O novo presidente da Academia Caratinguense de Letras
Depois de presidir a Academia Caratinguense de Letras desde 1983 – data de sua fundação – o Professor Dr. Monir Ali Saygli, agora presidente emérito, deixa o cargo da entidade que, presentemente, passa a ser dirigida pelo acadêmico Hélio Soares do Amaral.
Hélio nasceu no dia 19 de maio de 1938 em Entre Folhas, àquela época distrito de Caratinga, MG. Filho de José Soares do Amaral, conhecido como Juquinho Mol, Juiz de Paz, e Maria Gomes Soares. Dos 10 filhos, restam o Hélio e a querida Glória Amaral, a nossa Irmã Ana Lúcia.
Passou a infância na roça e não se esquece das andanças a cavalo pelas estradas rodeadas de verde e silêncio. Recorda-se, ainda, do engenho de rapadura. Com a ajuda do pai, sempre muito afetivo, ganhava bocados de melado saídos quentinhos do tacho, transformados logo em “puxa”, delícia das crianças. Inesquecível é sua professora, Lucinha Arreguy, que lhe ensinou a ler e, no final do ano, surpreendeu a ele e a todos com o anúncio de seu desempenho final com louvor.
A trajetória de Hélio e seu brilhante currículo colocam-no entre as figuras mais cultas e preparadas de nossa Caratinga.
Em 1950 concluiu o primário (primeiras séries) no Grupo Escolar José Augusto, hoje Colégio Estadual, em Caratinga. Em 28 de fevereiro de 1951 foi para o Seminário dos Padres Sacramentinos no Rio de Janeiro, onde cursou o primeiro e segundo graus. Em 1957 foi do Rio para Belo Horizonte para cursar o Noviciado. Em Monte Santo, sul de Minas, concluiu Filosofia em 1958. Em 1961, os padres sacramentinos o designaram para cursar Teologia em Roma, na Universidade Gregoriana. No Vaticano foi ordenado Presbítero em 1964, e diplomado em Teologia em 1965. Na Itália teve oportunidade de conhecer a maioria dos países europeus, especialmente a Inglaterra onde se aperfeiçoou na língua inglesa. Sendo poliglota, é fluente, também, em francês, italiano, espanhol, galego.
De volta ao Brasil, morou nos conventos dos Sacramentinos no Rio, em Belo Horizonte, São Paulo, Uberaba e Ribeirão Preto. Em 1969 foi denunciado por agente do Regime Militar por causa de um sermão na missa de 7 de setembro em Altinópolis, São Paulo. Por essa denúncia o jovem pregador foi preso duas vezes por 64 dias em 1979 e 1971. Foi encarcerado no famigerado Presídio Tiradentes, SP. Lembro-me bem do sofrimento do Hélio. E da Irmã Ana Lúcia, na luta pela liberdade do irmão e pelas tentativas frustradas para conseguir visitá-lo. Recordando os dias de prisão, Hélio escreveu o livro “Pavilhão dos Escravos”, um diário comovente que narra seus momentos frios e tristes. Em 1972 obteve do papa Paulo VI o desligamento do ministério presbiterial.
No Rio de Janeiro, de 1971 até a aposentadoria em 2003, foi redator do Jornal do Brasil e da Bolsa de Valores. Exerceu o magistério superior em várias instituições particulares de ensino. Mesmo diplomado em Teologia, Filosofia, Jornalismo e Relações Públicas não pôde lecionar em Universidades públicas por causa do conflito com o regime militar.
Em 2003, veio para Caratinga para fundar o Instituto Hélio Amaral. Hoje a Instituição é uma realidade e um dos pontos culturais e turísticos mais admirados de nossa cidade. Movido pelo ideal de fazer bem à terra, gastou todo o dinheiro da aposentadoria acumulado e construiu o espaço, dotando-o de biblioteca preciosa, palco para eventos e várias instalações. A casa principal – para admiração – é a fazenda antiga onde nasceu e passou a infância com a família em Entre Folhas. Foi trazida desmontada e novamente reerguida no Instituto. Obra tão valiosa, necessita de recursos e material humano para sua sobrevivência.
Hélio, mestre em Comunicação e Doutor em Comunicação e Cultura, escreveu várias obras: Cães Filósofos e outras mais no campo da Filosofia e sociologia. Em 2017 publicou o livro “Padre José – Deus os seus reconhece.” Biografia abrangente do pároco de entre Folhas, de 1938 a 1959.
Agradecemos ao Hélio o empenho exaustivo para que pudéssemos ter mais um local de cultura e entretenimento. Como presidente da Academia de Letras de Caratinga, temos certeza de sua competência, espírito de liderança e boas ideias. Que Deus o abençoe sempre.
* Marilene Godinho, escritora e membro da Academia Caratinguense de Letras