A vida das pessoas é cheia de possibilidades e condições para construir comunitariamente os ambientes. Onde está o indivíduo e o exercício de sua missão, ali existe uma riqueza capaz de fazer o bem ou o mal. Ninguém é tão carente que não possa contribuir e nem tão farto que não necessite de receber. Todas as pessoas, ao nascer, já trazem naturalmente consigo dons e talentos.
A sociedade atual apresenta muitas coisas bonitas e grandes facilidades. Mas está também infestada de atos violentos e o exercício da maldade. Com o uso dos dons e dos talentos, muitos grupos com atos irresponsáveis se unem para maquinar atitudes destruidoras. Isto é sinal de que, por trás dos dons e talentos está a força da razão transformando os efeitos danosos em crime contra a vida.
Não ajuda deixar que a vida seja transformada, dominada e absorvida pela força do mal e da violência. Aquilo que deveria ser uma benção transforma-se em afronta ao dom da solidariedade e da justiça. O profeta Habacuc diz, com propriedade: “mas o justo viverá pela sua fidelidade” (Hb 2,4). Sinal de que a fidelidade deve ser relacionada com os dons e os talentos que trazemos da criação.
O mundo está contagiado por dificuldades e contradições, mas nos momentos mais difíceis dos limites humanos, Deus passa a ser o alvo de segurança. Acontece, automaticamente, uma expressão natural de fé, que vem do fundo do “coração” das pessoas, realidade que é transmitida de geração a geração. Isto nos leva a dizer que a fé é dom de Deus, presente também na vida dos céticos.
O exercício dos dons e dos talentos reforça e dá coragem para a pessoa vivenciar sua fé no Senhor. Com isto todo tipo de trabalho a realizar passa a ser feito num clima de maior confiança nas bênçãos de Deus. Mesmo percebendo o declínio de sentimento real da presença de Deus na cultura moderna, é possível ser diferente e mais comprometido com as exigências do testemunho cristão.
A omissão é um gesto de traição aos dons e talentos que acompanham cada pessoa. É deixar de contribuir para com o bem comunitário. O Evangelho diz: “Somos simples servos e fizemos o que devíamos fazer” (Lc 17,10), até para dizer que nenhuma pessoa é membro inútil, mesmo com uma fé do tamanho de uma semente de mostarda (cf. Lc 17,6). Fazer o bem faz bem para todos.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.