*Brunela Demoner Rossoni Laignier
Segundo conceito da ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS), definem-se os cuidados paliativos “(…)uma abordagem ou tratamento que melhora a qualidade de vida de pacientes e familiares diante de doenças que ameacem a continuidade da vida, através da prevenção e do alívio do sofrimento por meio da identificação precoce avaliação impecável e tratamento da dor e outros problemas físicos, psicossociais e espirituais.”
Pesquisas demonstram um novo perfil de morbimortalidade, caracterizado pelo aumento das doenças crônicas não transmissíveis. Essas doenças constituem um problema crescente e se devem a transição epidemiológica e nutricional pela qual os países vêm passando. São a principal causa de mortalidade e incapacidade no mundo inteiro, sendo o câncer uma das principais responsáveis por mortes 6,7 com mais de 11 milhões de casos novos e sete milhões de óbitos por ano, e a estimativa é que esse número aumente chegando a 12 milhões em 2030.
O câncer corresponde a um conjunto de mais de cem doenças que têm em comum o crescimento desordenado e a invasão de tecidos e órgãos, podendo se espalhar e produzir metástases em diversas regiões do corpo. Seu tratamento tem como principais objetivos prevenir, curar, prolongar e melhorar a qualidade de vida do portador. O alívio dos sintomas decorrentes da doença pode ser alcançados em cerca de 90% dos casos por meio dos cuidados paliativos.
A atuação da equipe multiprofissional é indispensável para que a assistência seja realizada de uma forma adequada, sendo composta por diversos profissionais: nutricionista, médico, enfermeiro, psicólogo, fisioterapeuta e fonoaudiólogo, cada um com suas respectivas atribuições prestando assistência integral ao paciente, levando sempre em consideração as escolhas e vontades do assistido. A presença dos nutricionistas nos serviços de cuidados paliativos oncológicos, começa a ser discutida com maior evidência, dada a importância emergente da assistência alimentar e nutricional no cuidado dos pacientes e famílias. O contato do nutricionista com o assistido e a família no âmbito domiciliar possibilita constituir uma valia no processo de cuidado alimentar e nutricional através da implementação de rotinas de avaliação e intervenção nutricional, otimização da oferta de aconselhamento alimentar e nutricional personalizado, promoção da adaptação e flexibilização das rotinas alimentares. Durante a triagem nutricional aplicada no paciente assistido utiliza-se a metodologia da avaliação nutricional que tem por objetivo estimar o estado nutricional do indivíduo, detectando suas necessidades alimentares. Assim, torna-se possível intervir de maneira adequada na manutenção ou recuperação do estado de saúde do paciente, nos cuidados paliativos, pois pode colaborar para evolução favorável do paciente em estado terminal, já que este costuma apresentar inapetência (ausência de apetite), desinteresse pelos alimentos e recusa aqueles de maior preferência, associado a sintomas indesejáveis relacionados à enfermidade e aos fármacos. Esse fato pode levar ao comprometimento maior ainda do estado nutricional, interferindo na qualidade de vida. O alimento exerce papel essencial na vida de todos nós, pois está relacionado às recordações agradáveis e prazerosas que determinadas preparações alimentares despertam em nossa vida.
A importância dada ao alimento não se altera com o passar do tempo ou com a instalação de uma doença grave. Porém, numa condição de doença grave, como na presença do câncer, o alimento acaba sendo mais notado pela sua ausência ou pelas dificuldades na sua ingestão do que pela sua presença e o prazer proporcionados. Quando o paciente apresenta complicações no processo de ingestão do alimento pela via oral, o qual é comum a esses pacientes, a sintomatologia instalada denomina-se disfagia (dificuldade de deglutir), está levando a complicações mecânicas como broncoaspiração, com isso levando o paciente a perda de peso severa, nesse caso a equipe multidisciplinar, em especial médico e nutricionista, sinalizam a terapia nutricional específica aos pacientes em cuidados paliativos, sendo as mais aplicadas, a terapia nutricional ,essas divididas em :oral e nutrição enteral por meio dos dispositivos como cateter nasoentérico ou ostomias, considerando o funcionamento do trato gastrointestinal (TGI), estes, permitem um tratamento a longo prazo atendendo as necessidade do paciente de acordo com a patologia de base e suas comorbidades associadas, enfatizando que esse tipo de terapia artificial pode apresentar complicações mecânicas e gastrointestinais, motivo que antes de prescrevê-las os profissionais responsáveis devem conhecer todo o histórico do assistido, caso contrário a alternativa é terapia nutricional oral, porém optando por dietas modificadas em consistências sendo, líquida, pastosa ou branda, de acordo com os sintomas do indivíduo e as condições do TGI. Os objetivos da terapia nutricional variam conforme a evolução da doença: nos estágios iniciais, quando o paciente encontra-se em tratamento, o principal objetivo é garantir que ele receba nutrientes em quantidades suficientes, visando à recuperação ou manutenção do estado nutricional. Nos casos em que se encontra em estágio avançado da doença, com quadro irreversível e a terapia nutricional agressiva é considerada inútil, os objetivos mudam. Nesse caso a terapia nutricional prioriza o desejo do assistido à sua necessidade visando à qualidade de vida e ao alívio do sofrimento. Nessa fase preocupa-se mais com a apresentação, a quantidade de alimento e o local da refeição. É importante que a alimentação seja realizada em um ambiente tranquilo, tornando-se um momento de confraternização junto da família e amigos com conforto e melhor qualidade de vida.
Orientando de uma forma geral, a intervenção nutricional deve priorizar o controle dos sintomas, a oferta adequada de líquidos, a preservação do estado nutricional (peso e composição corporal) do assistido e as recomendações nutricionais do paciente adulto em cuidados paliativos variam de acordo com as expectativa de vida do indivíduo doente. Segundo o Consenso Nacional de Nutrição e Oncológica (2016), a recomendação de calorias e proteínas para pacientes com câncer, em cuidados paliativos, é de 25 a 35 Kcal / kg peso atual/ dia e de 1,0 a 1,5 g proteínas / kg peso atual/ dia, esclareço que apesar desse cálculo não garantir a ingestão total do que foi prescrito.
Como nutricionista, ressalto que, tratando-se de cuidados paliativos, mais do que fornecer as necessidades nutricionais do paciente assistido, a conduta dietoterápica deve oferecer conforto e prazer. Mesmo o consumo de alimentos por via oral estando reduzido o paciente não deve ser forçado a se alimentar.
Perante esse cenário, cabe a nós nutricionistas atuantes nesse contexto clínico nutricional, compartilhar informações e treinamento específico sobre processo de cuidado alimentar e nutricional no contexto cuidados paliativos oncológicos, conforme nossas experiências práticas vivenciadas com os pacientes que foram assistidos de modo que potencialize a investigação e a partilha de conhecimentos sobre o tema em evidência.
MSc.Brunela Demoner Rossoni Laignier é nutricionista, docente de ensino superior e coordenadora do Curso de Nutrição do UNEC- Centro Universitário de Caratinga.
Mais informações sobre autor: http://lattes.cnpq.br/9130128564227510