“As pessoas ligam a televisão quando querem desligar o cérebro”, Steve Jobs
Luciana Azevedo Damasceno*
O cérebro é reconhecidamente um dos órgãos mais importantes no ser humano. Mais do que proporcionar a vida, ele nos dá as principais características que nos conferem o título de humanos como o pensamento e as funções cognitivas de forma geral. Mas esse órgão tão fundamental vive nos surpreendendo e conceitos que acreditávamos conhecer tão bem sobre ele estão sendo lentamente derrubados e substituídos pelas recentes descobertas da neurociência.
Por mais de quatro séculos os cientistas acreditavam que nascíamos com um número definido de neurônios e que teríamos somente esse númerzo para utilizar ao longo da vida. Entretanto, diariamente esses neurônios vão morrendo através da morte celular. Hoje eu tenho mais neurônios do que tinha ontem e amanhã terei mais neurônios do que tenho hoje e assim por diante. Mas se perdemos neurônios a cada dia como podemos ficar mais inteligentes e aprendendo coisas? Eu explico. No início do desenvolvimento nosso neurônio se comunica diretamente com outro neurônio, transmitindo através de um impulso elétrico informações para o próximo neurônio num modelo um-a-um, mas na medida que vamos nos desenvolvendo e aprendendo novas informações essa comunicação neural se multiplica deixando de ser uma comunicação um-a-um para se tornar uma comunicação de um para vários. Assim, cada neurônio passa ser capaz de compartilhar aquele impulso nervoso com vários outros neurônios ao mesmo tempo inclusive. Fazendo assim com que nosso raciocínio fique mais completo e mais eficiente fazendo com que essa informação chegue mais rápido na área responsável em decifrá-la. Então, apesar de haver morte neural diariamente causando uma redução dos neurônios ocorre simultaneamente um aumento significativo da comunicação entre eles, a comunicação sináptica. E quanto mais estímulo mais caminhos cerebrais, por isso o papel fundamental do conhecimento para saúde do nosso cérebro.
Até pouco tempo, acreditava-se que nossos cérebros terminavam seu desenvolvimento no início da vida adulta se desenvolvendo somente durante a infância e adolescência para depois se tornava rígido e inflexível ao longo da vida adulta até começar a se desfazer ao longo do envelhecimento. Porém, pesquisadores continuam a provar que não funciona exatamente assim e que essa teoria defasada não está correta fornecendo provas de que o cérebro humano continua se alterando através de estímulo mental, ginástica cerebral e de novos aprendizados.
Hoje, sabe-se que o cérebro pode ser estimulado a mudar, se adaptar e se recuperar através da chamada neuroplasticidade, ou plasticidade cerebral que é a capacidade de readaptação das conexões das nossas células nervosas, processo esse que nos ajuda a continuamente aprender. Devido a essa capacidade do cérebro de se ajustar e reinventar é que somos capazes de recuperar funções após ter sofrido um acidente cerebral recuperando habilidades perdidas através da restauração da sinapse perdida ou pela busca de novos caminhos para transmitir essa mesma informação. Essa descoberta comprova que a capacidade que os seres humanos possuem de se recuperar de derrames ou danos neurológicos causados por acidentes é mais ilimitada do que pensávamos.
Sim, nosso cérebro é capaz de continuar crescendo, aprendendo, se adaptando e gerando mudanças e novos caminhos, mas para isso ele precisa estar saudável e bem administrado. A melhor maneira para entender esse efeito é vê-lo como um “músculo cerebral”. E perceber que assim como todos os outros músculos do nosso corpo envelhecem e atrofiam por falta de cuidados necessários, o nosso músculo cerebral também. Para tanto é imprescindível estarmos atentos a nossa qualidade de vida através da alimentação adequada, da atividade física regular e a estimulação cognitiva de qualidade. O simples hábito da leitura estimula o cérebro a ampliar a capacidade de prestar atenção, assimilar conceitos, registrar informações entre outros benefícios.
A moral da história é que é importante se dedicar a novas atividades constantemente, pois quanto maior a atividade cognitiva tanto na infância e meia-idade, quanto na velhice, que requerem esforço mental de quem a pratica melhor será para nosso cérebro. Se você continuar a desenvolver sua reserva funcional de neurônios através de prática de exercícios mentais e um estilo de vida saudável, você tem mais chances de manter a plasticidade cerebral e sua habilidade de aprender mesmo à medida que envelhece. Exercitar seu cérebro é tão importante quanto exercitar seu corpo e cada novo aprendizado seja através da prática de novos esportes, seja através do aprendizado de um instrumento musical ou através das experiências proporcionadas pelas viagens criam novas conexões neurais capacitando o cérebro a manter-se em forma. Ficar em casa fazendo sempre as mesmas coisas, diante de uma televisão ou tablet, afirmando que não tem tempo ou disposição para aprender nada novo é o caminho certo para a atrofia cerebral afinal, o que não é usado, atrofia. Tente algo novo todo dia. Questione. Entenda. Evolua. Não desligue seu cérebro!
*Luciana Azevedo Damasceno – Neuropisicóloga e Terapeuta Cognitivo-Comportamental formada pela PUC Rio. Elogios, dúvidas e sugestões: [email protected]