Walber Gonçalves de Souza
A noite do dia 5 de agosto entrará para uma das páginas da nossa história como uma das noites mais bonitas que presenciamos. Acredito que beira a unanimidade a opinião das pessoas que assistiram a abertura das Olimpíadas ao comentar o sucesso, a beleza, o espetáculo memorável daquela noite. Aos olhos dos telespectadores parece que foi tudo perfeito, simplesmente encantador.
A abertura das Olimpíadas, além de ser pela própria circunstância notícia no mundo todo, foi registrada pela impressa internacional como um evento extraordinário, digno de aplausos, uma noite mágica pela indizível maneira como foi apresentada e realizada. Uma noite que fez os “deuses” gregos se alegrarem!
Nós, brasileiros, é claro que nos orgulhamos, ficamos felizes, radiantes; ficamos sem palavras para expressar o tamanho e extraordinário sucesso daquele momento inesquecível.
Dentro do Maracanã, além da beleza do espetáculo, vimos também um resgate da nossa história, contada sem ofensas e ao mesmo tempo com o tempero do que aconteceu de fato; a demonstração da nossa cultura, do popular ao erudito, através de danças, músicas, imagens; provocamos uma reflexão sobre tolerância, sobre o convívio entre as pessoas; fizemos um apelo sobre aquele que com certeza é um dos grandes desafios da humanidade, enfrentar os dilemas ambientais, enfrentar a crise ambiental em que a humanidade está mergulhada; manifestamos politicamente nossas perspectivas com vaias e aplausos; ouvimos um discurso que pedia aos governantes uma atenção especial para o papel da educação. Enfim, dentro do Maracanã, um dos maiores estádios do mundo, aos nossos olhos de telespectadores foi tudo perfeito.
O Brasil do dia 05 de agosto que se manifestou dentro do Maracanã demonstrou ser um país perfeito. Respeito, espetáculo, emoção, luxo, simplicidade, paz, autoestima, beleza, consciência política, ecológica, econômica; tudo se misturava num momento ímpar. Um momento em que a grande maioria dos 200 milhões de brasileiros, provavelmente nunca mais presenciará, como anfitrião. E uma coisa é fato, demos conta do recado.
Eu queria tanto acordar todos os dias e sentir que estava morando dentro do Maracanã, o nosso grande conto de fadas. Eu queria tanto ver a minha vida, a nossa vida acontecer com a mesma intensidade e dinâmica como foi a abertura da Olimpíada. Eu queria tanto ver acontecendo todos os dias as mesmas coisas que vi acontecendo naquela noite.
Já imaginou se tudo aquilo que se manifestou dentro daquele estádio fosse uma constante no nosso dia a dia? Se tudo aquilo estivesse presente nas escolas, nos hospitais, nas rodovias, nos lares, nas instituições? Como eu queria viver o Brasil das olimpíadas, seria o máximo. E ao mesmo tempo fiquei pensando: por que não pode ser assim sempre em todos os lugares? Se sabemos fazer, por que não fazemos?
O Brasil das Olimpíadas não pode ser o suspiro do gigante adormecido. O Brasil das olimpíadas não pode ser um sonho de uma noite de verão. O Brasil das olimpíadas não pode ser uma transfiguração da história infantil “Alice no país das maravilhas”. O Brasil das olimpíadas não pode ser uma ilusão.
Como eu queria acordar e ver que o Maracanã está em todos os lugares!! Como eu queria acordar e bem forte poder cantar, parodiando uma das músicas do evento: “eu só quero é ser feliz, viver tranquilamente no país em que eu nasci, sem ter pobreza para se orgulhar, por aqui miséria, analfabetismo, fome, falta de saneamento, violência, colapso na saúde não encontram o seu lugar”!
Viva o Brasil das Olimpíadas!!! Pena que este não é o meu, o seu, o nosso país!! Mas bem que podia ser!
Walber Gonçalves de Souza é professor.