”Eu nunca quis um marido, eu sempre quis um companheiro”, Bruna Stamato
“O que você está procurando no amor?”
“Espera pelo príncipe encantado?”
“Acha que os opostos se atraem?”
“Ou acredita em almas gêmeas?”
“Talvez você esteja procurando pela sua outra metade?”
Essas frases, apesar de contraditórias, são conceitos que já estão bem enraizados no senso comum da sociedade. Quem nunca procurou aquela pessoa com quem passar o resto dos seus dias que atire a primeira pedra. Mas o amor não é uma ciência exata, com regras definidas, nas quais todo mundo se encaixa. No fundo não temos ainda muitas certezas quando falamos do amor. A neurociência busca compreender suas interações, mas ainda não explica muita coisa. As pessoas costumam se apaixonar pelas mais diversas razões sejam elas conscientes, como admirar certos perfis, gostos e comportamentos, ou seja, elas inconscientes, que têm a ver com as questões ligadas a modelos de relacionamentos vivenciados nas famílias de origem de cada um.
“Os opostos se atraem” é antigo o suficiente para parecer eterno, é um ditado popular sobre relacionamentos que prega que os opostos costumam se atrair. Entretanto, de acordo com especialistas, essa famosa frase pode não passar de um lugar comum e de um mito. A convivência com um polo oposto ao nosso pode parecer romântico nas telas de cinema, mas estabelecer uma parceria com uma pessoa completamente diferente da gente não soa muito razoável na prática.
Já o conceito de “alma gêmea” pode parecer possível nas primeiras semanas de relacionamento, mas fica mais distante com o passar do tempo ao ponto de se tornar utópica após algum tempo de relacionamento. Será mesmo que existe uma única pessoa no mundo que foi criada apenas para você e para a qual
você também foi criado? A singularidade do ser humano torna praticamente impossível encontrar outra pessoa exatamente igual a nós mesmos.
A ideia da “nossa outra metade” representa a busca pela pessoa que irá nos completar. Trazer aquele ponto de equilíbrio que tanto buscamos. A tampa da panela, o chinelo velho para pés cansados, a outra metade da laranja, quem nunca sonhou com isso? A possibilidade de ter ao lado alguém que consegue fazer por nós aquilo que não conseguimos é bastante sedutora.
Tenho presenciado no consultório e nos meus ciclos sociais a falência de muitas relações amorosas. Percebo tantos erros que eu não poderia enumerar hoje aqui, requer uma coluna apenas para isso. Estamos errando repetidas vezes. É preciso ajustar as expectativas antes de embarcar numa relação amorosa. Escolher um parceiro para compartilhar o dia-a-dia não é uma tarefa nada fácil, mas existem erros que não precisamos cometer. E o principal deles é que buscamos achar no lugar de ser. Queremos encontrar e não nos tornar. Estamos buscando nos outros aquilo que não somos para nós mesmos. Como não temos motivação, queremos alguém que nos inspire. Não tendo tempo para nada, acabamos querendo alguém que nos desacelere. Buscamos achar alguém que desperte na gente aquilo que não encontramos quando olhamos pra dentro. Mas isso não é nada justo e essas uniões não se mostram bem-sucedidas a longo prazo.
Não seja uma metade em busca de outra. Uma relação sustentável ocorre entre dois inteiros. Busque – antes de qualquer coisa – ser completo, dono da própria vida, arcando com as próprias responsabilidades sem esperar que outro seja o autor pela sua felicidade. Tão pouco aceite a incumbência de ser o responsável pela felicidade de outrem. Essa tarefa é pessoal e intrasferível. Enquanto não aceitarmos esse fato continuaremos por aí culpando pessoas pelas nossas frustrações ou se responsabilizando pelos sentimentos dos outros que não controlamos.
No passado já priorizamos pelo cônjuge mais forte para lhe garantir a sobrevivência. Outrora veio o momento da busca pelo cônjuge com melhor renda financeira para lhe garantir conforto. E em todos esses momentos havia a procura pela beleza estética para garantir aceitação social. Essas épocas se misturam, alternam e muitas vezes se somam. Mas estudos que buscam compreender porque alguns relacionamentos duram e outros não estão indicando cada vez mais a necessidade do companheirismo conjugal. Os resultados dessas pesquisas indicam o sucesso do relacionamento quando há uma relação de igualdade entre sócios competentes.
Portanto, pare com esse jogo de transferência de responsabilidades hoje mesmo. Quero ser um ser inteiro e responsável pela própria felicidade que sabe o que quer e para onde ir para buscar. Desta maneira, procure por alguém inteiro também, que seja responsável por si mesmo e que está a caminho da própria realização. E só então, se vocês perceberem que estão indo para o mesmo lugar aí sim porque não fazer uma parceria? Trocar experiências? Agregar informações? Mas cada um ciente da responsabilidade da própria realização e se deleitando na presença de um companheiro a altura. Não estou dizendo que é fácil, estou dizendo que é necessário.
Ps: Hoje, 11 de agosto, meu sócio – a laranja que encontrei indo pelo mesmo caminho que eu – completa mais um ano de jornada. Continue sua busca pela autorrealização. Parabéns!