Álvaro Netto*
Diz a sabedoria popular que “não se mexe em time que está ganhando”. Entretanto, parece-me que o mundo do cinema não aprendeu com a plebe. E por quê? Porque continuam fazendo remakes de certos filmes que ficaram imortalizados na história do cinema e mereceriam, no mínimo, um pouco de respeito.
Por coincidência, na última semana das férias forenses assisti a quatro “remakes” de filmes que havia visto na infância e na adolescência. Pela ordem: Ben-Hur, Êxodo- Deuses e Reis (Os Dez Mandamentos), Nasce uma estrela e Dona Flor e seus dois maridos.
Começo dizendo que Ben-Hur foi o filme que mais assisti em minha vida; deve passar de cem as vezes que me entreguei à beleza e às interpretações do filme. Em um filme de William Wyler, datado de 1959, com interpretações primorosas de Charlton Heston, como Judá Ben-Hur e Stephen Boyd como Messala. Quanta diferença de sua refilmagem de 2016!! Dirigido por Timur Bekmambetov com Jack Huston, Morgan Freeman, Toby Kebbell e o brasileiro Rodrigo Santoro. A salvar-se a interpretação de Morgan Freeman, vemos a refilmagem render-se ao politicamente correto e toda a carga de ódio e disputa que acabaria levando Ben-Hur à aceitação de Cristo e a consequente salvação sua e de sua mãe e irmãs, injustamente presas pelo império romano, deixadas de lado em um final insosso e a dar dor de barriga nos amantes da película original.
Em Êxodo-Deuses e Reis, ainda que tenha uma boa direção de imagens, seus atores jamais chegaram perto das brilhantes interpretações de, novamente, Charlton Heston, como Moisés e, principalmente, de Yul Brynner como o faraó Ramsés em os Dez Mandamentos, filme de 1956, dirigido por Cecil B. DeMille. Mesmo com toda a tecnologia atual, não deixei de gostar mais dos efeitos especiais da versão da década de 50.
Dona Flor e seus dois maridos, filme dirigido por Bruno Barreto nos idos de 1976 e uma das maiores bilheterias do cinema nacional de todos os tempos, trouxe consigo o brilhante trabalho de José Wilker (Vadinho), Sônia Braga (Dona Flor) e Mauro Mendonça (Teodoro Madureira) a interpretarem o triângulo amoroso criado por Jorge Amado, valendo menção à forma com que José Wilker conseguiu transmitir ao seu “Vadinho” todo o cinismo e canalhice próprias de seu personagem. Todavia, na refilmagem de Pedro Vasconcelos de 2017, com Juliana Paes como Dona Flor, Leandro Hassum como Teodoro, e Marcelo Faria como Vadinho muito se deixou a desejar. A melhor interpretação foi de Juliana Paes, mas Marcelo Faria não convenceu nem um pouco com o seu Vadinho e Leandro Hassum não conseguiu deixar o cacoete de comediante em um personagem que exigia certa circunspecção.
Li que a história de Nasce uma Estrela chega aos cinemas pela quarta vez. Nunca vi as versões que dizem ter estreado em 1937 e 1954. Mas vi a versão de 1977 em que foram protagonistas os atores Barbra Streisand e Kris Kristofferson. Agora, em 2018, é a vez de Lady Gaga e Bradley Cooper que, apesar das boas atuações, não chegaram a eclipsar Barbra e Kris na primeira versão que vi. Detestei, todavia, o fim da versão de 2018. Se em 1977 Kris Kristofferson, para não mais atrapalhar a carreira de sua amada resolve morrer bêbado batendo seu carro a dezenas de quilômetros por hora, fim bem apropriado a um astro do Rock, a nova versão insinua um suicídio por enforcamento em um final água com açúcar que deixou a desejar como epílogo para a bela, romântica e triste história de amor.
Com certeza existem refilmagens que até superam os filmes originais. Nos quatro que mencionei, todavia, não se conseguiu. Vale o ditado popular, “não se mexe em time que está ganhando” e, em minha opinião, ganhando de goleada.
ÁLVARO CÉSAR DOS SANTOS NETTO é Advogado, Mestre em Direito, Membro da Loja Maçônica Mestres do Vale, de Governador Valadares, Membro Efetivo e o novo Presidente da Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas – AMLM