São muitas as palavras relacionadas ao termo “Falta de decência”, encontradas nos dicionários: falsidade, cilada, traição, vileza, trapaça, baixeza, improbidade, desonestidade, desonra, embuste, torpeza, desvio, fingimento, pilantra, mau-caratismo, safardana, malandragem, pústula, canalhice, infâmia, safado, sem-vergonha, moleque, patife, miserável, inescrupuloso, fraudulento, desonesto, falso, traidor, e muitas outras.
O significado da expressão “Falta de decência” também se aplica a muitos: aos corruptos, aos ladrões, aos assassinos, aos maus, aos que vivem à custa dos outros, aos arrogantes, aos hipócritas e àqueles que se fazem passar por boas pessoas, por amigos e que, no entanto estão sempre com um punhal – como aquele imortalizado em Psicose, de Hitchcock – pronto para enfiá-lo em suas costas.
Este modo de ser – repugnante – de muitas pessoas (e como existem pessoas assim!) sempre encontra os mais variados ambientes pra proliferar: círculo familiar, empresas, governos, grupos sociais, escolas, academias, ONGs, instituições filantrópicas, instituições maçônicas, religiões, clubes de serviços, círculos de amizade. Em relação a este último ambiente, vamos encontrar o amigo da onça, termo imortalizado pelo cartunista Péricles Maranhão, quando designou, através do desenho, aquele em quem não se pode confiar, já que é uma pessoa falsa, um traidor da amizade.
Mas, não quero falar aqui deste amigo da onça. Também deixarei de lado os corruptos (por enquanto), já que lhes dediquei um artigo inteiro na semana passada, através do texto “A Divina Comédia”. Quero falar daquele mais comum, que nem costuma ser enquadrado como um amigo – mas sim como um colega – e que se encontra aos montes no ambiente corporativo.
Eu tenho certeza de que você conhece alguém assim: carinha de bom rapaz, jeitinho de boa moça, sorrisos pelos corredores, excesso de educação nos contatos, mas vende a alma ao diabo tão rapidamente que certamente, também, já deve ter um lugar reservado em um dos fossos existentes nos círculos do inferno de Dante.
Impressiona-me, mesmo, como uma pessoa pode entrar na sua sala ou na área onde você trabalha; desmanchar-se em gentilezas; oferecer ajuda para solucionar problemas; às vezes solicitar, efusivamente, auxílio para resolver determinada situação; tratar de questões particulares; às vezes chorar na sua frente e sair dali ávido por encontrar uma maneira de dar a punhalada nas suas costas.
Você não tem um colega que fala mal de todo mundo (inclusive de você, não tenha dúvida disso. Quem fala mal dos outros, sem qualquer critério ou medida, não costuma perdoar ninguém) – e que costuma “deitar falação” em alguém, com você e, ao encontrar este alguém, diz pra ele que foi você que falou tudo aquilo a respeito dele? Gente assim é tão complicada que é preciso tomar cuidado, até, para não balançar a cabeça como se concordasse com ela, pois um aceno de cabeça pode se transformar em uma fofoca como se você tivesse falado alguma coisa.
Para pessoas que agem assim, algumas das palavras citadas no início deste texto, caem muito bem: falsidade, traição, fingimento, mau-caratismo, canalhice e falta de escrúpulos são palavras que combinam muito bem com o sentido de falta de decência exercida por elas.
Algumas pessoas são capazes de prejudicar terceiros para te colocar em uma situação de vexame ou, simplesmente, para demonstrar que você pode pouco, como se isso fosse importante para quem possui valores muito, muito acima que os advindos do trabalho… Coisas como amor, afeto, respeito e carinho dos filhos, amizades verdadeiras apoiadas no valor do Ser e não do Ter. Coisas que os que se utilizam da falta de decência desconhecem, posto que tudo fazem por um elogio, por um aumento salarial, por uma promoção funcional ou, simplesmente, pela manutenção do emprego.
Eu comecei a trabalhar cedo… Graças a Deus! Depois de mais de quarenta anos de atuação profissional – muitos deles concomitantemente com os estudos, com os filhos criados estou sem a menor paciência para lidar com gente hipócrita e mau-caráter em qualquer ambiente de minha convivência, inclusive no de trabalho. Estou naquele ponto em que recebo uma das frases ditas por Albert Einstein como se tivesse sido tida agora, neste momento: “Não tentes ser bem sucedido, tenta antes ser um homem de valor”.
* Eugênio Maria Gomes é escritor, professor e pró-reitor de Administração da Unec. Grande Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG. Membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni, do Núcleo de Escritores e Artistas de Buenos Aires, do MAC, do Lions Itaúna e da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga.