“A moral consiste em fazer prevalecer os instintos simpáticos sobre os impulsos egoístas”, Auguste Comte
Em meio a tantas manchetes que exemplificam do que a natureza do ser humano é capaz, uma matéria publicada na Revista Galileu não pode passar desapercebida. Essa semana tivemos uma boa notícia para ser lembrada: Cientistas explicam a ciência por trás da bondade e do comportamento altruísta. De acordo com a maior parte dos estudos científicos, a maioria das pessoas são naturalmente gentis e solidarias.
Ao longo dos anos, estudo após estudo concluiu que o altruísmo é intuitivo ao ser humano e que quando as pessoas são pressionadas a tomar decisões e fazer julgamentos, elas geralmente escolhem para ser opções generosas em vez de egoístas. Pensar e analisar demais, por outro lado, é o que tende a levar a um comportamento egocêntrico. Portanto ao contrário do que muitos pensam, a gentileza não é exatamente uma escolha e sim um instinto natural do ser humano. É o que indicam diversas pesquisas científicas feitas sobre o assunto até o momento. Ainda segundo as pesquisas, as pessoas aprendem a ser egoístas e escolhem ser assim em determinadas situações após pensar e decidir em benefício próprio.
Um dos principais exemplos de estudos é um experimento realizado em 2012 por professores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Com o objetivo de descobrir se a natureza humana é egoísta ou gentil, os pesquisadores recrutaram universitários e os dividiram em grupos de quatro. Cada estudante recebeu uma quantia de dinheiro e teve a opção de separar um pouco do valor para ser multiplicado e distribuído entre o restante dos participantes. Os participantes ganhariam algo no final do experimento mesmo sem optar por compartilhar o dinheiro com alguém, mas apesar da tentação de ser egoísta, a maioria das pessoas escolheu por contribuir com o restante. Apesar da tentação de ser egoísta, a maioria das pessoas mostrou desprendimento. E cada vez que um participante optava por dar algum dinheiro para os demais, mais chances dos outros também optarem pela distribuição. Poucos optaram por ficar com o montante apenas para eles e para fazer tal escolha todos apresentaram diversos raciocínios. Os pesquisadores sugerem ainda que o egoísmo aparece quando as pessoas param para pensar antes de tomar uma atitude. Ou seja, a gentileza faz parte do instinto, o egoísmo é uma escolha.
A gentileza vai além: um estudo realizado por psicólogos da Universidade Yale, em 2014 nos Estados Unidos, afirma que o primeiro instinto das pessoas é de cuidar e de salvar os outros. Os pesquisadores entrevistaram várias pessoas que tinham se arriscado por desconhecidos e se colocado em situações de risco. A maioria dos 51 entrevistados disseram que haviam agido sem pensar. Mais e mais, estes heróis diários disseram aos entrevistadores que tinha agido por puro instinto. Kermit Kubitz, por exemplo, era um homem de 60 anos que lutou com outro homem que havia esfaqueado uma menina de 15 anos de idade em uma padaria. “Eu só tinha dois pensamentos: Um, eu tenho que levá-lo para fora da porta da padaria e dois, Oh meu Deus, esse cara poderia me matar, também”, disse Kubitz que acabou sendo esfaqueado também. “Eu acho que foi apenas instinto. Mais ou menos como a minha tendência. Acredito que ninguém ao meu redor vai ser atacado sem me fazer reagir alguma coisa. Se fosse minha filha, você faria isso por mim. Você faria isso em um instante. E eu faria isso por você” dizia Kubitz.
“A maioria das pessoas acredita que somos instintivamente egoístas, mas nossos experimentos mostram que quando as pessoas dependem de seus instintos, elas são mais cooperativas”, explicou o psicólogo David Rand, de Yale. Seus experimentos de laboratório mostram que fazer as pessoas confiarem mais na sua intuição acaba por aumentar a cooperação. Segundo o psicólogo, o cérebro tem dois modos de funcionamento que poderiam ser chamados de “reflexo rápido” e “pensamento lento”. Enquanto este último é consciente, analítico e lógico, o anterior é uma espécie de piloto automático, construído através do hábito e que vem instantaneamente.
Esses estudos explicariam por que em toda tragédia surgem heróis anônimos. Entretanto, a mídia dá tão pouco espaço para esse tipo de notícia que ficamos acumulando manchetes sobre o extremo egoísmo de algumas pessoas e acabamos por acreditar que o ser humano seria fundamentalmente egoísta. Mas não. Ainda temos uma chance. E você que está lendo esse texto compartilhe essa informação com pelo menos mais duas pessoas. Vamos criar uma corrente do bem. Topam?
Luciana Azevedo Damasceno – Neuropisicóloga e Terapeuta Cognitivo-Comportamental formada pela PUC Rio. Elogios, dúvidas e sugestões: [email protected]