´O tempo não para’ Cazuza
O tempo é um processo relativo e subjetivo. Ele é o que é. Tempo é a duração dos fatos, é o que determina os momentos, os períodos, as épocas, as horas, os dias, as semanas, os séculos, etc. Temos mais maneiras de medir o tempo do que de defini-lo propriamente. O tempo é um recurso. É o recurso mais valioso do que qualquer outra coisa no mundo. Nem a saúde pode ser comparada ao tempo, afinal de que adianta gozar de plena saúde se você não tiver tempo para desfrutá-la.
Já estamos no segundo mês do ano e muitos diriam que o tempo está passando mais rápido. Por todos os lados podemos ouvir as pessoas comentando que o tempo está voando. Sentimos na própria pele como está acelerada a nossa noção do tempo. Apesar dos cientistas ficarem quantificando o tempo e o mensurando através das voltas que a terra dá em torno do sol, são as nossas experiências que realmente definem a nossa percepção do tempo. Temos diversas divisões do tempo, mas a sensação de duração do tempo é variável. Por exemplo, quando criança, você acredita que a duração do recreio era de apenas 20 minutos? Podendo variar entre 15 minutos a 30 minutos no máximo? Você se recorda de como esse tempo nos parecia na época ser muito maior. O final de semana era interminável, se recordam? E as férias? Ah, as férias! Um mês parecia demorar um ano para passar. Já um ano parecia durar uma vida inteira.
A relação entre escassez e o valor de algo é bem conhecida. Então imaginem o que representa um mês para uma criança que tem apenas 1 ano de idade ou seja 12 meses ao todo de vida. Um mês nesse contexto representa 1 cota entre 12 cotas disponíveis; um doze avos. Por outro lado, o que representa um mês na vida de uma pessoa que tem 35 anos, ou seja 420 meses de vida. Um mês nesse contexto representa 1 cota entre 420 cotas disponíveis; um quatrocentos e vinte avos. Então um mês de férias para quem tem apenas um ano de vida significa 8,3 % do seu total, um mês para quem tem 5 anos de vida representa 1,66% do todo e já para quem tem 35 anos um mês reflete ínfimos 0,23% do total dessa vida. Por isso um ano para um adulto é pouco tempo, comparado com um ano para uma criança.
O número de coisas que ocupa sua vida influencia na sua noção do tempo. O ritmo de vida de uma pessoa é vivido de acordo com o número de ocupações com as quais ela precisa se dividir. O mesmo acontece com os pensamentos que habitam nossas mentes, eles podem inferir uma sensação de tranquilidade e permitir uma boa e satisfatória vivencia do tempo ou podem sobrecarregar nossa mente nos dando peso e angustia que nos leva a vivenciar a passagem do tempo de maneira distorcida e menos prazerosa.
De acordo com os neurocientistas, quando estamos envolvidos em algo que requer nossa total atenção temos a sensação de que o tempo voa, precisamente porque não estamos atentos a ele. No geral, quanto mais processamento cognitivo você faz em certo período, mais tempo você acha que passou. Dessa maneira se você é uma pessoa ansiosa que está o tempo todo com a cabeça cheia de mil coisas, o tempo parece não passar nunca. Essa relação com o tempo é mais comumente associada a um modo adoecido de vida. Inversamente se você tem a capacidade de se focar a cada instante na tarefa que você está desempenhando naquele momento você pode sentir que o tempo voou e você nem percebeu. Essa relação com o tempo costuma ser geradora da agradável sensação de as coisas estarem nos seus devidos lugares.
O tempo é a peça central em nossas vidas e, no entanto, raramente refletimos sobre a maneira como o usamos. Geralmente fazemos uso do tempo de modo automático. Pensamos muito pouco sobre como gasta-lo. Lembre-se de que tempo é dinheiro. Sendo assim, porque geralmente gastamos nosso dinheiro de maneira mais sensata do que usamos nosso tempo? Gastamos o tempo tão facilmente porque nunca aprendemos a pensar sobre ele. Não fomos devidamente ensinados a administrar esse recurso fundamental da vida. Então qual o uso correto do tempo? Assim como a definição do próprio tempo é relativa e subjetiva, a resposta para essa pergunta também o é. Independente de como você investe seu tempo, terá sempre de arcar com os custos de ter escolhido uma atividade em detrimento a outra. Com o dinheiro você tem a opção de guardar num banco enquanto decide a melhor maneira de utilizá-lo, mas isso é impossível tratando se do tempo. Quer queira ou não você gasta tempo em todo instante de sua vida. Quanto mais vida você tem, mais rápido ele passa. Por isso é fundamental que você saiba aonde, como, porque e o quê você está fazendo da sua vida. Para utilizar seu tempo de forma coerente com suas expectativas. Toda escolha é legitima. Ela apenas precisa ser consciente. Para que você saiba exatamente como está gastando o recurso mais precioso de todos: o tempo.
Luciana Azevedo Damasceno – Neuropisicóloga e Terapeuta Cognitivo-Comportamental formada pela PUC Rio. Elogios, dúvidas e sugestões: [email protected]