- Eugênio Maria Gomes
Na última segunda-feira (05) tive a honra de ser empossado como presidente da ACL – Academia Caratinguense de Letras. Uma instituição que tem como patrono o Professor Celso Simões Caldeira, um grande amigo, pessoa de grande relevância para todos nós, para as Letras e para a Educação de Caratinga e região. Uma instituição fundada há mais de três décadas pelo mestre e amigo prof. Monir Ali Saygli, um ícone da nossa Literatura e um baluarte da Educação regional.
Uma instituição composta por um seleto grupo de intelectuais, de pensadores, que pode muito bem ser compreendido como uma “Elite Literária”, que se comunica, e bem, através das palavras e da escrita. Um grupo composto por pessoas do naipe de Monir Ali Saygli, Hélio Amaral, Marilene Godinho, José Lacerda da Cunha, Monsenhor Raul Motta de Oliveira, Humberto Luiz Salustiano Costa, Dora Bomfim, José Geraldo Batista, Ligia dos Reis Matos, Antônio Fonseca da Silva, Walber Gonçalves de Souza, Sandra Ramalho, Águida Pereira Martins e José Celso da Cunha. Fazer parte deste grupo e lidera-lo no próximo biênio é motivo de muito orgulho e de muita responsabilidade.
No discurso de posse quebrei a regra e, contrariando os discursos de longo enredo, recheados de palavras e conceitos pomposos e pouco usuais na linguagem cotidiana – normalmente mais afetos à linguagem culta, erudita – preferi seguir um conselho antigo do nosso patrono – prof. Celso – que gostava de dizer que “o melhor discurso para se ouvir deve ser breve, preciso e conciso”. Acompanhei, também, o pensamento de Graciliano Ramos, para quem: “A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso. A palavra foi feita para dizer.” Assim, espero também ter atendido ao desejo da ilustre plateia, composta por muitas autoridades, amigos e familiares dos acadêmicos.
Ao me escolherem para presidente da ACL, seus membros me confiaram a condução de uma das mais importantes e tradicionais Academias de Letras da região Leste de Minas. Minha resposta ao honroso convite não poderá ser outra, senão trabalhar, trabalhar e trabalhar para que o nome da ACL ocupe sempre um lugar de destaque na mente e nos corações das pessoas. Juntos, colocaremos à disposição da Academia uma das muitas qualidades do pensador moderno: a sua capacidade de reinventar-se, de reescrever-se, de rever ideias, de recompor perdas, de evitar sua aniquilação, como forma de manter firme a sua arte. Mas, também, tomaremos o cuidado de preservar a memória, de não a deixar morrer por conta da tentação do esquecimento, assim como procuraremos cuidar para que o engenho da língua não seja paralisado pelo desejo, natural, de abolição da linguagem culta.
Temos uma boa caminhada pela frente. Reconheço: caminhar com essa turma, certamente não será tarefa das mais fáceis, mas, com certeza, será das mais prazerosas. É que cada um de nós, não lida apenas com palavras, com rimas, com letras. Lidamos com emoções. Todo escritor é uma montanha de emoções. Não é por menos que, aquilo que ele escreve, costuma despertar no leitor os mais diversos sentimentos, fazendo-o passar pela reflexão, pela saudade, pela alegria, pela esperança e, até, pelo pranto. Uma tarefa que precisa ser assumida com a coragem tão bem descrita no famoso verso de Guimarães Rosa, patrono da cadeira que ocupo na academia “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.
E é com essa coragem que aceito o desafio de presidir esta importante instituição, sempre convicto de que sou um escritor em construção, uma obra inacabada, em constante mutação. Tenho mais dúvidas do que certezas, mais perguntas do que respostas, mas, também é certo, que tenho mais fé do que temor, mais esperança do que desilusão. Afinal, ainda citando Guimarães, “O mais importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, mas que elas vão sempre mudando”.
Além da coragem de Guimarães Rosa, primaremos sempre, pela Liberdade, tão bem descrita e eternizada por Rui Barbosa: “A liberdade não é um luxo dos tempos de bonança; é, sobretudo, o maior elemento de estabilidade das instituições”. Precisamos cuidar para que prevaleçam as liberdades de expressão e de pensamento. Que elas, jamais, sejam subjugadas pelas trevas do obscurantismo. Em sua defesa bradaremos: não se aproximem! Nosso escudo é o pensar! Nossa capa é o sonhar! Nossa armadura não é de bronze, é de amores.
E que o nosso objetivo maior seja a busca da felicidade. Não apenas a nossa, mas de maneira especial a de todo aquele que puder ter às mãos um livro. Que de nossos escritos, independentemente do gênero literário, saiam sempre mensagens que consigam impulsionar o homem para a plenitude e a felicidade. Reproduzo aqui o questionamento do grande Polímata Brasileiro: “Onde está a felicidade? No amor, ou na indiferença? Na obediência, ou no poder? No orgulho, ou na humildade? Na investigação, ou na fé? Na celebridade, ou no esquecimento? Na nudez, ou na prosperidade? Na ambição, ou no sacrifício? A meu ver, (completou Rui Barbosa) a felicidade está na doçura do bem, distribuído sem ideia de remuneração. Ou, por outra, sob uma fórmula mais precisa, a nossa felicidade consiste no sentimento da felicidade alheia, generosamente criada por um ato nosso”.
Ao trabalho. Juntos pela nossa querida Academia Caratinguense de Letras!
- Eugênio Maria Gomes é professor, Pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão do Unec e diretor da Unec TV. É membro dos Lions Clube Caratinga Itaúna, do MAC e da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga. É o presidente da AMLM – Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas e da ACL – Academia Caratinguense de Letras.