Médico esclarece dúvidas sobre o coronavírus

Pneumologista e imunologista, Getúlio Bramusse, afirma, “é importante salientar o seguinte: a maioria absoluta dos casos vai ser coisa simples. Só que o grupo de risco não está tomando cuidado, aí que está o problema”

CARATINGA – A pandemia do coronavírus tem deixado muitas pessoas assustadas, mas principalmente com várias dúvidas em relação à doença, já que muitas informações são passadas o tempo todo.

Getúlio Bramusse, pneumologista e imunologista

Para sanar algumas dessas questões e falar sobre a situação de Caratinga e região, a reportagem do DIÁRIO DE CARATINGA, conversou o médico pneumologista e imunologista, Getúlio Bramusse.

Na entrevista o médico fala sobre uso de máscaras, isolamento social, respiradores e outros assuntos de suma importância.

 

Como o coronavírus, gripe suína, H1N1 atingem nossos pulmões? Os sintomas são parecidos?

Os sintomas são muito parecidos, praticamente idênticos. H1N1 também começou na China em meados de 2010, ela preenche os alvéolos pulmonares e inflama os pulmões, isso tanto para o coronavírus, quanto SARS (síndrome respiratória aguda grave), quanto H1N1, são patologias virais. Fazendo uma analogia, o pulmão da gente é igual a uma bexiga, uma bola de soprar, só que a bexiga é a veia e sai a artéria. A veia chega com sangue rico em gás carbônico, que é o ‘sangue morto’ que a gente fala, é oxigenado e sai o sangue vivo para artéria. Essas patologias que vieram da China inflamam a parede alveolar do pulmão, ou seja, a bexiga da gente soprar, ela engrossa, há uma coisa que chama hematose, que é a troca do gás carbônico, pelo oxigênio, então a pessoa entra em insuficiência respiratória. E também tem uma outra coisa que chama vidro fosco, mas é muito importante falar que não é só patologia viral que dá vidro fosco, e nem todo vidro fosco é Covid-19. Voltando ao COVID-19, ele preenche esse alvéolo pulmonar de secreção, piorando mais essa hematose, e levando essa pessoa a uma falta de oxigênio e aumento de gás carbônico, levando a insuficiência respiratória.

 

Como é a evolução dos casos graves da Covid-19?

Agora estamos vendo dados fidedignos, porque a China, segundo os governos da Inglaterra e dos Estados Unidos, e o próprio governo brasileiro, já estão reconhecendo, os casos foram maquiados, a mortalidade foi muito maior do que foi dita. A grande maioria dos pacientes, 80% vai evoluir com gripe simples, às vezes não dá nem coriza, o principal sintoma é a febre, 88% das pessoas têm. Mas 80% não vai precisar de internação, nem precisar de cloroquina, que é o remédio que está sendo falado, que até foi retido pelo governo. 80% dos casos serão leves, 20% vão precisar de internação, 5% vão precisar de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Só que aí a proporção vai aumentando. Até os 50 anos é 0,2 %; de 50 para cima é 0,4%; a partir dos 60 anos é 3,6%; a partir dos 70, já é 20% de mortalidade, sem nenhuma patologia pregressa, como diabetes, enfisema pulmonar, asma e por aí vai. É importante salientar o seguinte: a maioria absoluta dos casos vai ser coisa simples. Só que o grupo de risco não está tomando cuidado, aí que está o problema. Pacientes de 70 anos pra cima, de cada dez, dois ou três vai morrer, quase 30% de óbito.

 

Foi muito propagando que a hidroxicloroquina, arma importante para tratamento de pessoas com artrite reumatoide e doenças imunológicas como lúpus, seria indicado para tratar do coronavírus. Qual sua avaliação sobre essas informações?

O primeiro estudo que teve foi de 90 casos que vieram da China, só que país fechado, comunista, a gente não pode ter confiança dos dados. Aqui no Brasil, Estados Unidos, Itália e França, não é só a hidroxicloroquina. A gente usa azitromicina, que é um antibiótico, junto com rocefin, que é outro antibiótico, junto com tamiflu, que é o remédio especifico para gripe suína, com a hidroxicloroquina.  Esse esquema tríplice está tendo uma eficácia muito boa, inclusive São Paulo agora, até o doutor Kalil que estava fazendo esse estudo, só que ele pegou coronavírus, a maioria absoluta dos casos está sarando. Só não tem a vacina. A vacina mais promissora é em Israel, deve começar em junho.

 

Isolamento social até então é a melhor forma de precaver dessa doença?

Há uma controvérsia muito grande, primeiro depende do país, da condição social de cada família. Na minha humilde opinião, o isolamento vertical seria melhor. As pessoas que tem menor risco de morte, de 60 anos para baixo, essas podem trabalhar com as devidas proporções, máscara de pano a gente pode usar agora, lavar a mão se não tiver álcool em gel, e trabalhar. Vai morrer mais gente por causa do desemprego, por fome, por falta de medicação, do que pela própria doença. E aquele vovô, aquela vovó, aquele paciente que já tem doença crônica, com câncer, que faz diálise, tem enfisema, deixa ele guardadinho, porque se você parar a economia… Nós somos países ricos, a 8ª economia do mundo, só que o dinheiro não é dividido igualmente, aqui no Brasil 4% da população tem 80% do PIB. Então o isolamento social horizontal, igual é feito na Itália, lá é fácil fazer, é um país mais rico, não tem desigualdade social. Outra coisa muito importante, o vírus dissemina mais de 4 a 10 graus. Brasil é uma país quente, e tem a questão da vacina BCG, tem uma pesquisa agora, a BCG, graças a antiga Funasa (Fundação Nacional de Saúde), nós todos fomos vacinados, ela estimula o sistema imunológico contra o vírus. Então “Papai do Céu” está sendo muito bom coma gente. Mas a população de risco, que deveria ficar em casa, é a que mais você vê nas ruas. Vai chegar uma certa hora no pico da doença que terá que fazer o isolamento horizontal, mas agora não é o momento. A gente tem que preparar para o pior, se chegar o pior, para a economia, melhorou, libera o pessoal mais novo. O problema é o novo transmitir para o velho, por isso que a gente não pode ficar abraçando e beijando o avô, pacientes com doenças crônicas, mas esse negócio de fechar tudo ninguém vai aguentar.

 

Sobre as máscaras, por quem devem ser usadas?

A OMS (Organização Mundial de Saúde) falava que apenas o profissionais de saúde deveriam usar e que está doente e o ministério da saúde seguia isso. Só que agora mudou tudo, é para todos usarem, mesmo quem não estiver tossindo, mesmo quem não estiver gripado, mas pode usar de tecido, que pode ser lavado e reutilizado, e não está achando a masca cirúrgica no mercado, outra questão que o governo terá que olhar mais pra frente, porque 80% dos insumos médicos utilizados no mundo são provenientes do Vietnã, da China e da Índia. Se esses três países acabarem, a gente não tem insumo pra fazer medicamento, então outra coisa que o governo nacional terá que fazer é estimular a indústria nacional de medicamento e equipamentos médicos. O Brasil fez uma compra gigante da China, os Estados Unidos foi lá pagou quatro vezes mais, pegou toda nossa carga. A gente não pode ficar à mercê desses países. Coisas estratégicas são coisas estratégicas, saúde é uma coisa extremamente estratégica. A China fez uma guerra biológica, ela vai ser por cima, todas as epidemias que falei ela sai por cima, será por quê? Estranho né?

 

Covid-19 pode deixar sequelas pulmonares após se recuperar da doença?

Não são todos os casos, mas deixa.

Fale sobre a importância dos respiradores para pacientes mais graves. Com a nossa cidade está nesse quesito?

Aqui para Caratinga, tem o Casu que já está com 30 leitos, o hospital atualmente está com 18, e está querendo ampliar para 30. Se não vierem casos importados de outras regiões do estado, nós estamos muito bem de leitos, porque em nossa microrregião são 14 cidades, nossa microrregião precisa de 23 leitos, se não importar casos do triangulo mineiro, de Valadares que é outra GRS (Gerência Regional de Saúde), Manhuaçu, estamos bem servidos. Mas se for começar importar caso aí ficará complicado, cabe aos prefeitos chegarem num consenso irem à GRS (Gerência Regional de Saúde) de Coronel Fabriciano, conversar em um tom imperativo, falar que nossos respiradores serão para nossa população.