Ildecir A. Lessa
Advogado
A palavra “escola” vem do grego scholé, que significa, “lugar do ócio”. Isso porque as pessoas iam à escola em seu tempo livre, para refletir. Na Grécia, as escolas eram levadas adiante pelos discípulos do filósofo-fundador e cada uma valorizava uma área do conhecimento. Na Grécia antiga as crianças eram educadas, mas de modo informal, sem divisão em séries nem salas de aula Em 387 a.C., o filósofo grego Platão criou uma escola onde se estudavam disciplinas de filosofia e matemática.
O protótipo escolar ficava nos jardins de Academos, em Atenas – daí vem o termo “academia”. Em famílias mais ricas, era comum pagar-se um preceptor, um mestre com mais conhecimentos que guiasse as crianças nos estudos. Em 343 a.C. Aristóteles, por exemplo, tornou-se preceptor de Alexandre, o Grande, rei da Macedônia. No Séc. 4 a.C., surgiram as primeiras “escolas”. Eram locais onde mestres ensinavam gramática, excelência física, música, poesia, eloquência, mas não existiam salas de aula no sentido atual. Já na Europa medieval o conhecimento ficava restrito aos membros da Igreja e a poucos nobres adultos. No Séc. 12, surgem na Europa as primeiras escolas nos moldes das atuais, com crianças nas carteiras e professores em salas de aula. As instituições católicas, ensinavam a ler, escrever, contar e, junto, iam transmitindo as lições do catecismo.
Assim, na linha do tempo as escolas foram se desenvolvendo, tornando centros de ensino. No Século XXI, Os Estados Unidos em 2017, buscavam explicações para o ataque a tiros em uma escola na Flórida que deixou 17 mortos. Mais um massacre em um centro educacional que comoveu o país. As cifras de tiroteios em escolas americanas são alarmantes. Especialistas dos Estados Unidos têm uma longa lista de massacres e incidentes com armas de fogo em escolas. Columbine, no Colorado, ou a Politécnica, da Virgínia, são alguns dos exemplos mais conhecidos e dramáticos com grande número de mortos.
Aqui no Brasil, em outubro do ano passado, dois alunos acabaram mortos em um colégio de Goiânia (GO), por um jovem motivado por bullying. Teve ainda o caso do atirador que matou 12 crianças, na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro. De lembrança trágica ainda, o desatino de Janaúba, no Norte de Minas Gerais, onde oito crianças e uma professora morreram após um segurança colocar fogo em uma creche. E ainda no Brasil, nesta manhã de quarta-feira (13), atiradores invadiram uma escola estadual de Suzano, na Grande São Paulo, deixando um saldo de 10 mortes e 17 feridos. Destas vítimas, ao menos cinco são alunos. Dois rapazes encapuzados atiraram contra os estudantes e, em seguida, se mataram na escola Raul Brasil, na região central da cidade. Dois funcionários da escola também foram atingidos pelos disparos e morreram.
Simplesmente, dois rapazes entraram atirando em outros meninos e meninas. O que chama a atenção é o preparo. Eles tinham diversas armas, diversos planos. Não foi num rompante de raiva, num ato de loucura nem no descontrole que essa matança se organizou. Esses rapazes se prepararam durante um tempo considerável. Conversaram várias vezes sobre o planejamento. Conseguiram as armas. E um plano detalhado até chegar a essa barbárie e ninguém percebeu que ele estava sendo tramado nem conseguiu impedir. O momento é ainda de consternação nacional. Depois, virão as infindáveis discussões sobre porte de armas, bullying, segurança nas escolas, policiamento, que tipo de limite dar aos filhos. Tudo isso preenche o tempo e é menos doloroso que a pancada da realidade. Muita gente enfrenta a dor fingindo que ela não existe e essa é a melhor forma de sofrer de novo.
A falta de valorização da vida é uma tônica no dia-a-dia e nos discursos da nossa sociedade. Para alguns, há vidas que valem e outras que não valem. Para outros, como esses rapazes que atiraram, nenhuma vida vale, nem a deles próprios. Quantas coisas são mais importantes que a vida na cabeça de um adolescente que entra atirando numa escola e depois se mata? E a vida também não vale nada para quem falsifica relatório de risco de barragem, coloca meninos para dormir em contêineres, atenta contra a vida de quem tem ideologia diferente. Se a ganância, a soberba, a arrogância, a vaidade e a sensação de poder são mais valiosas que a vida, ela está sempre em risco. Mas o momento mesmo, não é de pensar na escola do ócio e da tragédia, mas de compartilhar com as famílias enlutadas essa dor lancinante.