A vida não anda fácil pra ninguém. Mesmo com uma parte da população “afirmando” que tudo estava muito bem, a maioria dos brasileiros sentia – e ainda sente – os efeitos da nefasta política econômica e do mau uso da coisa pública desenvolvida pelo governo nos últimos anos. Ademais, nenhum país com economia estável registraria o retorno de quase um milhão de pessoas às classes D e E, oriundas da chamada “Nova Classe Média”, a não ser que os seus índices fossem maquiados, como de fato aconteceu com os nossos. Viajar, trocar de carro, comprar um móvel novo, pintar a casa, presentear alguém ou jantar com a família em um bom restaurante são atividades que começam a frequentar com menos intensidade a nossa rotina. Estão desaparecendo da lista das nossas prioridades. Anda sobrando espaço no carrinho do supermercado por conta da falta de moeda em nossas carteiras.
Anda sobrando espaço, também, para os adeptos do quanto pior, melhor. Sinceramente, não consigo imaginar – independentemente se o que ocorreu no Brasil recentemente foi golpe ou impeachment -, o retorno ao poder de um governo que insistiu na informação – até o último dia -, de que o déficit econômico do país era de absurdos noventa bilhões de dólares – ou seja, estava entregando o país quebrado ao seu sucessor -, quando, na verdade, o fez na condição de “duas vezes quebrado”, já que o déficit é de cento e setenta bilhões de dólares. Sem falar nos doze milhões de desempregados por conta da infeliz condução da economia em benefício de um grupo – em detrimento de um país -, sem falar na possível fraude apontada pelo Ministério Público no programa “Bolsa Família”, identificando cerca de um milhão e meio de pessoas beneficiadas indevidamente – inclusive agentes públicos e doadores de campanhas políticas -, somando cerca de dois bilhões e meio de reais.
Não, eu não estou defendendo o governo Temer. Não mesmo! Embora tenha que discordar da turma que defende Dilma e Lula (sim, muitos dos seus defensores não o fazem por conta de uma ideologia, de uma maneira de ser ou de viver. Eles defendem pessoas, independentemente de sua forma de agir, do resultado de suas ações) dizendo que o vice-presidente não foi votado, já que tal afirmativa carece de qualquer fundamento lógico, posto que se Dilma não tivesse recebido o apoio do PMDB, personificado na pessoa do vice-presidente, certamente não teria sido eleita.
Eu não defendo Temer. Simplesmente, porque, também, não acredito em sua “ficha limpa”, assim como tenho certeza da sujeira que são as fichas dos líderes vermelhos. Aliás, por falar em “ficha limpa” a delação premiada feita pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, promete não deixar pedra sobre pedra em relação à lisura dos últimos governos e das “autoridades” da “corte” em Brasília, derrubando ministros e expondo à execração pública políticos tidos na condição de “acima de qualquer suspeita”. Não, eu não defendo Temer, mas, reconheço no atual presidente um “mal necessário” para fazer as reformas que o país precisa, urgentemente, para sair do buraco em que se meteu. Em dois anos poderemos, mais uma vez, ir às urnas e “tentar” votar direito, escolher com serenidade e com alguma capacidade de discernimento, nossos governantes. Se bem que não acredito muito nessa nossa capacidade de escolher bem os gestores públicos, através do voto, até porque não fomos educados para isso… Não fomos educados para muitas coisas.
Nós não fomos educados, sequer, para reconhecer a igualdade de gênero em relação aos direitos. Essa ocorrência com uma menor, residente na cidade do Rio de Janeiro, estuprada por dezenas de homens, tem demonstrado, de forma inconteste, o ridículo machismo do brasileiro, em pleno Século XXI. É triste ouvirmos coisa do tipo “ela deve ter provocado”, “ela está acostumada a fazer sexo grupal”, “ela é menor, mas já tem uma filha de três anos”, “ela é uma rapariguinha safada” e “ela consentiu”, para justificar o ato animalesco a que foi submetida. Ela é menor. Ponto! Não interessa se foi consentido, até porque, em relação a menores o consentimento não é válido, o crime é hediondo e precisa ser punido. Ademais, foi exposta publicamente em vídeos. Não interessa se ela “provocou” com suas roupas ou com o seu modo de ser, até porque, nesse quesito, mesmo se fosse maior, isso não daria o direito a ninguém de tocá-la, muito menos de estuprá-la. E foi preciso mudar o delegado, colocar uma mulher no comando da investigação para que a mulher pudesse ser respeitada em seus direitos.
Repetindo, nós não fomos educados para muitas coisas… Nós não sabemos votar, discriminamos as diferenças, somos hipócritas e preconceituosos, sujamos o meio ambiente, desrespeitamos os idosos, não valorizamos as boas práticas, não gostamos dos sindicatos, olhamos primeiro os nossos umbigos, temos aversão à essência do igualitarismo, promovemos o consumo desenfreado, fazemos fofocas, subjugamos os mais fracos, puxamos o saco dos mais ricos, desrespeitamos filas, passamos a perna nos outros. Precisamos evoluir muito como povo, como Nação! Parar de responsabilizar exclusivamente o governo pelas mazelas sociais brasileiras, pois muitas delas foram e são provocadas por nossas próprias mazelas de caráter. Somos egoístas, não estamos prontos para viver harmoniosamente, não estamos prontos para conviver, o que pressupõe o respeito ao outro e o respeito ao que é Público, como um espaço de todos e que, portanto, deve prevalecer sobre o que é individual; exploramos o trabalho alheio, sempre que podemos, demonstrando que ainda não nos livramos do nosso passado escravocrata; criticamos as benesses dadas aos políticos, mas sempre que podemos, também tentamos nos beneficiar das tetas estatais, fraudando impostos, fraudando o seguro desemprego, fraudando a Previdência Social; somos improdutivos, pois um trabalhador brasileiro produz menos de 25% que um trabalhador americano; nossos professores não ensinam e nossos alunos não estudam…
Temos muito que evoluir, mas, o que se vê, é a reprodução de todas essas mazelas dentro de nossas casas, na educação que damos aos nossos filhos, onde mantemos o sexismo, o despreparo para lidar com as diferenças, não premiamos os esforços nem punimos adequadamente os pequenos desvios, que no futuro, serão grandes. Alguns pais sentem pena de seus filhos quando há muitas tarefas escolares a fazer… Alguns pais não impedem seus filhos de se apropriarem daquilo que não é deles, sob a justificativa de que se trata de crianças e que não entendem o que fazem… De fato, não entendem, mas quando não são adequadamente educados, no futuro acharão normal tomar do outro o que não é deles… Temos de lutar pela Igualdade de oportunidade para todos, mas temos de entender que cada um é responsável pelo seu sucesso, e que as conquistas devem ser obtidas pelo mérito e pelo esforço individual.
Está ruim pra todo mundo. Mas, não se preocupe, a tendência é piorar. A não ser que passemos a perceber que a Educação é a única possibilidade de mudar o homem, de mudar a sua casa, de mudar o seu país. Enquanto isso, diminuamos a cara feia para cada crítica, para cada desgoverno, para cada político corrupto. Se as coisas permanecem assim como estão é porque prevalece, como certa, a frase do Conde Francês Joseph-Marie de Maistre: “Toute nation a le gouvernement qu’elle mérite” (Toda nação tem o governo que merece).
* Eugênio Maria Gomes é escritor, professor e pró-reitor de Administração da Unec. Grande Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG. Membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni, do MAC, do Lions Itaúna e da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga.