque e defesa. É permitido o contato das pernas de jogadores de um time com os do outro, porém as mesmas não podem atrapalhar o jogo do adversário. O contato com o chão deve ser mantido em toda e qualquer ação, sendo permitido perdê-lo somente nos deslocamentos. Cada jogo é decidido em melhor de cinco sets, vencendo o time que marcar 25 pontos no set. Em caso de empate, ganha o primeiro que abrir dois pontos de vantagem. Há ainda o tie breakde 15 pontos.